Vou fazendo minha caminhada matinal, e encontro essa cena da foto acima. Uma balsa, ancorada em uma das margens do Açude de Apipucos, com três peças embrulhadas em plástico preto, como acontece com qualquer estátua antes de ser oficialmente inaugurada. No caminho de volta, o mistério permanece, e o grupo de curiosos à beira do lago começa a crescer, em busca de desvendar o mistério. Encontro o escultor Demétrio Albuquerque, que comandava um grupo de auxiliares.
Àquela altura, todo mundo já sabia do que se tratava: um conjunto de três capivaras, para dar alegria ao Açude, tão famoso e elogiado pelas suas águas cristalinas no passado. Mas as capivaras permanecem no pacote. Pois é… capivaras estão ficando tão raras que começam a virar estátuas. Descubro que são em resina, em cores primárias, e que serão iluminadas com energia solar, quando observo a placa fotovoltaica sendo colocada na pequena embarcação (foto acima). Paro para conversar com Demétrio com quem já fiz uma das minhas caminhadas pelo centro do Recife. O artista é o mesmo que esculpiu as 20 peças do chamado Circuito da Poesia.
Ele não pode desembrulhar as três peças antes do horário combinado com os órgãos oficiais. Mas deixa escapar que as capivaras são de cores diferentes: vermelho, amarelo e azul. Enquanto uns auxiliares o ajudam, descubro que uma delas possui uma ave no lombo. O escultor contou que foi premiado em um concurso promovido pela Usina de Arte (de Água Preta), em parceria com a Prefeitura do Recife. Informa que passou seis meses confeccionando os três bichinhos, cuja espécie tem tanta empatia com a população do Recife. Eles foram produzidos em resina transparente e ficarão no meio do Açude de Apipucos, acesos à noite, com iluminação solar.
A balsa também terá um jardim pequenino. Esta não é a primeira vez que se coloca um elemento decorativo no centro do Açude de Apipucos. Quando Prefeito, o hoje deputado estadual João Paulo (PT) mandou construir uma fonte luminosa, que se destacava à noite no meio do lago. Porém como o Açude está totalmente poluído – inclusive com esgoto doméstico – o elemento decorativo passou a ser chamado de a “fonte da m….”. Passaram-se alguns meses e a fonte sumiu. Posicionadas à beira do Açude, as capivaras de resina passaram a noite sendo vigiadas, pra evitar furtos. Medida mais do que necessária.
Pois durante as obras de revitalização do entorno do Açude roubaram a balsa utilizada nos serviços pela empreiteira contratada pela Prefeitura…. Talvez seja por essa e outras que – diariamente – a Emlurb coloca um barco na água para fazer a limpeza do Açude. No final da tarde, o barco é recolhido. É muito gasto de mão de obra, mas é o jeito… Caso contrário, não sobra nada. O #OxeRecife torce para que o Açude volte ao passado de águas limpas para que as capivaras, os peixes e as aves reapareçam em grande quantidade, com o desabrochar da natureza.
Tal qual no passado, quando Gilberto Freyre dizia que o Açude tinha águas muito mais limpas do que as do Rio Capibaribe, este sim, o Rio das Capivaras. É muito bom que o principal cartão postal daquela parte da Zona Norte do Recife não seja esquecido. Mas dotá-lo de elementos decorativos não é tudo. O que o entorno do Açude precisa é de saneamento e que os riachos que nele desembocam ganhem malhas para impedir a passagem de tantos descartes indevidos. Plásticos, principalmente.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife
As Capivaras do artista Demétrio com certeza farão sucesso e tornarão o cenário do Açude de Apipucos mais convidativo.Mas concordo que mais importante que os elementos decorativos ,com todo respeito à obra do artista que admiro,seria saneamento do entorno do Açude, com drenagem e retenção dos vários poluentes que afetam a flora e a fauna.Já está na hora dos gestores entenderem que saneamento é vital e fundamental, pois a falta dele afeta a saúde, o meio ambiente e a dignidade das pessoas. Tem que ser prioridade em qualquer gestão.
Parabéns Letícia!
Sempre bom ler sobre cidade, quando o texto é escrito por você.
Uma notícia que poderia ser comemorada, mas, ela expõe problemas crônicos, o principal deles a poluição. Poluição que torna quase impossível ficar perto, o mal cheiro insuportável.