Nesses tempos de negacionismo, desinformação, gabinete do ódio, fake news nos canais oficiais, desrespeito às instituições democráticas, atitudes pouco republicanas e às vésperas das eleição presidencial, chega em bom momento o livro “Um bufão no poder”. Trata-se de uma poderosa ferramenta para entender o contexto político e o momento histórico que levaram Jair Messias Bolsonaro ao maior cargo da Nação. Como um então inexpressivo deputado do chamado baixo clero chegou à Presidência do Brasil? A sua eleição foi um fato isolado ou se insere em um contexto político internacional? Bolsonaro é mito, messiânico, populista, demagogo ou um bufão?
São questões como estas, que os autores – Yvana Fechine e Paolo Demuru (foto abaixo) – tentam responder para explicar a ascensão de Bolsonaro ao poder, cuja coerência do discurso não resiste a uma análise mais profunda. E a julgar pelo título, pelas análises e pelo que está escrito, o homem não passa mesmo de um bufão. Para começar, como bem lembra Eric Landowski, que assina o prefácio do livro, o ex-capitão conseguiu se passar por um outsider na política, embora venha conquistando mandatos eletivos desde 1989, quando se elegeu vereador, posteriormente como deputado e, por fim, como Presidente, além de “emprestar capital eleitoral aos três filhos”. E, como ressalta , a partir daí já instaurou um paradoxo: “Como alguém que não é profissional, constrói esta identidade antipolítica?”.

No caso do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, a estratégia geral envolve a construção de uma “ligação pessoal” sustentada por “um modo de ser”, forjado pela maneira como ele se comunica e interage com seus seguidores por meio, sobretudo, dos seus perfis nas redes sociais. Partindo dessa premissa, os autores discutem o modo como Bolsonaro se constrói tanto como “homem comum” quanto como “messias”, explorando, entre outras coisas, sentimentos de pertencimento, proximidade, prontidão e presença. Publicado pela Confraria do Vento, o livro discorre ainda sobre o apelo ao conspiracionismo, ao caos e à desinformação como verdadeira “política de governo”, mesmo quando Brasil enfrentava a pandemia de Covid-19, maior crise sanitária de sua histórica.

As condições que levaram o ex-capitão à presidência da República do Brasil têm sido objeto de muitas análises nas mais diversas áreas do conhecimento. Em sua maioria, essas análises se debruçam sobre as condições externas que explicam a ascensão de lideranças populistas, como Bolsonaro, em meio ao recrudescimento de movimentos de extrema direita, alimentados por posições “antissistema”, que caracterizam os chamados bufões da política. Yvana Fechine e Paolo Demuru tratam desse fenômeno “por dentro”, buscando entender como esses líderes populistas conseguem manter a fidelidade dos seus eleitores em meio a medidas muitas vezes impopulares e aos comportamentos contraditórios com a posição de outsider que lhes são exigidos quando chegam ao Poder.

No livro, os autores esmiúçam temas como Bolsonaro bufão e seu populismo digital; como ele conseguiu construir um “espírito de corpo” e sua presença nas redes sociais. Também analisam a estratégia discursiva de homem comum de “gente como a gente”, através de gestos, da postura corpórea, indumentária (uso de moletom e chinelos em reunião de ministros) e até do comer (pão com leite condensado, frango com farofa). Mostram o aparato ideológico do populismo de extrema direita, com discurso conspirante. E analisam, ainda, como entre o messianismo e catastrofismo, ele conseguiu adesão de uma parcela da população à sua postura negacionista e à retórica da desinformação. Para Eric, os bufões são “trágicos no fundo, grotescos na superfície”. E cita alguns:
“Um Bolsonaro, um Trump, a dupla Salvini-Grillo, a dupla La Pen-Zammour, estão fadados a um mesmo destino mais dia menos dia, o partido da razão os derrotará”.
O livro discorre ainda sobre o apelo ao conspiracionismo, ao caos e à desinformação como verdadeira “política de governo”, mesmo quando Brasil enfrentava a pandemia de Covid-19, maior crise sanitária de sua histórica. “Um bufão no Poder” é composto por seis ensaios, sendo dois de cada um dos autores e outros dois em coautoria, com prefácio de Eric Landowski, um dos mais importantes nomes da sociossemiótica na Europa. Yvana Fechine é jornalista, professora do Departamento de Comunicação e do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Paulo Demuru é professor titular do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Midiática da Universidade Paulista (UNIP). Ambos são também pesquisadores associados ao Centro de Pesquisas Sociossemióticas abrigado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
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SERVIÇO
Livro: “Um Bufão no Poder”, de Yvana Fechine e Paolo Demuru
Número de páginas: 188
Editora Confraria do Vento (RJ)
Versão impressa (pré-venda): R$ 73,00
A partir de 25/08/2022
A versão impressa também está disponível para pré-venda no site da Confraria do Vento.
Mas e-book pode ser baixado gratuitamente, por tempo limitado em:
https://www.confrariadovento.com/editora/catalogo/item/321-um-bufao-no-poder-ensaios-sociossemioticos.html
Disponível para download gratuito (por tempo limitado):
https://www.confrariadovento.com/editora/catalogo/item/321-um-bufao-no-poder-ensaios-sociossemioticos.html
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Redes sociais e Divulgação/ “Um bufão no poder”