Apipucos: Denúncias de despejo de esgoto na comunidade e no Capibaribe

Moradores da comunidade do Areal, no bairro de Apipucos, pedem que as autoridades e órgãos competentes  tomem providências, para interromper o  fluxo de esgoto doméstico que vem sendo despejado junto às moradias e que segue – sem tratamento – para o Rio Capibaribe.

Eles solicitam que prefeitura – através das Secretarias de Saúde e de Meio Ambiente – a Agência Estadual do Meio Ambiente (Cprh) e a própria Compesa façam vistoria no local. Informam que o despejo é realizado pelo Condomínio Morada Praça de Apipucos, de alto padrão, e que fica vizinho ao Areal, porém em parte mais alta.  A irregularidade é na Rua da Aliança, naquele bairro da Zona Norte.

Esgoto passa no meio da comunidade do Areal, onde as crianças costumavam brincar, e vai cair no Capibaribe,

Com o despejo irregular, o esgoto desce por gravidade até o leito do Rio, que já sofre com despejos de palafitas e comunidades carentes que não contam com saneamento, serviço que aliás não existe ou funciona precariamente no bairro,  onde a maioria das residências, mesmo as luxuosas, usam fossas ou fazem canalização para o rio. No bairro, também ocorre despejo no Açude de Apipucos, que derrama sua água poluída no Capibaribe.

No Areal, é a saúde de toda uma comunidade que está em risco. “As crianças brincavam aqui na rua, mas não podem mais, pois minha neta ficou com o pé com feridas e bolhas depois que pisou na sujeira”, reclama Fernando Gomes da Silva. “O pé dela está cheio de caroço”. De acordo com outro morador, Edson José Nascimento (ver vídeo), o problema não é de hoje. “Mas parece que o entupimento é maior e o despejo também aumentou. Tem hora que ninguém consegue nem ficar na frente de casa”, reclama. “A gente não quer prejudicar ninguém, mas não é justo que a comunidade recebe essa sujeira toda”.

Severina: “O cheiro ruim não permite que a gente fique na rua e as crianças não podem pegar nem um cajazinho”

“Parece que quando o condomínio está cheio, no começo da noite quando muitas pessoas voltam do trabalho para o banho e dão descarga, o derrame é ainda maior”, reclama. Diz que defronte do sangradouro do Açude de Apipucos há uma caixa de tratamento construída pela Compesa (entre o Rio e a Rua Apipucos), porém o Condomínio implantou as tubulações do seu esgoto por outro caminho, conforme mostram as famílias do Areal, que ali residem há décadas. Eles afirmam que há algum entupimento, porque os dejetos estão transbordando no meio da rua, o que não ocorria quando o condomínio foi construído.

Já bastante poluído devido aos despejos de comunidades carentes que não têm saneamento, Capibaribe recebe desgosto de condomínio chique.

O derrame ocorre junto a um sítio da Igreja Católica, onde tem uma casa antiga que funciona como seminário . E as árvores da propriedade dão para a comunidade que, nessa época do ano, costuma colher frutos como os cajás que caiem em abundância no meio da rua. “Nem cajá ninguém pode pegar mais, porque eles estão caindo exatamente no meio da porcaria”, lamenta  Severina da Silva Lima. “Nem  a um cajazinho a gente tem direito”. É muito triste que, em pleno século 21, o Recife e sua população se defrontem com cenas como estas, quando sabemos que nas primeiras décadas dos anos 1900, a nossa cidade chegou a ser 100 por cento saneada. Mas parece que os gestores dos tempos atuais não ligam para isso. Falta de cidadania de um lado, e falta de vontade política do outro. No País, a situação não é tão diferente. Tanto que de acordo com o Instituto Trata Brasil, diariamente  são despejados na natureza o equivalente a nada menos de 5,3 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento. Imaginem a situação do Recife, onde pouco mais de 30 por cento dos domicílios não têm acesso a aquele tipo de serviço. Assim, não tem sustentabilidadeque aguente.

Veja, no vídeo, o que diz outro morador:

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Texto, fotos e vídeo: Letícia Lins / #OxeRecife

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