Vulnerável às mudanças climáticas, o Recife pode ficar assim. Se nada for feito

Compartilhe nas redes sociais…

A gente sabe que o Recife é uma cidade anfíbia.  E que, ao longo dos séculos, várias gerações assistiram a enchentes, ao transbordamento de rios, como se eles estivessem a pedir de volta o leito que foi aterrado, invadido, reduzido. Não é de hoje, também, que uma simples maré cheia pode provocar alagamento de várias ruas, até mesmo em dias de sol, quando a água do mar, rios e canais entram nas galerias pluviais e atingem o asfalto. Algumas vias até ficam intransitáveis. Neste inverno, é impressionante como a qualquer chuva, a cidade se inviabiliza. O problema, no entanto, é muito mais grave do que se imagina. Contemplem a foto acima. É assim que nossa cidade pode ficar no futuro se nada for feito.  Pois o Recife, como se sabe, é a 16ª cidade mais vulnerável às mudanças climáticas no mundo. E seria a primeira da América Latina a submergir.

A simulação acima consta  do livro  Recife Exchanges – Amsterdam, Holland, Netherlands, da Série Recife 500 anos, cujos quatro primeiros títulos foram lançados no mês passado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).  A publicação mostra que os esforços para evitar que o Recife se afogue têm que ser globais, e não apenas locais  no contexto das mudanças climáticas, quando a elevação do nível do mar coloca em risco a sobrevivência de cidades costeiras no Brasil e no mundo. A nossa, coitada, quase no mesmo nível do oceano, aí, já viu… “Amsterdam, Jacarta, Veneza, Maldivas, Nova York, Recife… são apenas algumas das cidades cuja existência é posta em xeque e que se encontram diante de um desafio comum, compartilhado”, afirma a publicação. Na foto abaixo, o bairro do Recife, como é hoje: Marco Zero

O Bairro do Recife, tal como é hoje, com a Torre de Cristal,o Marco Zero e o Paço Alfândega, no Cais da Alfândega.

Como vocês podem observar, na simulação, a nossa cidade perderia parte do Marco Zero, o Parque de Esculturas Francisco Brennand, a Igreja da Madre de Deus, o Paço Alfândega.  As pontes ficariam submersas. Meu Deus…Todos seriam inundados, com base em projeções matemáticas. A situação do Recife naquele preocupante ranking foi acusada pelo Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que mostra a gravidade das consequências do aquecimento global, e como a cidade pode ficar com o aumento de um a três graus de temperatura. Há outras capitais também ameaçadas, como São Luís, Fortaleza, Salvador (no Nordeste) e Porto Alegre (no Sul). Porém é no Recife onde a situação é mais grave. Vejam só o que diz esse trecho da Carta do Recife do Futuro para o Recife, resultante de encontro (Recife Exchanges, 2021) com especialistas, que discutiu o destino de nossa urbe. No documento, o Recife não é objeto, mas transformado em sujeito. E é a cidade que fala:

“Esquecer as águas que me originaram trouxe grandes problemas. Eu seria a primeira cidade brasileira a sucumbir com o aumento do nível do mar, caso mudanças substanciais na forma de me compreender e, consequentemente, replanejar, reconstruire reprojetar não acontecessem. Eu, o Recife, era a 16ª  cidade mais vulnerável do Planeta, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC / ONU), em 2014.

Tudo isso, claro, consequência a ação do homem, da nossa insubordinação à natureza, à destruição da vegetação, ao estrangulamento de nossos rios, diante de crescimento desorganizado e do caos urbano. Todos, claro, devemos fazer a nossa parte, respeitando a natureza, cultivando o verde, não poluindo e reaproveitando as águas, preservando as matas ciliares, contribuindo para reduzir as emissões de CO2, utilizando créditos de carbono para ações que neutralizem os efeitos do aquecimento. Porém, do jeito que a situação está, se fizermos tudo isso, estaremos contribuindo para melhorar o conforto térmico da cidade. Mas muito mais é necessário. Até porque problema, no entanto, é bem maior, e pode se tornar insustentável, sem politicas globais que neutralizem os efeitos do aquecimento do Planeta. Aí, iremos, sim, sucumbir. Não só o Recife, mas outras cidades brasileiras e estrangeiras, como Amsterdam. Mas nossas autoridades e a população estão longe de cuidar da natureza na nossa cidade como os holandeses. É só comparar as ruas e os rios e canais de Amsterdam com os do Recife.  Não é?

Leia também
Recife 500 anos. E Amsterdam?
Coleção Recife 500 anos começa a ser lançada
Vamos salvar o centro do Recife?
Cadê o Parque Capibaribe? O rio merece respeito
Parque Capibaribe ganha 300 mil euros
Parque Capibaribe avança
Parque das Graças tem primeira etapa concluída. Parque Capibaribe avança
Livro mostra que São José “tem mais permanência do que descaracterização”
Você está feliz com o Recife?
O índice de felicidade urbana do Recife
Viva 2018, Recife
O Recife que queremos, em 2019
Aos 483, o Recife é lindo?
Recife se prepara para os 500 anos
Uma cidade boa para todo mundo 
Recife: Cidade parque em 2037?
Discutindo o Recife a 5 km por hora
Urbanismo e patrimônio cultural em discussão no Recife
CurioCidades: o Recife cultural e afetivo por 40 fotógrafos
O Recife pelas lentes de Fred Jordão
O Recife que vê e o que se esconde
Nota dez para o Recife que te quero ver
O Recife virado que te quero ver
O Parque das Graças vem aí
Parem de derrubar árvores. Arboricídio em massa no Parque das Graças
Depois do arboricídio, compensação ambiental no Parque das Graças

O Recife pelas lentes de Fred Jordão
A Voz do eleitor: Mobilidade, controle urbano, história preservada, cidade parque
Lixo oficial à margem do Capibaribe, cidade entregue e prefeito impopular 
Metralhas à margem do Capibaribe foram colocadas pela Prefeitura. Pode?
Sessão Recife Nostalgia: Quando a cidade era cem por cento saneada
Mais de 19 anos sem saneamento. Pode? 

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Coleção Recife 500 anos / Cepe

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.