Alerta de um homem do mar: “Oceanos sufocados, planeta sem ar”

Vilfredo Schurmann é economista e velejador. Como economista, atuou em grandes corporações financeiras no Brasil.  Mas decidiu trocar a vida em terra firme pelo prazer de desbravar os mares com sua família.   Juntos e a bordo de um veleiro, já completaram três voltas ao mundo, ao longo de três décadas. Isso sem falar em expedições pela costa brasileira e a vários lugares outros do Planeta. As três voltas ao mundo realizadas até o momento foram: 10 Anos no Mar (1984-1994); Magalhães Global Adventure (1997-2000) e Expedição Oriente (2014-2016).  Vilfredo costuma viajar em companhia da mulher (Heloísa) e dos filhos (Pierre, David, Wilhelm e Kat).

Em agosto deste ano, a família parte para mais uma grande aventura. Dessa vez em  a Voz dos Oceanos, que durará 24 meses. Durante as viagens anteriores, além das belezas de locais ainda não explorados pelo turismo, um outro fato, porém muito triste, chamou a atenção dos Schurmanns: a poluição .  A partir dessas experiências, ele e sua família se transformaram em defensores do meio ambiente e passaram a atuar em iniciativas de educação ambiental e em defesa da sustentabilidade. Hoje ele é líder da Voz dos Oceanos e defensor da campanha MaresLimpos, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Veja o alerta que o velejador faz, nesse Dia Internacional dos Oceanos, em texto enviado a vários veículos de comunicação. E também ao #OxeRecife, Blog  que não cansa de defender a natureza: a terra, os mares, os rios, as árvores. Leia com atenção o que ele diz.

“Em 1998, durante nossa segunda volta ao mundo, estivemos em uma ilha remota do Pacífico chamada Henderson Island. Mas aquele lugar paradisíaco revelava para nós, há mais de 20 anos, os primeiros – e preocupantes – sinais de que algo estava saindo do controle. Deserta e nada turística, a ilha acumulava lixo vindo de diferentes partes do mundo. Passados alguns anos, partimos para nossa terceira circum-navegação, a Expedição Oriente, e novamente um cenário chocante marcou nossa rota. Em 2015, estivemos em West Fayu, outra ilha deserta e de difícil acesso no Oceano Pacífico, que tinha sido invadida por resíduos, em sua maioria, plásticos de uso descartável.

Registramos esse momento e fizemos um vídeo para nossas redes, denunciando essa lamentável realidade. Esse conteúdo viralizou rapidamente, alcançando milhões de visualizações e compartilhamentos por usuários do Brasil e de diferentes partes do mundo. O alerta tinha ganhado potência, gerando reflexão na sociedade. Mas, ainda assim, demandava – e demanda – uma ação contínua para ampliar a conscientização e avançar na discussão, pois precisamos de soluções.

Em 37 anos de aventuras, nossa conexão com o Planeta Água passou a ser visceral. Para quem começou a navegar sendo guiado pelas estrelas, os sentidos passam a compreender os sinais da natureza e, há um tempinho, escutamos um sussurro agonizante se convertendo em grito sufocante. Os oceanos estão sem fôlego e pedem socorro. E esse não é um problema restrito ao ambiente marinho, afinal, mais de 50% do oxigênio do mundo é produzido pelas algas marinhas. Ou seja, nossos oceanos são o pulmão do mundo! E, se ele está sufocado, o quão comprometido está o ar do nosso Planeta Terra? Para reverter esse cenário, precisamos assumir nossa responsabilidade, como cidadãos, empresários ou governantes.

Tendo completado, até o momento, três voltas ao mundo, comprovamos o que já sabíamos: a Terra é redonda. Sendo assim, é preciso entender que não existe “jogar fora” tirando o problema de vista, pois tudo converge para um mesmo lugar: o nosso planeta. É fundamental assumir que estamos produzindo e descartando uma quantidade de lixo para lá de excessiva, que não tem tido tratamento ou destinação adequada. Apenas sai do nosso campo de visão… até que alguém – como uma família brasileira de velejadores – se depara com resíduos dos mais variados lugares do planeta concentrados em uma longínqua e isolada ilha no meio do Oceano Pacífico, por exemplo.

