Datado do século 17 e muito bem conservado, o Forte de São Tiago das Cinco Pontas é uma das mais importantes edificações entre as construídas no Recife, durante o período de ocupação da Companhia das Índias Ocidentais (1630-1634). Bem mais recente, no entanto, é o Museu da Cidade do Recife, que nele foi instalado há exatamente quatro décadas, ao longo das quais tem contribuído para que os pernambucanos, brasileiros e estrangeiros conheçam melhor o Recife, origem, história, dias atuais. O Museu é um espaço de memória da cidade, que nos leva não só aos tempos dos holandeses, mas também à evolução urbana que nos conduziu ao que somos hoje. Para quem contempla as imagens da cidade até a década de 1970, por exemplo, muita nostalgia há de sentir.
É só fazer algumas comparações, como a beleza da Avenida Guararapes (acima) daquela época com a decadência e a paisagem embrutecida pelos nossos gestores públicos dos dias de hoje. Regredindo-se um pouco no tempo – lá pelos anos 1940 – pode-se perceber, por exemplo como era linda e jardinada, a hoje quase inóspita Rua do Imperador, no Centro. Também é fácil observar grandes mudanças como agora tão verticalizada praia de Boa Viagem. Assim como presenciar cenas que em nada mudaram, como as crianças e adolescentes que ainda costumam mergulhar da ponte no Açude de Apipucos, embora o lago seja hoje totalmente poluído.
As imagens aqui citadas podem ser observadas não só no acervo da instituição, como também no livro Museu da Cidade do Recife – 40 anos em movimento, que será lançado na tarde do próximo sábado (17/12), nos jardins do Forte, no bairro de São José. A iniciativa da publicação é da Cepe – Companhia Editora de Pernambuco. Na mesma data, serão inauguradas duas exposições de longa duração. Uma é homônima ao livro. A outra traz gravuras sobre o Brasil do século 17 ao 19. A entrada é gratuita, e você pode aproveitar para fazer uma viagem invertida ao Recife, partindo do século 21 rumo ao 16. Bom para adultos, crianças, adolescentes.
Com 164 páginas, livro foi organizado por Betânia Corrêa de Araújo, Emerson Pontes, Mariana Dantas e Sandro Vasconcelos, é ilustrado com fotos, mapas, gravuras e postais do acervo do museu. E traz textos de historiadores, arquitetos, jornalistas e pesquisadores sobre a origem do museu e sua evolução ao longo de quatro décadas, a relação que ele mantém com a cidade, as ações realizadas para o público (exposições, oficinas, atividades de educação patrimonial) e a importância histórica do Forte das Cinco Pontas. Na leitura da obra, você vai descobrir, por exemplo, que no acervo iconográfico há mais de 200 mil imagens do Recife nos séculos 17, 19 e 20 até a década de 1980, além de 1.898 peças de cartografia do fim do século 19 e quase todo o século 20.
Já a mostra homônima ao livro convida o visitante a fazer um passeio pela história do Recife por meio do acervo do museu. E mais do que isso, a compreender as transformações da cidade sempre em movimento, e a refletir sobre o seu futuro. Estão expostas imagens de azulejos de diferentes épocas que fazem parte da coleção do museu. Também haverá a exibição de uma animação em vídeo, com a recomposição do prato que ilustra a capa do livro dos 40 anos do MCR. Curiosidade: Os fragmentos do prato foram encontrados na década de 1970, nas instalações do forte. realizando um trabalho conhecido como anastilose. E o prato terminou sendo escolhido pelas pessoas que participaram das discussões do livro e da exposição por representar, simbolicamente, um pouco da história do museu e do Recife. “A cidade é um conjunto de fragmentos que juntos formam uma unidade, assim como o MCR”, explica a diretora do museu e curadora da exposição, Betânia Corrêa de Araújo.
A segunda parte da exposição propõe uma viagem através dos séculos, iniciando pelo 16, quando o Recife era um povoado que abrigava o porto de Olinda, onde os navios europeus atracavam para buscar madeira e açúcar. Uma gravura, pouco conhecida e que ilustra em detalhes esse período, faz parte da mostra e teve seu tamanho ampliado para facilitar a imersão do visitante.
Ao chegar ao século 17, marcado pela ocupação holandesa no Nordeste brasileiro, o público encontrará uma animação produzida a partir de uma pintura de Frans Post, que retrata a construção da Cidade Maurícia. Post foi um dos artistas que integrou a comitiva do Conde Maurício de Nassau, e ao qual o Recife deve a memória da cidade no século 17. No século 18, com a cidade reconquistada pelos portugueses, a mostra destaca o projeto de edificação de igrejas no Recife. Ao passear pelo século 19, o visitante vai contemplar pinhas e azulejos que embelezavam a cidade à época, além de ilustrações do desenhista Luís Schlappriz, sobre o cotidiano urbano.
No século 20, por meio de fotografias, documentos e vídeo, a exposição ressalta três momentos de transformações no Recife: a reforma do Porto, a construção da Avenida Guararapes na década de 1930, e a construção da Dantas Barreto e demolição da Igreja dos Martírios nos anos 1970. Sobre o século 21, a mostra evidencia a Coleção Recife 500 Anos, elaborada pela Cepe, Prefeitura do Recife, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Observatório do Recife. Há, ainda, a exposição Coleção de Gravuras Roberto Cavalcanti . O advogado, economista e colecionador Roberto Cavalcanti (1939-2020) adquiriu ao longo de sua vida 44 gravuras que retratam o Brasil, produzidas em um período de cerca de 250 anos, do século 17 ao 19. A coleção, de autores e editores diversos, foi doada ao museu pela família Cavalcanti de Albuquerque. Pela primeira vez, as peças serão expostas ao público, numa mostra com 120 dias de duração. Em março de 2023, um álbum com as gravuras será lançado pela Cepe.
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SERVIÇO
O que: Lançamento do livro Museu da Cidade do Recife – 40 anos em movimento
E também Abertura das exposições Museu da Cidade do Recife – 40 anos em movimento e Coleção de Gravuras Roberto Cavalcanti
Quando: Sábado, 17 de dezembro
Horário: 17h
Onde: Museu da Cidade do Recife / Forte das Cinco Pontas (bairro de São José, Centro)
Funcionamento do museu: Quarta a sexta-feira, das 10h às 17h; sábados e domingos, das 10h às 16h
Quanto: Entrada gratuita
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Cepe / Museu da Cidade do Recife / Divulgação