A chuva atrapalhou, mas mesmo assim o roteiro a pé foi divertido e instrutivo. Duas semanas após a edição do Caminhadas Domingueiras – tendo como tema a Revolução Pernambucana de 1817 – fiz hoje outro passeio pelo centro do Recife, dessa vez com o Grupo Bora Preservar, tendo um tema que tem tudo a ver com aquela também chamada Revolução dos Padres. É que o tema do roteiro de hoje foi “Os caminhos de Frei Caneca”, uma das figuras históricas mais reverenciadas no nosso estado.
Joaquim do Amor Divino Rabelo, o Frei Caneca (1779-1825) foi uma das figuras proeminentes da Revolução de 1817, movimento através do qual Pernambuco libertou-se do domínio da Coroa Portuguesa por mais de 70 dias, transformando-se em uma República independente. Importante, a Revolução de 1817 foi a única insurreição anticolonial que conseguiu tomar o poder em toda a história da Monarquia Portuguesa. O movimento se expandiu para Paraíba e Rio Grande do Norte. Frei Caneca, um dos líderes, foi preso e enviado com outros revolucionários para Salvador.
Outra conspiração estouraria em 1824, a Confederação do Equador, de reação ao autoritarismo de Dom Pedro I. O movimento pretendia transformar o Brasil em República. E em Pernambuco quem estava envolvido de novo? Frei Caneca. Pela “subversão”, ele foi condenado à forca, mas como os algozes se negassem a enforcá-lo, terminou sendo arcabuzado. O caminho feito hoje passou pelos bairros do Recife, Santo Antônio e São José. Estivemos na Rua Álvares Cabral (onde ele teria nascido, no Recife), na antiga cadeia (atual Arquivo Público, na Rua do Imperador, Santo Antônio), Pátio do Livramento e Pátio do Terço (São José) e por fim, nas imediações da Fortaleza das Cinco Pontas, onde ele foi morto pelas forças do governo. Nosso guia foi Emanoel Correia, do Bora Preservar.
Frei Caneca à parte, algumas observações. Primeiro, o busto de Frei Caneca que foi roubado por marginais de monumento no local onde ele foi arcabuzado ainda não foi substituído. Ou seja, do monumento ao nosso herói só resta o pedestal, pois levaram até mesmo a sua placa de bronze. A segunda observação é o aumento imenso da mendicância, no Centro. Fomos abordados umas seis vezes por pessoas pedindo esmolas. A terceira é que embora nos dias de semana haja muita reclamação sobre a falta de policiamento no centro, nós cruzamos muitas vezes com viaturas da PM pelas ruas desertas dos três bairros. No final, descobrirmos que em São José tem um batalhão, o Frei Caneca. A quarta, é que é triste ver monumentos como o Cais do Imperador, a Praça 17, a antiga sede do Diário de Pernambuco, a Praça da Independência e outros locais totalmente entregues às baratas. Se Frei Caneca fosse vivo, provavelmente faria uma “revolução” contra o abandono do centro da cidade.
No fim, já com a turma meio dispersa por conta da chuva, um café no Paço do Frevo. Nos links abaixo, você confere outras informações sobre o Bora Preservar, Revolução de 1817 e Frei Caneca.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Denaldo Coelho (Bora Preservar) e Letícia Lins (#OxeRecife)
Seu texto expressou de forma fidedigna o que foi a caminhada do Bora Preservar sobre Frei Caneca Letícia! Parabéns e obrigado não só pelo ótimo texto, mas por prestigiar a caminhada do Bora Preservar!!
Informações importantes, Letícia, muito bom saber que nossa história está sendo reverberada por canais como o Oxe! Obrigada!