A um dia de uma eleição histórica para Pernambuco – é a primeira vez que o estado vai eleger uma governadora – as duas candidatas à sucessão estadual aproveitaram o sábado, para o garimpo de eleitores no interior e na capital. A representante do PSDB, Raquel Lyra, esteve na Mata Sul, em clima de festa. Já a do Solidariedade, Marília Arraes, fez um programa religioso. Foi ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição, de quem a deputada se diz devota.
De acordo com a pesquisa de intenção de voto do Ipec (ex-Ibope), divulgada agora à noite, Raquel tem 54 por cento dos votos válidos, contra 46 por cento de Marília. Esta fez caminhada pelas ruas do Morro da Conceição, o mais politizado alto do Recife. Ela também assistiu uma missa no interior do Santuário. “Eu tenho certeza de que os pernambucanos vão escolher o caminho da democracia para o nosso estado a partir do ano que vem. Ao lado do Presidente, vamos resgatar Pernambuco”, afirmou. Marília iniciou a campanha como favorita em todas as pesquisas de intenção de voto, mas encerra sob a incerteza da vitória, já que as investigações indicam Raquel como favorita.
A candidata do Solidariedade fez toda a campanha atrelada ao nome do ex-Presidente Lula, que no primeiro turno apoiou Danilo Cabral (PSB), que terminou em quarta colocação para o governo do estado. Rompida com dois partidos aos quais pertenceu devido a disputas majoritárias – o PSB (para a Prefeitura, em 2020) e o PT (para o governo estadual, em 2022) – ela abrigou-se em uma terceira sigla, para disputar em 2022. No segundo turno, ganhou o apoio oficial de Lula e passou a cobrar posicionamento político de Raquel Lyra, que declarou-se neutra na sucessão presidencial, embora esteja com o palanque entupido de bolsonaristas.
Como Raquel formará sua equipe de governo, aí… é outra história. Habilidosa, Raquel manteve segredo do seu voto pessoal, estratégia que parece ter dado certo, do ponto de vista eleitoral e a mesma adotada por outros candidatos no segundo turno, como Eduardo Leite (RS) e ACM Neto (Bahia). Em meio à “Onda Roxa”, Raquel agradeceu “a união e o carinho” dos políticos que a apoiam. “Vamos continuar nas ruas pelo projeto de verdadeira mudança em Pernambuco”, disse em Palmares. Tanto Raquel quanto Marília integraram o primeiro escalão de Eduardo Campos, quando este governou Pernambuco.
Neto de um mito, Miguel Arraes, Campos morreu em 2014, em campanha pela presidência. Habilidoso como o avô, conseguiu atrair antigos adversários e terminou deixando o Palácio do Campo das Princesas praticamente sem oposição na Assembleia Legislativa. Sua família e seus correligionários – via PSB – estão no poder há 16 anos. Porém, a julgar pelo resultado do primeiro turno e pelas pesquisas do segundo, o povo pernambucano quer mudar. Para melhorar sua performance, Marília fez as pazes com seus antigos aliados do PSB, inclusive com o primo e Prefeito do Recife, João Campos, que fez uma campanha sórdida e misógina contra ela, em 2020, quando ambos disputavam a Prefeitura da Capital. Agora é esperar, para ver como – se eleita – Marília acomodará no governo seus aliados de última hora.
No início da noite, Marília Arraes fez várias carreatas pelo Recife e Região Metropolitana. Na Capital, passou por Água Fria, Bomba do Hemetério, Ato do Pascoal, Alto Santa Terezinha, Alto do Céu, Alto José do Pinho. Também passou por Olinda, e seguiu para Brasília Teimosa, onde encerrou a campanha. Ela escolheu o bairro por sua história de luta e pelo valor simbólico, por ter sido o primeiro lugar visitado por Lula, após ser eleito para Presidência. Já Raquel Lyra foi da Zona Mata para a Região Agreste, onde participou de carreatas nos municípios de Garanhuns e Lajedo.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Leo Caldas (Solidariedade) e Janaína Pepeu (Solidariedade)