A ascensão da direita e de práticas fascistas em países de vários continentes tem gerado uma série de estudos, livros, publicações, trabalhos acadêmicos. Na semana passada, os professores Yvana Fechine e Paolo Demuru lançaram o livro Um bufão no poder, (Editora Confraria dos Ventos, RJ), no qual mostram o que está por trás do resultado de eleições como as que aconteceram no Brasil (com Jair Bolsonaro) e nos Estados Unidos (com Donald Trump). Agora surge outra obra que analisa o fenômeno do avanço da direita em diversos países, como a Itália e o Brasil.
Vejam só o novo título sobre o assunto a chegar ao mercado: Passageiros da tempestade: fascistas e negacionistas no tempo presente (Companhia Editora de Pernambuco – Cepe, PE). Muito oportuno, não é mesmo? Na publicação, os historiadores e professores Francisco Carlos Teixeira da Silva e Karl Schurster apontam que sim, nós podemos estar diante da volta do fascismo. Com onze capítulos, Passageiros da tempestade faz uma análise não apenas histórica e política dos fascismos, mas também sob a ótica de elementos da filosofia e da psicanálise. “Muitas vezes acreditamos que o mal enterrado em 1945 não teria condições de ressurgir como um fantasma para assombrar o nosso mundo e temeu-se chamar o fantasma do passado pelo seu exato nome: fascismo”, afirma Francisco Teixeira. Na obra, os autores analisam o ressurgimento da experiência dos fascismos. Sim, assim mesmo, no plural. “Tal qual no passado, os fascismos são múltiplos, possuem seu próprio discurso e espaço de legitimação, mas se encontram dentro de alguns aspectos generalizantes”, pontuam.
Se para o regime de Hitler, o racismo se deu em relação aos judeus, os autores entendem que “o outro” muda segundo os movimentos, partidos e regimes. “No fascismo ou no fundamentalismo, não há espaço para o Outro mesmo o Outro hierarquizado e subordinado, tampouco para sua educação e conversão num homem novo”, afirmam os autores. Daí, a inexistência do espaço para a compaixão e o emprego da violência extrema contra judeus e ciganos no passado. E agora, no caso do Brasil, contra as mulheres, negros, índios e homossexuais.
A obra é prefaciada por Stefan Rinke, professor no Instituto de Estudos Latinoamericanos e no Instituto Friedrich Meinecke da Universidade Livre de Berlim (Alemanha), e com apresentação de Xoán Manuel Garrido Vilariño, professor da Universidade de Vigo (Espanha). “Este não é um livro a mais sobre o fascismo, a Segunda Guerra Mundial ou o Holocausto, mas uma análise completa sobre a recepção memorialística destes acontecimentos nos espaços dos cinco continentes que discute os debates gerados e coloca em cima da mesa os debates ocultados, porque, nas palavras dos autores, ‘não dizer o sabido e perpetuar o não dito possui uma função social’”, afirma Xóan Manuel.
Os pesquisadores apontam o militarismo, o imperialismo, o racismo e a supressão de direitos como características básicas daqueles regimes e destacam a importância da linguagem para o fortalecimento dos partidos, movimentos e regimes fascistas. “O fascista não nasce fascista, ele se constrói a partir da linguagem”, frisam, acrescentando que a linguagem é peça central na batalha que ele trava no espaço público em “busca normalizar o mal para estabelecer a ubiquidade fascista”. Se para o regime de Hitler, o racismo se deu em relação aos judeus, os autores entendem que “o outro” muda segundo os movimentos, partidos e regimes.
“No fascismo ou no fundamentalismo, não há espaço para o Outro mesmo o Outro hierarquizado e subordinado, tampouco para sua educação e conversão num homem novo”, afirmam os autores. O livro custa R$ 55,00 (impresso) e R$ 20,00 (E-book). Francisco Carlos Teixeira da Silva é professor titular de História Moderna e Contemporânea da UFRJ, professor visitante na Universidade Livre de Berlim e na Universidade Técnica de Berlim. Karl Schurster Sousa Leão é professor livre-docente da UPE, professor na Universidade de Vigo/Beca Maria Zambrano e membro do Grupo de Investigação em Tradução & Paratradução. Os dois também organizaram o livro Por que a Guerra? Das batalhas gregas à ciberguerra (2018).
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Cepe/ Divulgação e Redes sociais