Muita coisa que sabemos, hoje, sobre Pernambuco, devemos a F.A.Pereira da Costa (1851-1923), autor – entre outras obras – de livros imperdíveis como “Vocabulário Pernambucano”, “Folk-lore Pernambucano”, “Arredores do Recife, “Dicionário de Pernambucanos Célebres”. Na terça-feira (19/11), o público vai poder conferir ou enriquecer ainda mais o conhecimento sobre a história do nosso estado, com o lançamento do livro “Tempos de Jornal – Reminiscências Histórico-Pernambucanas”, que ocorre das 19h às 22h na sede da Academia Pernambucana de Letras (APL), no bairro das Graças, Zona Norte do Recife. A iniciativa é da Cepe (Companhia Editora de Pernambuco).
Organizado por Bruno Almeida de Melo (foto acima) e Leonardo Dantas Silva (1945-2023), a obra traz 36 textos publicados Pereira da Costa no Diario de Pernambuco, nas duas primeiras décadas do século passado, que que incluem informações muito preciosas. E que, com certeza, interessarão não só a pesquisadores como a estudantes, curiosos, público em geral. Algumas delas: No artigo “Sociedades Secretas” (página 351), ele relata atividades de associações secretas e políticas do século 19, como a Sociedade Patriótica Harmonizadora, que destinou recursos para pagamento de pensão a viúvas, pais e filhos menores dos mártires da Revolução de 1817 e da Confederação do Equador, de 1824. Entre os beneficiados, três filhos de frei Caneca (Ana, Fortunato e Joaquim), um filho do padre José Inácio Roma, o pai adotivo da filha do padre Tenório e a viúva do capitão Domingos Teotônio Jorge, entre outros.
No artigo “Nichos” (página 31), o pesquisador relata a atuação da polícia para conter “abusos” e “irreverências” de populares nas orações que eram feitas diante de pequenos santuários nas fachadas de residências, no Centro do Recife. Há textos sobre os arcos nas cabeceiras da atual Ponte Maurício de Nassau, que liga o Bairro do Recife ao de Santo Antônio, demolidos para obras de melhorias no trânsito; o farol construído nos arrecifes do porto; os meios de transporte público; e os pelourinhos do Recife, Olinda, Itamaracá, Goiana, Paudalho e Garanhuns.
Em “Reino Encantado de Dom Sebastião” (página 421), Pereira da Costa descreve – em detalhes – o surgimento e consequências do sebastianismo, em Pernambuco, no século 19, não menos de 258 anos após Dom Sebastião ter desaparecido (em 1578) na Batalha de Alcácer-Quibir. Ele mostra a sobrevivência da lenda segundo a qual o rei um dia voltaria, os impostores que dela se aproveitaram e o fanatismo que terminou com dezenas de crianças, adultos e animais mortos, acreditando que o sacrifício faria ressurgir o rei que se encantara (no episódio que mais tarde inspiraria o escritor Ariano Suassuna a escrever “A Pedra do Reino”). Autor de obras indispensáveis para quem procura informações sobre a história e a cultura do Estado, Pereira da Costa deixou uma vasta bibliografia, entre livros e artigos. O mais conhecido, Anais Pernambucanos, cobre o período de 1493 a 1850, numa narrativa de mais de cinco mil páginas organizadas em dez volumes.
A produção de Pereira da Costa foi tão extensa, que dele dizia Gilberto Freyre (19001987): “Pereira da Costa escreveu tanto que sua obra parece ter sido de uma legião inteira de autores e não de um indivíduo, além de único, desajudado e só. O encontro de documentos preciosos constituiu, para ele, alegria de triunfos quase instintivos”. Aníbal Fernandes (1894-1962) afirmava que o pernambucano escreveu sobre uma “imensa variedade de temas”. E enumerava: “história, aspectos sociais, urbanismo, botânica, política, religião, cultura, folclore e até mesmo temas militares”.
“O aspecto mais importante da publicação desta obra é corroborar, mais uma vez, a relevância de Pereira da Costa como o maior cronista da história de Pernambuco. Passados quase 101 anos de seu falecimento (21 de novembro de 1923), ainda temos o privilégio de publicar de maneira inédita alguns de seus escritos, e temos a oportunidade de ver, novamente, a sua capacidade de abordar assuntos tão distintos, dando a cada um deles a sua devida seriedade”, declara o historiador Bruno Almeida de Melo, que fez a organização do livro com o historiador Leonardo Dantas Silva, falecido há um ano, em novembro de 2023.
Historiador, folclorista e escritor, Francisco Augusto Pereira da Costa nasceu no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife, em 16 de dezembro de 1851. Começou a colaborar com o Diario de Pernambuco aos 21 anos, formou-se em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco e foi professor no Ginásio Pernambucano e no Liceu de Artes e Ofícios, além de ocupar o cargo de deputado estadual por oito mandatos (1900-1923). Participou da fundação da Academia Pernambucana de Letras e foi integrante do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano e dos Institutos Histórico e Geográfico de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba e São Paulo.
“Pereira da Costa fazia questão de divulgar seus textos, fosse em forma de livros ou artigos publicados na Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, ou nos jornais do Recife e de outros estados. O público alcançado era o mais diversificado possível, desde estudiosos a apenas interessados em História, e acredito que ainda seja assim até hoje. Espero que este livro desperte interesse nos mais variados públicos em conhecer mais a história de Pernambuco e a figura extraordinária que foi Pereira da Costa”, destaca Bruno, que também organizou o título Os bispos de Olinda (1676-1910), lançado pela Cepe Editora em 2023, com outra série de artigos do mesmo autor.
Nos links abaixo, você confere mais informações sobre fatos e livros sobre nossa história e seus personagens.
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Serviço
O que: Lançamento de Tempos de Jornal – Reminiscências histórico-pernambucanas, com bate-papo entre Bruno Almeida, Mariana Dantas (filha de Leonardo Dantas) e Mário Hélio, editor das revistas Continente e Pernambuco da Cepe
Quando: 19/11 (terça-feira)
Hora: 19h às 22h
Onde: Academia Pernambucana de Letras (Avenida Rui Barbosa, 1596, Graças, Recife)
Preço: R$ 80 (impresso)
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Conrado / Cepe / Divulgação
Letícia, mais uma vez obrigado pelo generoso espaço! Um abraço.
Disponha,Bruno. Sou fã de Pereira da Costa e, muitas vezes, utilizo seus livros como fonte de consulta. Indispensáveis. Agora estamos mais ricos. Gostei dos detalhes do sebastianismo e as sociedades secretas e filhos de padres revolucionários….
Leticia, Bruno vem de uma Família que respeito e tenho carinho, são meus vizinhos aqui nas Graças. Um jovem que ainda conheci no começo de sua vida profissional, inteligente e culto, coisa rara nos jovens nesse vazio das telas frias e nos tempos da preguiça de ler. Ele sempre está lendo e pesquisando, arguto e sensível e o Parabenizo sempre, e, na semana passada falei por zap com sua Mãe Eliane e a parabenizei pelo Filho e Homem que ela tão bem soube educar e colocar neste mundo. A Pernambucanidade é tão intensa que Pereira da Costa a tornou Universal, como um músico que tem várias músicas e as tocam nos momentos especiais. São momentos bons que temos de colher diante desse trabalho grandioso de Bruno e do saudoso Leonardo Dantas, que faz uma falta enorme em nossa História, em nossa Cultura.