Indústria da moda descarta 2,1 bilhões de toneladas anuais de resíduos. Veja o Atacama Fashion Week

Nesta semana, mostrei aqui a oferta de curso de Upcycling & Costura para mulheres de dois municípios pernambucanos, Riacho das Almas e Paulista. Destaquei a importância da iniciativa pois como sabemos, os resíduos da indústria têxtil e de confecções se transformaram para a terra em problema tão grave quanto a presença de plásticos nos oceanos. Por ano, a indústria da moda gera cerca de 2,1 bilhões de toneladas de resíduos, segundo aponta o estudo “Pulse of the fashion industry”, publicado pelo Boston Consulting Group (BCG). Um exemplo “caboclo” dessa poluição pode ser observado no Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco, onde a caatinga está cheia de resíduos e até os rios estão contaminados. No mundo, um dos lixões de roupas fica no Deserto de Atacama, no Chile.

Então gostaria de lembrar de um assunto que ganhou espaço nos meios de comunicação que se dedicam ao mundo fashion: o desfile ecológico a partir de looks com roupas despejadas no Deserto do Atacama. Calcula-se que a montanha desse tipo de resídio chegue lá a 60 mil toneladas anuais de peças descartadas. E foi justamente nesse cenário que ocorreu o  Atacama Fashion Week, por iniciativa da ONG Desierto Vestido. A ação tem objetivo certo e oportuno: estimular o consumo consciente, alertar a sociedade em torno da problemática do descarte incorreto de roupas,  além de ressaltar a importância da moda circular nos dias de hoje. Junto com a inusitada passarela, o projeto ganhou um editorial fotográfico assinado por Mauricio Nahas, profissional premiado, com mais de 30 anos de carreira. O movimento também conta com as participações da ONG Fashion Revolution, do Instituto Febre, da produtora SugarCane e a agência Artplan, que assinou toda a concepção criativa.

Atacama Fashion Week faz desfile com looks a partir de roupas descartadas no Deserto de Atacama

Todas as roupas usadas pelos modelos foram recolhidas naquele famoso lixão do Chile: sapatos, casacos,vestidos, camisetas e outros trajes. Eles formam uma montanha tão grande que, segundo as ongs pode ser vista do espaço, a partir de imagens reveladas via satélite. No mundo da moda, esse problema já é conhecido, mas nada de muito efetivo é feito pelos principais envolvidos. Por isso, a iniciativa traz o que o universo fashionista sempre presta muita atenção: um evento ao estilo das principais semanas de moda que acontecem em Paris, Milão, São Paulo e Londres. O desfile está disponível no site oficial da ação Atacama Fashion Week, com comentários de influenciadores de moda, comportamento e sustentabilidade. Esse mesmo ambiente hospedará dados importantes e atualizados sobre a causa, bem como caminhos para a população em geral colaborar. Os conteúdos trazem códigos do mundo fashion como forma de chamar a atenção de diversos setores da sociedade. A campanha marcará presença na América do Sul, EUA e Europa. Afirma Ángela Astudillo, porta-voz e co-fundadora da Desierto Vestido:

“Estamos aqui todos os dias do ano, nessa luta difícil. E, dia após dia, vemos o problema se agravar. Precisávamos promover algo grandioso pra chamar a atenção de todos os agentes do problema para discutirmos uma solução. O Atacama não pode mais esperar. Ao mesmo tempo que podemos ver uma foto no espaço, o cemitério de roupas é uma problemática ainda muito silenciosa. São lotes de peças de baixa qualidade ou danificadas, herdadas do mercado ‘fast fashion’ dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia. A maioria das peças leva até 200 anos para se desintegrar. A emergência é climática, também.”

Para evitar o aumento de 1,5ºC e o agravamento da crise climática, o setor da moda terá que reduzir suas emissões pela metade até 2030, de acordo com informações publicadas no site do Instituto Febre, organização voltada à justiça climática para as mulheres da moda e apoiadora do projeto. E o que tem o lixão a ver com isso? É que há um problema recorrente no Deserto do Atacama: queimas clandestinas são realizadas nos montantes de roupas, que eventualmente também são enterradas no local. É, portanto, mais que necessária uma mudança sistêmica na indústria da moda.  E como cidadãos, todos temos um papel a desempenhar, inclusive consumindo menos e de forma consciente.  “Das marcas, queremos a responsabilização e compromissos robustos.

Dos governos, a missão é reivindicar políticas públicas e fiscalizações. Com a sociedade civil, o nosso papel é disseminar informações e impulsionar ações de mobilização”, destaca Fernanda Simon, diretora executiva do Fashion Revolution Brasil – organização brasileira do maior movimento ativista da moda no mundo. “Mesmo com todos os seus impactos, o setor da moda não é incluído com sua devida responsabilidade na agenda política quando se trata de abordar a crise climática”, completa Eloisa Artuso, confundadora do Instituto Febre, organização social que trabalha com justiça socioambiental na intersecção entre clima, gênero e moda.

Confira as imagens do desfile, já disponiveis no YouTube

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Maurício Nahas/ Atcama Fashion Week / Divulgação

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