Quem passa pelo bairro de Apipucos – localizado entre Monteiro e Dois Irmãos – e observa seu antigo casario, tem todo o direito de desconfiar que está vivenciando um local cheio de história. E também de curiosidades. Que agora serão reforçadas em um passeio a ser realizado no próximo sábado (22/3), tendo como ponto de partida a Escola Técnica Estadual Miguel Batista. A ETE é instalada nos antigos galpões de antiga fábrica de tecidos, cujos imóveis atualmente integram o Parque Urbano da Macaxeira, implantado justamente no terreno onde ficava o parque industrial do extinto cotonifício. A saída do grupo está prevista para 8h30m.
O roteiro do que vem sendo chamado de “Passeio criativo de experiência a pé pelo Bairro de Apipucos “ é gratuito, mas pede-se que a pessoa interessada faça inscrição no Conecta Recife, ou no link agenda.recife.pe.gov.br/agendar/1221. Durante o passeio, os guias darão informações que vão da origem do nome do bairro aos primórdios de sua povoação. Banhado pelo Rio Capibaribe e pelo Açude Apipucos, e ainda com resquícios de Mata Atlântica, o bairro tem áreas incluídas em Zona de Preservação Rigorosa (ZPR, devido à importância de seus imóveis) e também Zona de Preservação Ambiental (ZPA, que inclui as duas lâminas do Açude – Leste e Oeste – trecho entre o lago e o Rio Capibaribe, o Sítio dos Irmãos Maristas e outros).
Talvez, por esse motivo, em seus sítios e quintais ainda sejam vistos fruteiras como jaqueiras, cajazeiras, mangueiras. O bairro também conta com fauna que inclui várias espécies de pássaros, mamíferos (como preguiça, capivara, quati e até raposa), além dos e sobreviventes à poluição, como tilápias e jacarés encontrados no rio, riachos e no próprio Açude. Há alguns dias, foi flagrado um jacaré “passeando” tranquilamente pela Rua da Alliança.

Durante o passeio de sábado, os participantes saberão curiosidades como a origem tupi da palavra Apipucos (que significa caminho longo ou encruzilhada). Vão descobrir que o bairro resulta de povoado mais antigo do que se imagina, já que no período colonial – ainda no século 16 – a região fazia parte do Engenho São Pantaleão, até que em 1977 surgiu o engenho Apipucos.Mas vem mais história por aí, porque segundo os organizadores do passeio, em 1630 o engenho foi saqueado pelos holandeses. No final do século 19 e início do século 20, o bairro era o preferido por ingleses que vinham se instalar no Recife, a serviço de empresas de luz elétrica, dos correios, de abastecimento d´água e vias férreas. Também era muito solicitado por famílias abastadas (foto abaixo).

O Açude teria servido, também, para funcionar como uma das fontes de água potável do Recife. O morador mais ilustre do bairro foi o sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987), que era apaixonado pela localidade e até lhe dedicou um livro: “Apipucos, que há num nome“. O casarão em que ele morou foi posteriormente transformado em Fundação com o seu nome. O imóvel secular conserva a estrutura original, mobiliário e biblioteca deixada pelo escritor. Sem falar no quintal repleto de fruteiras, incluindo a pitanga com a qual preparava um conhaque com o qual brindava seus convidados.
Outro sítio que merece visita é aquele ocupado pelos Irmãos Marista, onde já funcionaram estabelecimentos educacionais como colégios e faculdade. A área, muito arborizada, é disputada pela especulação imobiliária desde o fechamento dos dois. Infelizmente, Apipucos padece de abandono. Seu Açude está cada dia mais poluído – recebe dejetos domésticos e tem quem o use como depósito de lixo. O rio Capibaribe virou esgoto a céu aberto, as árvores centenárias de ruas e praças carecem de cuidados (como podas responsáveis). Os moradores do bairro – como é o meu caso – sonham com um rio e um Açude de águas cristalinas, tais quais eram descritas no passado por Freyre e residentes mais antigos. A iniciativa é da Secretaria de Turismo e Lazer do Recife, através do Projeto “Recife de bairro em bairro”. Participe!

Nos links abaixo, mais informações sobre o histórico bairro de Apipucos. Confira.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife
Apipucos,o bairro mais bucólico da cidade.Tão bonito,tranquilo e cercado de verde.
Mas infelizmente não tem recebido a devida atenção. E nada se faz para impedir a especulação imobiliária predatória que ameaça o bairro.
E o seu açude cartão postal da área,está tão poluído ,sem qualquer tratamento e manutenção.
É a grande incoerência que faz parte da gestão pública da cidade: sempre alardeando grandes intervenções e obras ,mas sendo totalmente incapaz de manter sob cuidados o mínimo necessário para uma cidade funcionar dignamente, como por exemplo, limpeza.Apenas isso,LIMPEZA já seria um grande avanço para a urbis…