Bora Preservar: Domingo para visitar os pátios das igrejas do Recife

Afirma o historiador Jacques Ribemboim, no seu livro  “Dois Bairros Irmãos”, que “pátios e igrejas possuem forte conteúdo de imaterialidade, decorrentes das lembranças, tradições e memória coletiva que são capazes de invocar”. No volume, sobre os bairros de Santo Antônio e São José, ele lembra que no início “os pátios das igrejas tinham funções religiosas, sendo utilizados para realização de procissões e pregações públicas, muitas vezes realizadas por missionários católicos”. Heranças dos tempos coloniais, os pátios passaram, posteriormente, a desempenhar novos papéis, transformando-se em locais agregadores e de convivência.

Nesse domingo, o Grupo Bora Preservar fez uma incursão pelos pátios das igrejas do Recife. Passou até por áreas onde eles tiveram presença importante, mas que não existem mais, como é o caso do Pátio do Paraíso, que funcionou  próximo à esquina da Avenida Dantas Barreto com a Avenida Guararapes. A Igreja – que era em estilo gótico – foi derrubada no início do século passado para abrir espaço para a Dantas Barreto. De lá, fomos para a Matriz de Santo Antônio do Santíssimo Sacramento, aquela que fica em frente à Praça da Independência. E cujo pátio não existe mais, porque foi tragado também pela Dantas Barreto. Fico a imaginar como era lindo o meu Recife do passado.

O percurso foi detalhado, passando por pátios da Igreja do Divino Espírito Santo, da Igreja do Livramento dos Homens Pardos,  da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, da Igreja de Nossa Senhora da Penha. E ainda: São José do Ribamar, Nossa Senhora do Terço, São Pedro dos Clérigos, Nossa Senhora do Carmo, Pátio da Igreja de Santa Cruz e Pátio da Igreja de São Gonçalo. Os guias, Denaldo Coelho e Emanoel Correia, descreveram as igrejas por onde passamos e a importância dos seus pátios para a história, cultura e tradições do Recife. Posteriormente, o #OxeRecife voltará ao assunto, descrevendo alguns problemas desses pátios, como descaracterização dos edifícios do entorno, calçadas mal conservadas e sobretudo a aridez de pedra e cal.

Por exemplo, no entorno de algumas dessas igrejas e em seus pátios, a fedentina de urina é muito grande. Em alguns becos próximos, praticamente insuportável. Em alguns desses pátios, tanto a rua quanto as calçadas estão em péssimas condições, como ocorre em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. O Pátio da Igreja do Espírito Santo, antigo Pátio do Colégio, é hoje a Praça Dezessete. Ela foi “adotada” pelo Tribunal de Justiça, mas permanece entregue às baratas: suja, bancos quebrados, e sem água na fonte. E o que é pior: muito lixo.

Muito bonito, o Pátio de São Pedro carece de movimento, pois se assemelha a um deserto na manhã do domingo. Áreas do entorno do Pátio do Carmo (Santo Antônio) e do Ribamar (em São José) estão entre os que serão beneficiadas com convênio recente entre a Prefeitura do Recife e o IPHAN. Na galeria abaixo, você confere alguns dos pátios percorridos nesse domingo, assim como locais onde os antigos pátios deixaram de existir. E no Leia também, links sobre o Bora Preservar e seus passeios.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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2 comments

  1. Perfeita dissertação sobre o pátio das nossas igrejas. Percorrer com o Grupo Bora Preservar o pátio das igrejas citadas foi uma riqueza no que diz respeito ao conhecimento histórico que adquirimos, mas triste e desanimador do ponto de vista do estado em que tais espaços se encontram, conforme tão bem descreveu a jornalista.

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