RS, entre as mudanças climáticas, a tragédia anunciada e a solidariedade

Ao longo de minha vida – primeiro como cidadã e, depois, como repórter – já presenciei muitas enchentes, inclusive a de 1975 no Recife, porém nunca tinha visto uma tão extensa e abrangente, como esta em Porto Alegre e que se espalha por quase todo o Rio Grande do Sul, onde 90 por cento dos municípios foram afetados pelas chuvas. Além dos rastros da destruição, as estatística indicavam 136 mortos e 141 desaparecidos na manhã de hoje. Os números, infelizmente, tendem a aumentar. Há, ainda, 411 mil pessoas fora de casa e 441 municípios atingidos.

Nesta semana, além das cenas de horror, três informações me chamaram a atenção. A primeira é que Porto Alegre tem um sistema muito eficiente de contenção de cheias que, está provado, não funcionou. Ou por falta de manutenção ou por insuficiência para conter as águas do dilúvio. A segunda é que a flexibilização de leis de controle ambiental pela atual gestão pode  ter contribuído para agravar os efeitos da catástofre. E a terceira é que as mudanças climáticas (que os negacionistas se recusam a reconhecer) tornaram as chuvas 15 por cento mais intensas no RS.

Essa, pelo menos, é a tese do Climameter, projeto de investigação financiado pela União Europeia e Centro Nacional de Investigações Científicas. Uma outra informação nesse sentido vem do climatologista Francisco Elizeu Aquino, Chefe do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele estuda a situação do RS há pelo menos três décadas, e afirma que as mudanças climáticas intensificaram os eventos extremos naquele estado. Ou seja, é daí para pior. Pois esse tipo de evento está cada vez mais frequente não só no Brasil, mas em todo mundo. Vocês já viram enchente no deserto de Dubai, com os camelos tão surpresos com as águas como os equinos e bovinos do Rio Grande do Sul? Pois aconteceu em 2024. Foi uma cena inédita e surreal.

Alunos de escola estadual, em Cumaru (PE) recolheram donativos para o Rio Grande do Sul

No caso do Brasil, graças a Deus, pelo menos, a solidariedade é grande e nesse momento não são poucos os cidadãos, entidades, órgãos oficiais, Ongs que se mobilizam para ajudar. Palmas para os nossos heróis de sempre, que são os bombeiros e as demais forças militares. Palmas para a mobilização de órgãos oficiais de todo o Brasil e, principalmente, do voluntariado. Vários estados, inclusive Pernambuco, enviaram ajuda com reforço para auxílio no trabalho de resgate. No Estado, até mesmo alunos de escolas oficiais de áreas distantes, como Cumaru – a 110 quilômetros do Recife – se mobilizaram para ajudar. Em dois dias, os alunos da Escola de Referência do Ensino Médio Manoel Gonçalves juntaram meia tonelada de doações para enviar às vítimas das enchentes. A exemplo do que aconteceu com a Covid-19, o #OxeRecife registra pessoas e empresas que dão exemplos:

  • A modelo Gisele Bundchen arrecadou US$ 230 mil para enviar ao Rio Grande do Sul.
  • A Ambev anuncia que está parando a produção de cerveja em Viamão (Grande Porto Alegre), para envazar água potável, 473 mil latas de 473 ml por dia. A empresa levou maquinários de São Paulo para a operação. Já levou mais de 1.120.000 litros de água à população e hospitais.
  • No Recife, Procon e Correios fizeram parceria para arrecadar doações. Também o Tribunal de Justiça de Pernambuco, o Ministério Público e shopping-centers. No Brasil, o Grupo Carrefour diz já ter doado 500 toneladas (o equivalente a 18 carretas) em água, alimentos, artigos de higiene. Também congelou os preços em lojas do grupo naquele estado (Carrefour, Atacadão, Sam’s Clube e Nacional, o que é bom. Pois nas enchentes, geralmente sempre há comerciantes inescrupulosos que aumentam os preços criminosamente. Já vi esse filme antes, inclusive na Mata Sul de Pernambuco, quando a água mineral ficou dez vezes mais cara.
  • Avião Solidário. A Latam faz transporte de doações de graça
  • O Grupo Heineker transformou a estação móvel Beer Station em distribuidor de água. Até a última quarta-feira, a quantidade distribuída passava de 300 mil litros. Também doou recursos à Visão Mundial que está conduzindo ações humanitárias no RS.
Grupo de Pernambuco está a caminho do Rio Grande do Sul, para ajudar no resgate de vítimas

É isso.  Não custa nada, vez por outra, registrar quem ajuda. Pode ser uma pessoa, uma escola ou uma grande empresa. Vamos ajudar?

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos:  Maurício Tonetto (Secom/RS), Erem Manoel Gonçalves e Genival Paparazzi

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