Pernambuco tem primeira governadora eleita. Mas estado teve uma mandatária no século 16

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Depois de enfrentar uma tragédia pessoal  na corrida pelo voto – ficou viúva, no dia do primeiro turno da eleição – a advogada Raquel Lyra (PSDB) já pode ser considerada a primeira governadora eleita de Pernambuco. Matematicamente, ela já ganhou a eleição. Com 89,53 por cento das urnas apuradas, a tucana aparece com  58,87 por cento dos votos válidos, segundo o último boletim divulgado pelo TSE, que acusa 41,13 por cento de Marília Arraes (Solidariedade).  Até o momento, Raquel tem 2.778.956 votos. Marília aparece com 1.926.881 votos. Antes da tucana, uma outra mulher já havia ocupado o comando do Palácio do Campo das Princesas, mas só em caráter interino, já que Luciana Santos (PC do B) é vice do atual governador, Paulo Câmara (PSB). Porém o comando de Pernambuco por uma mulher não é tão inédito, como pode se julgar. É só recorrer à história.

Há um antecedente no século 16, quando a portuguesa Brites Albuquerque (1517-1584) tomou conta da Capitania Hereditária, e o fez com muita eficiência.   Ela a tornou a mais próspera do Brasil Colônia. Brites ficou no lugar do marido, em 1553, quando ele viajou a Portugal. Em 1554, Duarte Coelho faleceu em seu país de origem, e ela terminou herdando as funções do marido, o primeiro capitão donatário de Pernambuco. Brites passou para a história como a primeira mulher governante das Américas.

Em termos de gênero, a campanha majoritária também foi inédita, pois foi a primeira vez na história do estado que duas mulheres – Raquel Lyra (PSDB) e Marília Arraes (Solidariedade) – disputaram o segundo turno. A vice de Raquel também é uma mulher, Priscila Krause (Cidadania). No segundo turno, Raquel Lyra se manteve neutra na campanha presidencial. No primeiro, ele ficou do lado de Simone Tebet (MDB). Sem declarar o voto para Presidente no segundo turno, Raquel foi muito cobrada pelo eleitorado e principalmente por sua adversária, Marília Arraes, que tinha apoio de Lula no segundo turno, e tentou associar a tucana a Jair Bolsonaro, já que muitas das lideranças que a apoiam são eleitores do Presidente.

Resta saber como Raquel acomodará todas essas forças de extrema direita que, tradicionalmente, não seguiam com ela. De acordo com analistas, Raquel conseguiu atrair muitos votos de eleitores de Lula, o que pode ter influenciado na derrota de Marília. O voto Lula-Raquel tem até nome: “Luquel”, como faz questão de registrar o sociólogo Arlindo Soares. Na verdade, sua campanha foi mais propositiva do que a de Marília. Raquel é advogada, com Pós-Graduação em Direito Econômico e de empresas.  Já foi delegada da Polícia Federal e Procuradora estadual em Pernambuco. Foi deputada estadual por duas vezes, entre 2011 e 2017. Em 2016, disputou e foi eleita para a Prefeitura de Caruaru, município localizado a 130 quilômetros do Recife.

O povo de Pernambuco me colocou no colo. Se eu pudesse falar com meu marido, ele estaria dizendo para seguir em frente (Raquel Lyra, na sabatina do UOL)

Em 2020, ela foi reeleita para a Prefeitura de Caruaru, onde fez gestão interessante inclusive nas intervenções urbanas da cidade antes muito desorganizada. De acordo com sua assessoria, ela implantou em Caruaru um eficiente programa de segurança pública, que reduziu  à metade o número de homicídios, e conseguiu diminuir em 70 por cento os crimes contra o patrimônio. A segurança é uma das demandas mais citadas pelos eleitores pernambucanos. No decorrer da campanha, enfrentou dois problemas familiares. No primeiro turno, seu marido, Fernando Lucena, faleceu devido a um ataque fulminante do coração. Poucos dias depois, o filho mais velho de Raquel teve que se submeter a uma cirurgia de emergência. A eleição de Raquel talvez represente desejo de mudança do eleitor pernambucano, já que o estado há dezesseis anos é comandando pelo PSB. Ela é filha do ex-Governador João Lyra e do ex-deputado e ex-Ministro da Justiça, Fernando Lyra (1938-2013)

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Janaína Pepeu / Assessoria / PSDB 

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