O Brasil é considerado um país laico. Mas nem sempre foi assim. Nos séculos passados, os bispos eram indicados em carta imperial e os nomes eram enviados ao Papa, para que os referendasse. “As terras do Brasil, em sua origem, estavam sujeitas à jurisdição eclesiástica da Ordem de Cristo, em virtude da carta régia de 7 de junho de 1454”. É o que lembra Francisco Augusto Pereira da Costa (1851-1923) no artigo “Instituição da Igreja Pernambucana”, que consta do livro “Os Bispos de Olinda – 1676-1910”, que será lançado no Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano, a partir das 9h dessa quarta-feira (20/12).
Organizado por Bruno Almeida de Melo (foto acima), a publicação conta, portanto, 234 anos de história da Igreja Católica em Pernambuco em duas situações diferentes, já que a Constituição de 1891 consolidou a separação entre Igreja e Estado, quando passou a ser vedado aos estados, como à União, estabelecer, subvencionar ou embaraçar o exercício de cultos religiosos. Editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) o volume traz artigos de Pereira da Costa sobre os primeiros 25 bispos nomeados para a antiga Diocese de Olinda, atualmente Arquidiocese de Olinda e Recife. Os artigos foram publicados na imprensa local. O lançamento do título marca o centenário da morte do escritor, historiador e folclorista, para o qual foi montada a exposição “Pereira da Costa Hoje”, organizada pelo próprio Arquivo Público,que fica na Rua Imperador Pedro II, no bairro de Santo Antônio.
O livro traz revelações históricas. Por exemplo, no artigo referente ao bispado de dom Manoel Álvares da Costa (1651-1733), o historiador mostra a estreita relação entre Estado e Igreja Católica. O bispo assumiu o governo da capitania de Pernambuco em 1710, ano em que o governador Sebastião de Castro Caldas Barbosa fugiu para a Bahia durante a Guerra dos Mascates (1710-1711). Outro artigo cita o conflito entre a Igreja e o Império. Ao biografar Dom Frei Vital Maria de Oliveira (1844-1878), o Pereira da Costa fala da prisão do prelado em 1874, ocasionada pelo conflito entre a igreja e a maçonaria. Tinha mais, seus sucessores também foram presos.
Há outras curiosidades. Como foi o caso de Dom João Duarte do Sacramento (1610-1686), “que foi apresentado por el-rei Dom Pedro II e confirmado pelo Papa Inocêncio XI em 1685” , mas não chegou a tomar posse porque “as bulas de sua confirmação” chegaram no dia do falecimento. Frei Francisco de Lima (1629-1704) abrigou o poeta Gregório de Mattos, em seus últimos dias e o reconciliou com a Igreja Católica, ao ponto de o “Boca do Inferno” receber os últimos sacramentos. Já Dom João da Purificação (19779-1864) “escolhia os párocos por concurso” e contribuiu para que a chamada Guerra dos Cabanos chegasse ao fim. Rejeitava condecorações e vendia joias que recebia para a caixa dos pobres. Era membro e principal protetor da Associação de Socorro Mútuos e Lenta Emancipação dos Cativos, a primeira associação antiescravista de Pernambuco (fundada em 1859).
O escritor, historiador e folclorista recifense Pereira da Costa tem mais de 50 obras editadas, abordando temas como a Confederação do Equador, a Ilha de Fernando de Noronha, o governo holandês e o teatro. A mais famosa de suas obras, os Anais Pernambucanos, foi publicada somente em 1951, quando haviam passados 28 anos da morte do historiador. Os Anais possuem 10 tomos, com mais de 5 mil páginas, sobre 357 anos da história de Pernambuco. “Toda a obra de Pereira da Costa é importante. Pode-se questionar os métodos e os critérios adotados por ele, mas não se pode negar a importância e a relevância do seu trabalho. Sobre Os bispos de Olinda, eu vejo como mais uma oportunidade para se ter uma ideia da amplitude dos assuntos que Pereira da Costa pesquisou”, afirma Bruno.
“À tarde, serviu-se um lauto jantar, e à noite uma banda de música foi tocar em frente ao seminário, em honra ao bispo de Olinda, iluminando-se de novo todas as igrejas da capital. Bem moço, porém, foi Dom Vital elevado à suprema dignidade episcopal, pois contava quando foi eleito, menos de 26 anos de idade (página 220, do livro “Os Bispos de Olinda – 1676-1910).
Abaixo, você confere outras publicações da Cepe, e também informações sobre a Igreja Católica
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SERVIÇO
Lançamento do livro Os bispos de Olinda, Bruno Almeida de Melo (organizador)
Quando: 20.12.2023 (quarta-feira)
Horário: 9h
Onde: Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (Apeje), Rua do Imperador Pedro II, 371, Santo Antônio, Recife
Preço: R$ 50,00
*Evento aberto ao público
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Leopoldo Conrado Nunes/ Divulgação / Cepe
Parabéns pelo texto. A parte sobre as curiosidades deu um sabor a mais.
A única ressalva é que não sou formado em História, portanto não sou historiador.
Abraços e boas festas.
Vou corrigir, Bruno.
Letícia, muito obrigado pela correção. Infelizmente só agora consegui ver.
Tenha um excelente 2024.