Olhem só essa montanha de lixo. Não foi retirada da rua não. Mas sim do Açude de Apipucos, um dos cartões postais daquele que é um dos mais tradicionais e ainda “rurbanos” bairros do Recife. Infelizmente, aquele que já foi um cristalino espelho d´ água – que atraía lavadeiras de toda a Zona Norte para lavagem de roupa de ganho no século passado – transformou-se em um esgoto a céu aberto. Mas não é só isso. Tem, também, todo tipo de detrito e a foto acima é uma prova disso.
Lamentável que no Recife as pessoas pensam que rios, riachos, lagos, açudes, são depósitos de lixo. Ou seja, educação ambiental zero. Como se não bastasse o recebimento diário de toneladas de dejetos domésticos (a capital pernambucana só tem saneamento em pouco mais de 30 por cento dos seus domicílios) o Açude vive a ser agredido com bichos mortos, garrafas de todo o tipo, latas, tralhas. Tem até quem estacione o carro às suas margens, para nele descartar móveis velhos, como mesas e sofás. Eu, por exemplo, já testemunhei cenas desse tipo. Reclamei, mas levei um baile dos porcalhões.
Não devia ser assim. Pelo menos por respeito ao Sítio Histórico de Apipucos, à sua Zona de Preservação Rigorosa e à Zona de Preservação Ambiental, na área da qual as duas anteriores encontram-se incluídas. Acontece que é tanto lixo, mas tanto lixo, que a Autarquia de Limpeza Urbana e Manutenção do Recife (Emlurb) mobiliza diariamente seis garis e um barco para remover a sujeira. No final do dia, o total recolhido chega a dez ou doze toneladas, o que equivale a uma caçamba de lixo. Por mês, seriam mais de 300 toneladas de lixo retirado. E a sujeira aumenta a cada chuva, porque os detritos de córregos e riachos próximos nele desaguam tudo que não presta.
É uma pena que isso aconteça. Não faz muito tempo, o livro “Açude de Apipucos, História e Ecologia” (Editora Cepe) relacionou a importância do Açude para o Recife, inclusive com o registro de seis espécies de peixes que ali eram comuns: traíra, cará, muçum, piaba, tambaqui e tilápia do Nilo, praticamente a única que sobrevive hoje, por sua grande resistência a poluição orgânica. Entre as aves que ali ocorrem, encontram-se galinha-d´água-azul, lavadeira, carcará, pardal, sanhaçu-cinzento, frei-vicente, viuvinha, marreca-irerê, garça-branca-grande, pato-do-mato, tetéu, beija-flor-rabo-de-tesoura, guriatã, bem-te-vi, entre outros. Moradores das margens do Açude citam jacarés e grupos de capivaras.
Passo quase diariamente pelo local, e sou testemunha do trabalho inglório da Emlurb. Tiram lixo durante o dia, e à noite o Açude recebe uma cascata de detritos. Os próprios pescadores se ressentem do problema. Pois a cada dez tarrafas jogadas no lago, nove só trazem lixo. Triste, não é? Como o Açude fica em nível bem mais alto do que o Capibaribe, poderia ser limpo, isento de poluição. Mas o que ocorre é o contrário. E, quando não coletado, todo o seu lixo do Açude escorre para o Rio pelo sangradouro. E com ele, toneladas de esgoto doméstico…
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife