Tragédia na Amazônia: #BrunoEDomPresentes

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Triste e já esperado – após  um “desaparecimento” de dez dias – o desfecho do caso Dom Phillips e Bruno Pereira. Segundo a Polícia Federal, o jornalista (correspondente do The Guardian) e o indigenista (servidor licenciado da Funai) foram mortos, esquartejados e enterrados em área de difícil acesso, na região do Rio Javari, no Amazonas. Os autores materiais dos homicídios já estão identificados, mas resta saber se agiram sozinhos. O #OxeRecife presta solidariedade não só aos familiares das vítimas, mas também aos povos da floresta, que perderam dois defensores dos seus direitos. Dom, pela defesa veemente da Amazônia em seus artigos. Bruno, pela coragem e pela dedicação exemplar como servidor à causa indígena e da Amazônia. Atuou contra grileiros, garimpeiros e madeireiros, luta que lhe valeu o cargo que tinha na Funai. O que, aliás, tornou-se comum neste governo: perseguição a servidores que cumprem suas funções com dedicação.

As mortes do jornalista e do indigenista, além de chocar o Brasil e o mundo, revelam detalhes escabrosos da “política ambiental”, desenvolvida no governo do ex-Capitão, marcada por “assédio institucional” a quem faz o seu trabalho com seriedade. Desde que assumiu a Presidência, infelizmente, o que se viu foi o desmonte de todos os mecanismos de defesa e proteção do meio ambiente, em benefício daqueles que atuam criminosamente em áreas como a Amazônia, colocando em risco a floresta, as terras indígenas, os rios, as nossas riquezas naturais.  Ontem fiquei indignada, ao ver um comentarista de TV afirmar que o governo nada tem a ver com os dois assassinatos, que o duplo homicídio foi um “fato isolado”. Não, não foi. Crimes como estes podem se tornar ainda mais frequentes, diante da tolerância e da permissividade com que o ex-capitão trata as coisas da Amazônia, incentivando as invasões, as grilagens, o garimpo. E ai do servidor que atua contra esses bandos que estão transformando a floresta em um inferno .

Política ambiental permissiva tem aumentado conflitos, ações criminosas, incêndios e desmatamentos na Amazônia: inferno.

Em vida, Bruno pode ser tido como mais um exemplo que pagou um preço alto pela sua dedicação e seriedade à causa ambiental e dos indígenas.  Foi perseguido por exercer o seu trabalho em favor da floresta. Ele foi destituído do cargo de Coordenador Geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Funai, quinze dias após coordenar uma mega operação contra o garimpo ilegal, em setembro de 2019. E que resultou em grandes perdas para os criminosos. Na chamada operação Korubo, se não me engano, cerca de 60 balsas que exerciam atividade ilegal na região foram queimadas. Para o governo, ele cometeu um “excesso”. Desde então, o indigenista não realizou mais nenhuma ação oficial contra caçadores, pescadores, madeireiras que atuam ilegalmente em territórios indígenas. Até que ele se licenciou da Funai, e passou a atuar como assessor da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), segunda maior terra indígena do país. É uma área de conflitos, assediada por grileiros, garimpeiros e ladrões de madeira.

Perseguições a servidores como Bruno não são fatos isolados. Quem não se lembra da demissão de Ricardo Galvão, então diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),  órgão responsável pelo monitoramento da Amazônia e que denunciou o crescimento da incêndios e da devastação? Em 2019, o ex-capitão o tratou como não confiável, pelas informações divulgadas com base nas pesquisas científicas. “Se quebrar a confiança vai ser demitido sumariamente”. Lembram disso? E o caso de Alexandre Saraiva, que foi afastado da Superintendência da Polícia Federal no Amazonas, após a apreensão recorde de 226.000 metros cúbicos de toras de madeira ilegalmente extraídas da floresta? Afastado da Superintendência da PF, não se intimidou e continuou atuando como delegado contra as quadrilhas que vivem pilhando a região. Pouco tempo depois, era destituído da Operação Handroanthus. Como Bruno, foi colocado na “geladeira”. E ainda foi publicamente criticado pelo então “Ministro” do “Meio Ambiente”, Ricardo Salles. Aquele da “boiada”, lembram? E que agora é candidato ao Senado.

No caso do indigenista e do jornalista, o ex-capitão ainda tentou tripudiar. Afirmou que os dois estavam fazendo uma “excursão” pela Amazônia e que o repórter era “malvisto na região, por fazer muita matéria contra garimpeiro”. Triste, não é? ” Então, naquela região lá, que é bastante isolada, muita gente não gostava dele”, disse o Presidente. “Ele tinha mais era que ter redobrado a atenção consigo próprio. E resolveu fazer uma excursão”. Nos Estados Unidos, onde esteve para participar da reunião da Cúpula das Américas, o ex-capitão já tinha subestimado o trabalho das duas vítimas. “Naquela região, geralmente você anda escoltado. Foram para uma aventura. A gente lamenta pelo pior”.  “Aventura”? Como assim? Os dois estavam a trabalho. Claro que frases como estas, só contribuem para tornar o ex-capitão ainda mais impopular no exterior. E, como diz o Alto Comissariado da ONU, “discurso de ódio e declarações de desdém infelizes não ajudam”. Verdade. Só atrapalham e incentivam  quem está do outro lado, o lado mal que parece ser do bem, segundo a ótica do governo: grileiros, garimpeiros, madeireiros. inimigos dos povos indígenas e da floresta.

Abaixo, você confere informações sobre outros servidores que foram perseguidos porque exerceram suas obrigações. E também links sobre a Amazônia, incêndios, desmatamentos.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação 

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