Vocês lembram da médica Adele Benzaken, que teve premiação cassada pelo então Presidente Jair Bolsonaro, por ter publicado uma cartilha sobre prevenção de doenças, que seria destinada a homens trans, quando era Diretora do Departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde? E recordam do infectologista Marcos Vinícius Guimarães de Lacerda, que sofreu a mesma perseguição porque foi um dos primeiros a provar a ineficácia da cloroquina contra a Covid-19? Pois ambos acabam de receber a Medalha da Ordem Nacional do Mérito Científico. A comenda foi entregue hoje pelo Presidente Lula aos dois pesquisadores e a 21 outros que renunciaram à honraria, em 2021, em solidariedade aos dois perseguidos no governo do ex-capitão.
Outro condecorado famoso é o físico Ricardo Galvão, que foi demitido da Presidência do INPE, em 2019 pelo então Presidente da República.Isso porque ele divulgar informações sobre o desmatamento da Amazônia. Não é segredo para ninguém o desdém com que o ex-Presidente tratava a ciência, inclusive na condução da pandemia, quando negou o valor da vacina, chegou a dizer quem imunizasse contra a Covid-19 viraria “jacaré” , e até recomendou o uso da cloroquina à população. O fato é que foi a vacina a grande responsável por controle de uma doença que parecia não ter fim e que confinou em casa as populações de vários países. “Esta cerimônia é um reencontro com a democracia, com o SUS pelo que lutamos tanto desde 1988, com os outros agraciados que foram solidários, mas, sobretudo, um reencontro com um Brasil plural, que é chave para conseguir controle das infecções”, afirmou Adele durante a cerimônia em reconquistou o prêmio que lhe foi cassado. “É um resgate justo. A ciência do Brasil é forte, pujante e precisa ser conservada. A única forma de o Brasil crescer de forma sustentável é acreditando no que a Ciência produz”, afirmou Lacerda.
O evento foi ainda marcado pela retomada do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e a assinatura do decreto que convoca a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. O Conselho estava sem funcionar há cinco anos. O CCT foi reformulado para ampliar a participação de representantes do governo e da sociedade civil. A nova proposta recuperou o ambiente plural e democrático e restabeleceu a função de instância estratégica de formulação das políticas de ciência, tecnologia e inovação. O CCT terá 34 membros, incluindo 16 ministros; oito membros entre produtores e usuários de ciência e tecnologia; e ainda nove representantes de entidades de setores de ensino, pesquisa, ciência e tecnologia. O Conselho é presidido pelo próprio Lula.
“Não há como pensar em crescer, em retomar indústria e produzir mais no campo, sem ciência. Não há como reduzir desigualdade sem ciência. A verdade é que o desenvolvimento sustentável e o desenvolvimento cientifico andam de mãos dadas”, afirmou o presidente Lula durante a cerimônia, que contou com a presença da Ministra da Ciência,Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. “Esta solenidade se reveste de muitos significados. É um ato de desagravo à ciência e de reparação histórica aos cientistas, professores, médicos, pesquisadores que foram injustamente perseguidos e ameaçados por um governo anti-ciência e anti-vida”, afirmou a ministra Luciana Santos. “Hoje, celebramos a volta da ciência e podemos dizer que o tempo do negacionismo, do desprezo pelos instrumentos de participação social e de ameaça à democracia acabou”, acrescentou.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Rodrigo Cabral / MCTI