Livro “Repórter Eros” conta história e evolução da Imprensa Erótica no Brasil

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Quem não se lembra de revistas que alimentaram as fantasias sexuais de homens e mulheres a partir do século 20?  Ele Ela, Close, Playboy, Sexy, Penthouse, Sex Symbol, G Magazine, Lolitos, só para citar algumas das mais conhecidas. Na verdade, no entanto, a imprensa erótica é bem anterior a essas publicações. Já alimentava a libido de muita gente no século 19, com edições como a Ba-ta-clan (1867) e O Badalo (1893). É o que mostra o livro “Repórter Eros – A História do Jornalismo Erótico Brasileiro”, do pernambucano Valmir Costa ( residente em São Paulo).

O lançamento está incluído na programação cultural do Festival Pernambuco Meu País, que acontece no município de Caruaru, neste final de semana. A tarde de autógrafos está programada para o sábado (10 de agosto), a partir das 16h no estande da Cepe Editora, instalado na antiga Estação Ferroviária de Caruaru, que fica na Rua Silva Filho, no bairro de Maurício de Nassau, naquela cidade localizada a 130 quilômetros do Recife.  Na obra, o autor oferece uma grande contribuição para a história da imprensa, a partir da fundação da Gazeta do Rio de Janeiro (em 1808). E também na evolução de costumes no Brasil, em um campo pouco estudado: as práticas sexuais e a abordagem da imprensa ao longo de mais de 200 anos. 

Editado pela Cepe, o livro “Repórter Eros” aborda costumes e sexualidade na imprensa brasileira: tabus e libertinagemA primeira publicação da imprensa  erótica  no Brasil, Ba-ta-clan, era escrita em francês. Já O Badalo foi a primeira revista erótica editada em português. Em 1906, a revista O Rio Nu traz três mulheres despidas, em uma capa artística.  Mas até a publicação do primeiro nu frontal se passa mais de meio século. Exatamente 74 anos, segundo o autor. E a publicação responsável pela façanha já no século 20 foi “Ele Ela”, revista de padrões ousados para os anos 1980 e que abordava sobretudo a sexualidade. O livro lembra as passagens de sucesso de personagens como Suzana Alves (Tiazinha) e Joana Prado (Feiticeira) ao final do século passado. A primeira levou a Playboy a vender 1.223.000 exemplares. A Feiticeira ultrapassou a tiragem da Tiazinha, com a mais famosa “revista masculina” da época vendendo 1.247.000 exemplares.

Ou seja, O “Repórter Eros” faz uma verdadeira viagem sobre a trajetória das publicações com foco sexual passando pelo início, explosão, censura e declínio com a migração para os meios digitais. “Ao longo da história, o sexo é cercado de tabus e censuras. Nem por isso deixa de construir um discurso atraente e tentador”, diz Valmir. Ele dividiu o jornalismo erótico nacional em dez fases. São elas: No princípio, é o verbo proibir; O embrião do jornalismo erótico; A Imprensa pornográfica sem sexo; As revistas do gênero alegre. E ainda: Do  gênero alegre pornográfico ao galante  erótico;  as revistas eróticas da imprensa marrom; Nova fase do sexo na Imprensa feminina; Enfim, o nu frontal e os pelos pubianos, A democracia do sexo na imprensa dos anos 1990. E, ainda, No começo do século XXI, a afirmação e negação do nu.

Ele mostra que a imprensa erótica foi inicialmente dirigida a homens heterossexuais, depois para mulheres também hétero e, depois, para homens e mulheres homossexuais.  As informações são  colocadas no contexto histórico passando pelos “podres do Imperador Dom Pedro II”, a Belle Époque, a censura imposta pelo Estado Novo de Getúlio Vargas e também na Ditadura de 1964. Mostra, ainda, como e quando surgiram termos como “frango”, “veado”, “vaca”, “fresco” e “fazer sexo”.  E traz curiosidade e informações que chegam perto do grotesco, como o Bloco Caçadores de Veados (1932, Rio de Janeiro), que enfrentou a censura e só teve autorização para desfilar após reduzir o nome da agremiação carnavalesca a “Caçadores”. Informa, ainda, que a origem do novo significado da palavra para denominar homossexuais surgiu a partir da marca do cigarro “Veado”.

Também mostra a censura imposta à Revista Privé, em 1980, por conta da capa onde aparece uma mulher nua com uma espada no mês de Setembro, normalmente marcado por comemorações oficiais em homenagem à Pátria. Na espada, havia escrito “Independência ou Morte”.  A chamada: “Elvira do Ipiranga, nascida às margens plácidas. Já a Ele Ela de setembro de 1969, foi recolhida pela censura. “Editores tinham que explicar onde estava a mão da mulher no extraquadro da capa”. Ou seja, uma leitura que termina sendo muito divertida. Valmir é graduado em jornalismo pela UFPE, e fez mestrado e doutorado em Comunicação pela Escola de Comunicações e Arte da Universidade de São Paulo(ECA/USP). Tem passagem pelo ensino de várias universidades, lecionando em cadeiras como Semiótica, Teoria da Comunicação, Redação e História do Jornalismo.

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Serviço
O que: Lançamento do livro “Repórter Eros – A História do Jornalismo erótico brasileiro”
Quando: sábado, 10 de agosto
Horário: 16h
Onde: Estande da Cepe Editora, no Festival Pernambuco meu País
Endereço: Rua Silva Filho, Maurício de Nassau, Caruaru
Acesso gratuito
Preços do livro: R$ 90 (impresso) e R$ 40 (e-book)

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Cepe e Colagem / Divulgação

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3 comments

  1. Bem interessante a abordagem do livro,ao analisar a temática sexual na imprensa desde os séculos 19/20 até chegar às mídias sociais.Contexto histórico, costumes,censura vistos sob a ótica da imprensa .

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