Depois do coice, a queda. Após sofrer um incêndio em dezembro passado, que lhe destruiu parte do gramado e suas já escassas plantas, o Parque Apipucos dá sinais de abandono, na reabertura pós-quarentena. A falta de manutenção é visível. E mostra as consequências: o pergolado desabou por conta de uma ventania, levando ao chão, também estruturas de ferro que o sustentavam. O “pergolado” nada mais é do que essa cobertura de palha aí da foto (acima), cujas amarras parecem bem frágeis e que já davam sinais de esgotamento, no final de fevereiro. A imagem acima foi feita dias antes do fechamento do parque devido à pandemia, quando a cobertura já mostrava necessidade de conserto. Agora, caiu tudo, como vocês vão poder observar na galeria de fotos abaixo.
Situado entre o Rio Capibaribe e o Açude de Apipucos, em região bem aprazível, o também chamado Parque Maximiano Campos tem 11.500 metros quadrados. Ele foi construído como parte do Programa Capibaribe Melhor, que previa implantação dos Parques Santana, Caiara e Apipucos, assim como a urbanização em torno do Açude. O Parque Apipucos previa integração com o Parque da Macaxeira e com o lago. Este ganharia píer, pedalinhos, pista para caminhadas no entorno e outros equipamentos urbanos. Juntos, os três formariam um complexo de lazer para os moradores da Zona Norte. Do pier no lago, sobraram só as colunas de concreto expostas no meio da água. Hoje servem apenas de poleiro para as garças. O Parque de Santana foi concluído. Mas o Caiara e a urbanização do Açude nunca ocorreram de fato. E o Parque Apipucos, embora finalizado e oficialmente inaugurado com pompa pelo então Prefeito João da Costa (PT), nunca desempenhou por completo as funções que lhe foram destinadas. Ele custou R$ 5,9 milhões aos cofres públicos, dentro do investimento de R$ 36 milhões destinados ao Projeto Capibaribe Melhor, iniciado durante gestão petista.
A gestão atual parece também não ter interesse em melhorar o Parque. Até hoje, não funciona nenhum dos doze quiosques do Maximiano Campos. Vivem abandonados e em ruínas. Apenas um, o da vigilância, é ocupado,. Assim mesmo, com as janelas de vidro substituídas por plásticos pretos. Os quiosques são insuportavelmente quentes, pois são cubículos com cobertura metálica e pouca ventilação. Lembram mais pequenos galinheiros ou aquelas casas que de cachorro que se construía antigamente no fundo dos quintais. Pelo projeto original, deveriam vender “produtos culturais, livros, revistas, artesanato, comidas típicas”, segundo anunciou a Prefeitura, na época da inauguração. Uma vez tentei experimentar a sensação térmica em um deles. Não consegui passar cinco minutos no seu interior, devido ao calor insuportável. E isso, cedinho, de manhã. Imaginem perto de meio dia ou no início da tarde a quantas não fica a temperatura.
Os calorentos quiosques teriam, também, “bancos e mesas no pergolado” que dariam “conforto e o suporte necessário aos usuários”. O “pergolado” foi justamente a parte que ruiu, inclusive com algumas das estruturas de sustentação. De acordo ainda com o Diário Oficial da Prefeitura na época, o “pergolado” que protege os quiosques do calor “tomou como referência a tipologia das casas grandes dos velhos engenhos com seus avarandados sombreados”. Nada a ver. Nem de longe os equipamentos em forma de cubos lembram a arquitetura colonial tão bem descrita nos livros do sociólogo Gilberto Freyre. Antes da pandemia, o “pergolado” já estava aos pedaços. Sua função era sombrear os quiosques, já que seus telhados são metálicos, já estava comprometida. Suas estruturas estão no chão. Quebradas, as vidraças dos quiosques foram cobertas por tapumes, pois oferecem risco de acidentes, principalmente às crianças. E alguns bancos nem mais possuem os assentos.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife