Essa queimada aí não é na Amazônia não. É no Recife mesmo. E, pior, em área pública e “verde”, destinada ao lazer da população. Inaugurado em 2012, com poucos atrativos e até hoje muito mal utilizado, o Parque Apipucos sofreu mais um golpe. O menor parque do Recife foi alvo de incêndio nesta semana. Acidental ou criminoso? Ainda não se sabe. O que se sabe é que a grama, que já estava esturricada por falta de rega ficou ainda pior, pois virou um monte de cinza. E algumas mudas ali plantadas, incluindo palmeiras, sucumbiram quase todas ao fogo.
Também chamado de Maximiano Campos – em homenagem ao pai do então governador Eduardo Campos (PSB), já falecido – o parque nunca cumpriu sua missão como ocorre com o Santana, o da Jaqueira ou o Macaxeira, todos na Zona Norte. Localizado à margem do Rio Capibaribe, e defronte do Açude de Apipucos, ele fazia parte de um pacote nunca concluído: o Capibaribe Melhor, que previa investimentos totais superiores a R$ 24,5 milhões em Apipucos, Santana e Caiara. Em Apipucos, o projeto incluía passarela para Cooper em torno do açude, praça, ancoradouro para barquinhos e o Parque Maximiano Campos. Só neste, o investimento previsto era de R$ 5,5 milhões à época de sua implantação.
Quase nove vezes menor do que o da Macaxeira, ele deveria servir ao vizinho como área de suporte para apresentações musicais e outros eventos culturais, assim como para aulas de educação ambiental. Mas nem para eventos como aqueles vem sendo usado. Tanto que o pianista Arthur Moreira Lima preferiu tocar seu piano em concerto executado no Parque da Macaxeira, mas a audição era sempre prejudicada com os gritos que vinham de quadras de esportes, que ficam próximas ao palco. O Maximiano Campos – que tem estacionamento para 46 carros e dois ônibus – ficou às escuras na noite da apresentação. E vive sempre vazio. Já houve manhã em que contei apenas três pessoas caminhando em torno dos seus mal cuidados jardins, cujo gramado só fica verde mesmo na temporada chuvosa.
O seu Pavilhão Casa Grande, situado em eixo diagonal, só tem de casa grande o nome. São quiosques quadrados (que deveriam ser utilizados para lanchonetes, venda de revistas, artesanatos e outros artigos), totalmente inadequados. De longe até parecem um conjunto de pequenos galinheiros, daqueles que a gente vê nos quintais da área rural. O fato é que ninguém consegue ficar cinco minutos no interior de um deles sem reclamar da temperatura. Para completar, as vidraças foram quebradas por vândalos. Além desse problema, o Parque tem vegetação escassa, pouca sombra, e grama sempre seca a cada verão. Os seus bancos, com assentos de varas bambu e sem encosto, não oferecem conforto. Raras são as pessoas que conseguem passar muito tempo neles sentadas. São desconfortáveis para ler, descansar, para conversar e até para namorar. Está duvidando? Vai lá experimentar, para ver. Ou seja, se o parque já não era essas coisas, com o incêndio ficou ainda pior.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife