O espetáculo Senhora de Engenho Entre a Cruz e a Torá, completa uma década de encenações, já tendo rodado por palcos de diversas cidades de Pernambuco, do Nordeste e do Sudeste. Chegou até a apresentar-se em festival no exterior, no caso o Chile. A peça conta a saga de uma figura lendária, presente não só nos livros de história mas também no imaginário coletivo: Branca Dias. Ao longo desses anos todos, as apresentações registram acolhimento da crítica e do público, sempre com casa cheia. Portanto, esses dez anos de sucesso não poderiam mesmo passar em branco.
Entre esses dias 02 e 03 de setembro, o espetáculo volta a ser apresentado no Casarão de Maria Anita Amazonas Mac Dowell, aquela famosa edificação cor de rosa que fica logo na entrada do município de Camaragibe, que é vizinho ao Recife. E em cujas terras funcionava o engenho de Diogo Fernandes, cristão novo e marido de Branca Dias, que viajara antes para o Brasil. Depois, ela foge da Inquisição de Portugal, chegando com a prole à Capitania de Pernambuco, em 1554. Aqui encontra uma situação bem diferente da que sonhara: um engenho inóspito, em meio a uma população de hábitos rudimentares e sujeito até a ataques dos índios.
Além do empenho para manter o engenho, Branca Dias ainda enfrenta uma crise conjugal, ao encontrar o marido com uma outra mulher e filha, o que não lhe retira o ânimo de lutar para reestruturar o patrimônio da família. O casal tenta, então, viver uma nova vida, inclusive professando a própria fé. Porém, a dupla se vê na necessidade de driblar a Igreja Católica, para livrar-se da perseguição aos judeus. Consta que o famoso Açude do Prata, que fica no interior do Parque Estadual de Dois Irmãos, teria esse nome porque ao ser descoberta no Brasil pela Inquisição, Branca teria nele atirado suas pratarias, para não deixá-las em mãos dos perseguidores do Santo Ofício. Seu nome também está ligado a assombrações, pois há quem diga – em Camaragibe – que ela é vista à noite, nas imediações do casarão onde a peça será encenada sábado e domingo.
Consta, também que ao ver o engenho da família quase falido, Branca funda um colégio particular, para se capitalizar e transformar em produtivas as suas terras. Torna-se, assim, a primeira mestre escola para meninas e também a primeira mulher a administrar sozinha um engenho em Pernambuco, o que fez após a morte do marido. Para fundar a escola, contou com a ajuda de um grande amigo, o poeta Bento Teixeira, que era judeu, mestre escola e autor da Prosopopeia, o primeiro poema épico escrito em Pernambuco. Os dois se tornaram grandes amigos e há até quem faça insinuações de que haveria mais do que amizade entre os dois. Bento não era feliz no matrimônio, pois sua esposa o traía com vizinhos e até padre há no seu rol de amantes.
Já assisti várias vezes “Entre a cruz e a torá” e recomendo. Primeiro, porque a história de Branca Dias é muito rica não é totalmente conhecida por todos nós. Segundo, porque Emanuel David D´Lucard, responsável pela direção dá show, lançando mão de muita criatividade na montagem, o que encanta a todos apesar da simplicidade de cenário e indumentária. Ele responde, ainda, pela programação visual, trilha sonora e execução de luz. Confesso que a apresentação que gostei mais foi justamente no casarão, pois há todo um clima e ambientação natural para enriquecer ainda mais o espetáculo. Vale a pena conferir! A realização é da Companhia Popular de Teatro de Camaragibe, Juvino Agner e Patricia Assunção, com texto Miriam Halfim. E consultoria de Tânia Kaufman e Suzana Veiga (sendo esta especialista em Branca Dias). A direção, Programação Visual, Trilha Sonora e Execução de Luz: Emanuel David D’ Lucard Assistente de Direção e Execução de Som. O elenco é formado por Cláudia Alves, Dul Santos, Euclides Farias, Francis de Souza, Geraldo Cosmo, Jaque Silva, Lom Paz, Nanda Andrade, Patricia Assunção, Pedro Dias,Wanderson Oliveira e Willam Gomes.
Abaixo, você confere mais informações sobre Branca Dias e sobre as lendas que falam a seu respeito. E veja, também, como está abandonado o Chalé do Prata, que fica ao lado do Açude onde a judia teria jogado sua prataria para não deixá-la para os inquisidores.
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Serviço
Peça:Senhora de Engenho Entre a Cruz e a Torá
Local: Casarão de Maria Anita Amazonas Mac Dowell, mais conhecido como o Casarão de Maria Amazonas, AV: Belmiro Corrêa, S/N, Centro, Camaragibe
Datas: 02 e 03 de setembro, sexta-feira e sábado
Horário: 19h
Censura: Livre
Duração; 80 minutos
Ingressos: Inteira:R$: 30.00 e Meia: R$:15.00
Informações: Telefone/ Zap: 99536-4746
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação e Acervo #OxeRecife