Dia da Mata Atlântica: Há o que comemorar sobre a situação do bioma?

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Essa segunda-feira, 27 de maio, é Dia da Mata Atlântica, um dos seis dos nossos biomas. Será que o Brasil tem o que comemorar? Afinal, restam pouco mais de 12 por cento de sua cobertura original. E, como falei no último post aqui divulgado sobre o assunto, a floresta tropical mais ameaçada do mundo se estende por uma área do país densamente povoada e muito cobiçada pela especulação imobiliária. De acordo com nota divulgada pelo WWF Brasil, 76 por cento daquela que é uma das mais biodiversas florestas do mundo já foram totalmente devastados.

Além do espaço reduzido, um outro fator preocupa os cientistas e deve servir de alerta para a população, nesses tempos de mudanças climáticas e eventos extremos. É que a Mata Atlântica assemelha-se a uma colcha de retalhos, na qual há muitos peças em falta. É que ela sobrevive em fragmentos inferiores a 50 hectares, e que hoje respondem “somente” por 97 por cento do bioma. Dá para perceber a gravidade? Para Cézar Borges, analista de conservação sênior do WWF-Brasil, essa fragmentação gera impactos muito negativos na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos oferecidos pela floresta, no clima, na economia e na vida de 150 milhões de pessoas que habitam o bioma.

Bioma ameaçado e fragmentado, a Mata Atlântica já perdeu grande área de sua cobertura original.

Segundo o especialista, é urgente conectar esses fragmentos, por meio de restauração, para garantir sobrevivência das espécies do bioma, em cuja área se concentram 72 por cento da população e 70 por cento do PIB do Brasil. Apesar de pequenos e isolados, com baixa qualidade ambiental, os fragmentos que compõem a maior parte da Mata Atlântica representam um importante ponto de passagem da fauna para outras áreas maiores da floresta.

“É o que chamamos de trampolim ecológico. Os indivíduos de várias espécies vão se deslocando na paisagem usando esses pequenos fragmentos como áreas de parada, até chegarem a áreas de melhor qualidade ambiental. Por isso é tão urgente aumentar sua conexão”, destaca Borges. O estudo liderado por cientistas brasileiros que revelou que 97% dos fragmentos de Mata Atlântica são menores que 50 hectares foi publicado em março na revista Biological Conservation. E apontou também que 75% das áreas remanescentes das florestas situam-se a distâncias de 240 metros de suas bordas. Diz Borges:

“Com a redução da sombra das grandes árvores e exposição das bordas florestais a áreas abertas, a umidade é reduzida e a penetração de vento aumenta. As tempestades levam as árvores maiores e o ciclo de degradação se retroalimenta. A redução da qualidade do habitat é potencializada e os impactos na biodiversidade são generalizados, agravando as condições das espécies ameaçadas. Na Mata Atlântica, pelo menos 65% de todas as espécies de árvores possuem algum grau de ameaça de extinção. No caso das espécies endêmicas, o risco aumenta para 82%. Esse limiar deixa ainda mais evidente a extrema urgência da preservação e reconexão dos fragmentos da Mata Atlântica. De acordo com Borges, quando a cobertura florestal está abaixo de 30%, além da perda abrupta da riqueza de espécies, a paisagem fica em uma situação mais difícil de se recuperar. “

 É preciso, portanto, preservar o que sobrou e tentar repor o que foi devastado. Atualmente, na Mata Atlântica, existem apenas duas grandes áreas contínuas de vegetação nativa: na Serra do Mar (entre Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro); e o Alto Paraná, na região de fronteira com a Argentina e o Paraguai, onde está presente o Parque Nacional de Iguaçu. Essas áreas têm qualidade ambiental suficiente para abrigar, por exemplo, as onças-pintadas, animal que sofre ameaça de extinção local em diversas áreas do bioma. Em Pernambuco, também são raras as áreas de mata contínua. E uma  área de preservação ambiental, a APA  (Área de Preservação Ambiental Aldeia Beberibe) corre risco de perder mais de 50 mil árvores se for ali implantada a Escola de Sargentos do Exército, como querem o governo federal, o estadual e até a Prefeitura do Recife. O risco já foi maior. Pelo projeto original, a perda seria de 500 mil árvores. Mas a área da Escola foi sendo gradativamente reduzida, à medida que crescia a pressão da sociedade.

Segundo ele, o WWF-Brasil atua em diversas iniciativas de proteção e restauração florestal que têm sido fundamentais para conectar as pessoas e reconectar o bioma. A organização é parceira, por exemplo, do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e da Rede Trinacional de Restauração da Mata Atlântica, coletivos que atuam na articulação de instituições públicas e privadas, governos, empresas, além de comunidade científicas e locais, com o objetivo de recuperação da vegetação nativa. Vamos lutar, também, pela preservação da nossa Mata Atlântica? Sem ela, a situação do clima só tende a se agravar.  O assunto não esgota aqui. Vamos voltar a falar do nosso patrimônio verde aqui nesse espaço.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife com Fábio Castro / WWF-Brasil
Fotos: CPRH/ Acervo #OxeRecife

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