Artesanato de povos indígenas da Amazônia nas passarelas de Milão e NY

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Étnica, atávica, brasileira, raiz, amazônica. Assim é a coleção “Muiraquitã”, lançada pelo estilista manauara Maurício Duarte, que acaba de apresentar suas criações nas semanas de Moda em Nova York (Estados Unidos) e Milão (Itália), duas das mais importantes vitrines do mundo fashion. Nas passarelas, peças confeccionadas em tucum por artesãs indígenas do Amazonas, que integram o Projeto “Parentas que fazem”. Para os que não sabem, “parente” é uma expressão muito utilizada entre os povos ancestrais do Brasil para definir os irmãos indígenas, sejam estes de qualquer etnia.

A fibra tucum é extraída de uma palmeira existente na maior floresta tropical do mundo. Integradas a outros elementos naturais da Amazônia – como o buriti, escamas de pirarucu e sementes de açaí – as fibras de tucum compuseram as peças autorais do estilista, unindo sofisticação e valorização da cultura dos povos indígenas. As peças foram confeccionadas por artesãs da Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro – Numiã Kura (AMARN), Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (AMISM), Associação de Mulheres Indígenas da Região do Alto Rio Negro (AMIARN) e Associação dos Artesãos Indígenas de São Gabriel da Cachoeira (ASSAI).

Maurício Duarte pertence ao povo  Kaixana, é um dos novos nomes da moda brasileira e tido como um dos mais promissores da área. Até a indumentária utilizada pelo próprio estilista foi notada por ninguém menos que Naomi Campbell, que pousou para fotos usando uma faixa de arumã incorporada pelo estilista. Trata-se de uma outra fibra natural amazônica, confeccionada a partir do artesanato indígena.  “Fico muito feliz de poder vir para cá trazer a nossa arte, a história que a gente acredita. Falar sobre moda autoral, sobre Brasil, sobre o Amazonas e o pertencimento. Quero agradecer às associações de mulheres indígenas que produziram com a gente por meio do projeto “Parentas que Fazem”. É sempre muito prazeroso reunir o que a gente constrói no têxtil com as fibras naturais”, agradeceu Maurício em suas redes sociais, ao falar sobre a estreia de sua coleção em Nova York.

As associações que criaram algumas peças do desfile de Maurício Duarte compõem o projeto “Parentas que Fazem”, que é implementado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), com apoio do Google.org, instituição filantrópica do Google, e em parceria com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Makira-E’ta – Rede de Mulheres Indígenas do Amazonas.

Maurício também participou de ações do projeto “Parentas que Fazem” a convite da FAS. O estilista atuou numa oficina de teçume de arumã na aldeia Yabi, do povo Baré, em São Gabriel da Cachoeira (a  852 quilômetros de Manaus), onde trocou técnicas e saberes com as artesãs. Ele também visitou a sede da AMARN, em Manaus, onde encomendou as peças e aprendeu mais sobre o processo de grafismo e tecelagem com a fibra de tucum. (Um lembrete: “teçume” é uma expressão usada na Amazônia que define o ato de tecer tendo fibras naturais como matérias primas).

“Partilhar as nossas simbologias, saberes ancestrais, produção colaborativa com propósito para o mundo, já precisa nascer com proteção e com a certeza de vida próspera para todos que acreditam nessa ideia”, escreveu Maurício sobre a coleção “Muiraquitã“, que leva o nome de um amuleto de proteção indígena, simbolizando a valorização das culturas e saberes ancestrais dos povos originários. A coordenadora da Agenda Indígena da FAS, Rosa dos Anjos, do povo Mura, conta que a parceria do projeto “Parentas que Fazem“, com o estilista Maurício Duarte, é extremamente importante porque está proporcionando uma grande troca de saberes e valorização das artesãs indígenas. “O Maurício (Duarte) é muito talentoso, um fenômeno que vem voando e ainda vai voar muito alto”, diz Rosa.

“Estamos muito felizes por ele ter esse olhar especial e ainda escolher algumas peças das nossas ‘parentas’ para inserir em seu desfile”, comenta. Nos links abaixo, você confere mais informações sobre moda e sustentabilidade

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Steven Gursey e Júlio Pontes / Divulgação

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One comment

  1. Que beleza ver a arte indígena rompendo barreiras no mundo fashion e se consolidando como um produto que valoriza os saberes ancestrais,os produtos naturais, a cultura e as etnias que compõem a grandiosa Amazônia.

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