Há quem pense que a caatinga é um ambiente inóspito, com solo pedregoso e flora agressiva, com espécies limitadas àquelas, cheias de espinhos, como o xique-xique, a macambira e o mandacaru. Trata-se de um engano. O único bioma exclusivamente brasileiro – não existe em nenhum outro lugar do mundo – é rico e tem grande poder de regeneração. As plantas secam na estiagem, mas voltam a desabrochar com as primeiras chuvas, quando surgem flores até nas rodovias, à beira do asfalto. E a diversidade é grande, pois o bioma conta com mais de 5.311 espécies – entre plantas e animais – porém 15 por cento correm o risco de sumir. Ou seja, de se extinguir.
É o que mostra a pesquisa Contas de Ecossistemas, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que investigou 3.220 espécies da Caatinga, quando constatou que, destas 481 estão ameaçadas, o que dá mais ou menos aquele percentual. Uma realidade que torna o bioma o terceiro mais ameaçado à sobrevivência da fauna e flora no País, perdendo apenas para o Cerrado e para a Mata Atlântica, respectivamente. Entre os animais ameaçados, encontram-se o tatu-bola, a jaguatirica e o carcará. Sem falar na destruição das matas. Informa o Coordenador Técnico da Associação Caatinga, Samuel Portela, que entre as principais causas da devastação estão o uso de lenha como matriz energética e as queimadas para cultivos agrícolas. “Essas ações vão, aos poucos, diminuindo as florestas, matando as plantas e ameaçando o habitat natural dos animais”, explica. Só no Ceará, são 55 espécies ameaçadas de extinção.
A Associação Caatinga é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que desenvolve diversas iniciativas para preservar o ecossistema. Entre elas está o projeto “RPPN: Conservação voluntária: gerando serviços ambientais”, que visa ampliar e aprimorar a gestão de áreas protegidas legalmente, com foco nas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). “Existem hoje mais de 1.850 RPPNs no Brasil, protegendo mais de 833.000ha de áreas, sendo 44 no Ceará e 8 no Rio Grande do Norte. Estamos focando nesses dois estados, já que eles possuem quase a totalidade dos seus territórios inseridos na Caatinga e apresentam preocupantes dados de desmatamento acumulado”, declara Daniel Fernandes, coordenador geral da Associação Caatinga.
O projeto busca realizar a prospecção de áreas para a criação de futuras RPPNs, elaborar e revisar planos de manejo, realizar cursos de capacitação e apoiar a implementação das ações dos planos de manejo de unidades de conservação já existentes. O “RPPN: Conservação voluntária gerando serviços ambientais” é realizado pela Associação Caatinga e financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) no âmbito do Projeto Estratégias de Conservação, Restauração e Manejo para a biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal (GEF Terrestre), que é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). E que tem o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como agência implementadora e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO como agência executora. A Associação Caatinga existe desde 1998, e atua na proteção da Caatinga e no fomento ao desenvolvimento local sustentável, incrementando a resiliência de comunidades rurais à semiaridez e aos efeitos do aquecimento global.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Associação Caatinga e Semas PE /Acervo #OxeRecife