Amazônia: Projeto “Florestas de Valor” permite lucros a povos nativos com a mata em pé

Compartilhe nas redes sociais…

Uns destroem. São grileiros, madeireiros, garimpeiros, agronegócio e até mesmo instituições oficiais e autoridades que deveriam cuidar, mas que teimam em destruir.  Passar a “boiada”. Outros se esforçam por preservar. São os índios, os povos das florestas, organizações não governamentais, ambientalistas. Há grupos de voluntários tentando recompor a Floresta Amazônica. Inclusive estimulando as agroflorestas, através das quais a produção agrícola é obtida em sintonia com a mata. Ou através do extrativismo consciente, que também pode ser uma boa fonte de renda, e  de preservação de mata nativa.  Até porque todo mundo está cansado de saber que a Amazônia vale muito mais em pé do que deitada, embora o governo do ex-Capitão não reconheça isso.

Exemplos de atividades importantes para a economia da floresta não faltam, como são os casos das cadeias produtivas da copaíba e do cumaru,  produtos genuinamente amazônicos. Através dos quais se combina a valorização da floresta em pé e a força do cooperativismo (com o conhecimento de boas práticas de manejo) à exigência de mercados consumidores já acessados por meio de parcerias.  Entre julho de 2021 e julho de 2022, a comercialização das duas espécies somadas gerou renda superior a  R$ 840 mil  para indígenas, quilombolas e assentados integrantes da Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora). São nativos que exploram a floresta sem, no entanto, destruí-la. E é assim que tem que ser feito. Há estudos realizados por outras instituições, que mostram que algumas espécies da Amazônia – como a ucuubeira – que valem  três vezes mais em pé (extrativismo) do que deitada (para madeireiras).

Com fruto produzindo manteiga de qualidade para fabricação de hidratante, ucuubeira vale três vezes mais em pé

Buscando fortalecer ainda mais essas cadeias e gerar renda por meio de impacto positivo, quilombolas participantes da Coopaflora e indígenas da região de Oriximiná estão participando de uma série de oficinas com trocas de conhecimentos teóricos e práticas tradicionais sobre cadeias produtivas do cumaru e da copaíba. A atividade é resultado da parceria entre a cooperativa, o Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé) e o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).  O Imaflora é uma associação civil sem fins lucrativos, criada em 1995 sob a premissa de que a melhor forma de conservar as florestas tropicais é dar a elas uma destinação econômica, associada a boas práticas de manejo e à gestão responsável dos recursos naturais.

O Imaflora busca influenciar as cadeias produtivas que atuam na área florestal e agrícola, colaborando para a elaboração e implementação de políticas de interesse público, criando modelos de uso da terra e de desenvolvimento sustentável que possam ser reproduzidos em diferentes municípios, regiões e biomas do país. Um intercâmbio com troca de saberes, oficinas e a tecnologia associada às práticas tradicionais vem sendo realizado naquela região. “Conseguimos entender melhor toda a cadeia. Passamos a enxergar o potencial da floresta, a melhor forma de trabalhar com ela e até o melhor preço para o mercado, o que valoriza nosso produto”,  afirma Lorenaldo Almeida, quilombola associado e instrutor das oficinas. Os dois produtos têm grande potencial econômico. O cumaru, por exemplo é muito  solicitado por setores alimentícios e de cosméticos por conta de suas propriedades.  Através de parcerias e comercialização com empresas que adquirem produtos da floresta, o trabalho da Coopaflora se torna exemplo para outras comunidades, possibilitando a expansão e fortalecimento dessas cadeias produtivas a partir da lógica de valorização dos extrativistas e de seus territórios.

O Florestas de Valor é uma iniciativa do Imaflora que busca fortalecer as cadeias de produtos florestais não madeireiros, dissemina a agroecologia para que as áreas protegidas e seu entorno contribuam para o desenvolvimento regional, proporcionando a manutenção das populações locais em seus territórios aliada a conservação dos recursos naturais. O programa atua na conservação da floresta na região do norte do Pará e no município de São Félix do Xingu, fomentando atividades produtivas e viabilizando a geração de renda na Amazônia Legal brasileira. Almeida comenta o valor da troca. “Para nós quilombolas, compartilhar o conhecimento é muito importante, porque a gente tem esse hábito de passar tudo de geração a geração. Na troca com os indígenas, cada um pôde contribuir com o processo, passando o que já sabe e se atualizando pelo outro”. O Florestas de Valor trabalha junto a comunidades tradicionais de Oriximiná com essa temática desde 2012 e pretende ampliar esse tipo de treinamento para outros grupos.

Leia também
Tucumã, a fênix da Amazônia
Ucuubeira preservada rende três vezes mais do que vendida a madeireiras
É verdade que a piranga é afrodisíaca
Dia da árvore: a vovó do Tapajós
No Dia da Amazônia, o Brasil tem o que comemorar?
Parem de derrubar árvores. Floresta em pé rende mais do que deitada
Juntos pelo Araguaia
Tragédia na Amazônia: #BrunoEDompresentes
Mais madeira ilegal apreendida
Toras de baraúna apreendidas
Por um milhão de árvores na Amazônia
Parem de derrubar árvores  (em Anapu)
Tartarugas voltam aos rios no Pará
Parem de derrubar árvores no Brasil: O total assustador de matas devastadas
Parem de derrubar árvores: Floresta em pé rende mais do que deitada
Amazônia pode virar um cerrado
Dia da Amazônia: Agrofloresta ou extração ilegal de madeira?
Madeira clandestina da Amazônia
Operação apreende madeira ilegal
Dia da Amazônia: Comemorar o quê?
Greenpeace e MapBiomas denunciam estragos no pulmão do mundo
No Dia de Proteção às florestas, o Brasil tem o que comemorar?
“Já me falta dar para falar das florestas”
O Brasil pegando fogo, mas Presidente bota a culpa no índio e no caboclo
Queimadas provocam  prejuízo de R$ 1,1 bilhão
Ministro manda oceanógrafo trabalhar na caatinga. E o Sertão já virou mar?
Servidor federal é afastado porque fez a coisa certa na área ambiental.

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Imaflora / Divulgação

 

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.