Executivos das indústrias e empresas de diferentes portes precisam repensar as embalagens, transporte e descarte. Nós, consumidores, precisamos repensar nossos hábitos de consumo, reciclagem e produtos. Gestores públicos precisam repensar como fazer para reaproveitarem os resíduos e minimizar o descarte nos rios e aterros. Esse é um pedido que vai além da defesa das tartarugas e dos golfinhos. É o ar do planeta e a vida humana que estão em jogo. O plástico vira micro e nano plástico. Partículas tão pequenas que podem parecer invisíveis, mas estão presentes e “atuantes” no meio ambiente e no nosso corpo. Para começar, elas cobrem nossas algas, impedindo-as que exerçam seu papel de produtoras de oxigênio. Ou seja, o pulmão do mundo está com seu funcionamento comprometido.

E se ainda assim esse parece ser um problema muito distante de nós, humanos, lembremos da cadeia alimentar: os peixes se alimentando de micro plásticos e, então, sendo o nosso próprio alimento. Consequentemente, nós também estamos consumindo plástico. Sem chance de isso ser saudável, certo? Desde 2011, a holandesa Plastic Soup Foundation – nossa parceria na Voz dos Oceanos, que tem o apoio mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – busca sensibilizar indústrias, governos e sociedade, dando grande destaque aos efeitos nocivos do plástico na saúde humana com iniciativas como o “Plastic Health Summit”.

Em 2019, Heloisa Schurmann foi a única brasileira convidada a participar do evento que, lamentavelmente, apresentou resultados preocupantes de diversas pesquisas científicas. Infertilidade feminina e impotência masculina são alguns dos problemas comprovados por estudos internacionais. Ou seja, comer micro plástico não prejudica apenas o aparelho digestivo, como ingenuamente poderia se pensar. Vale destacar ainda que, assim como os nossos Oceanos, também estamos sendo sufocados pelo plástico. Com supervisão da médica Thais Mauad, cientista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o engenheiro ambiental Luís Fernando Amato concluiu o primeiro estudo brasileiro que relata a presença de partículas de micro plástico no pulmão humano.

Como noticiado recentemente, a inédita pesquisa deve ser publicada no The Journal of Hazardous Materials, revista científica da área da engenharia ambiental. Das 20 amostras de tecidos pulmonares analisadas, 13 peças apresentaram resíduos do material, contaminando os pulmões pela inalação em ambiente caseiro. A ameaça que está no mar também está presente no nosso cotidiano urbano, mesmo que estejamos distantes da costa e dos oceanos. Ainda assim, somos otimistas! Há 37 anos, nos aventuramos por águas tranquilas, mas também agitadas e tempestuosas. Faz parte do desafio de viver a bordo. Defensores da campanha MaresLimpos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e líderes da Voz dos Oceanos, acreditamos que, juntos, possamos reverter esse cenário.

O perigo já não é tão desconhecido. E não deixaremos que fique esquecido. Com a Voz dos Oceanos, vamos testemunhar e registrar, in loco, o que continua acontecendo nos oceanos e navegar em busca de soluções inovadoras. Esperamos, dessa forma, ampliar a conscientização das pessoas ao redor do mundo para que mergulhem na adoção de ações urgentes. Não estamos sós! Essa é uma missão que envolve cientistas, ambientalistas, empreendedores, ONGs e governos com propostas para reverter o cenário de destruição dos mares. Então, naveguemos todos juntos em busca de soluções!”

Falou e disse! Vamos, pois, pensarmos duas vezes, antes de jogarmos  garrafas, copos plásticos, embalagens PET e outros materiais em locais inadequados, como rios, riachos, praias, mares.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação e  National Geographic (Acervo #OxeRecife)

 

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