“Arruando” por Casa Amarela que um dia, dizem, foi o “maior bairro da América Latina”

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Dia de “arruar”, naquele que foi o décimo segundo passeio realizado a pé pelas ruas do Recife com o Grupo Bora Preservar.  Aliás, o primeiro roteiro percorrido em 2024.  Local escolhido: Casa Amarela que já foi o mais populoso bairro do Recife. E, dizem, ter sido “o maior da América Latina”. Basta lembrar que antes era formado por outros bairros que posteriormente foram desmembrados, como Vasco da Gama, Mangabeira, Nova Descoberta, Tamarineira, Alto José do Pinho, Macaxeira. Perdeu, ainda, o Morro da Conceição, que era o seu alto mais famoso e que é o mais icônico do Recife.

O nosso roteiro teve início no histórico Sítio da Trindade – depois falaremos só sobre ele – e terminou na mais famosa escadaria do Morro da Conceição, a Ladeira Apique, que virou uma obra de arte comunitária e a céu aberto, sob a batuta do artista Leopoldo Nóbrega (sempre ele….). No caminho, visitamos a sede do América Futebol Clube, a mansão que pertenceu à família do então industrial Othon Bezerra de Melo (então dono do Cotonifício da Macaxeira). Na época, o nome do famoso empresário era uma palavra oxítona, com a última sílaba sendo a tônica. Posteriormente, quando a família aderiu ao ramo de hotelaria, o grupo passou a ser chamado de “Óthon”, porém com a sílaba tônica sendo a primeira. Segundo Emanoel Correia, nosso guia de hoje, o palacete pertenceu a  Roberto Brito Bezerra de Mello. Mas quando eu era criança, e morava em Casa Amarela, os adultos diziam “olha a mansão de seu “Othon”.

Porém já não é visto com o mesmo olhar de admiração  e encantamento que despertava no passado. É que o imóvel é atualmente ocupado pelo Consulado da China, que elevou a altura do muro e concretou as antigas grades de ferro. Assim, quem passa na calçada não pode mais admirar seus jardins nem a imponente residência. A visão foi totalmente obstruída aos mortais comuns. E, pior, símbolo dos tempos violentos: tem uma cerca elétrica de arame farpado no muro “barreira” que parece que a casa está em uma zona de guerra. Um terrível mau gosto. Daí, fomos caminhando até a Rua da Harmonia, para pararmos no cruzamento desta com a Conselheiro Nabuco (antiga Rua de São João), onde fica a Bodega de Seu Artur.

Até meados dos anos 60 do século passado, a mercearia era conhecida como a “Venda de Seu Abelardo” (o antigo dono), que conhecia os clientes pelo nome e até vendia fiado, registrando os “penduras” na “caderneta”. A venda funcionava como o “supermercado” de Casa Forte, Casa Amarela, Parnamirim e bairros vizinhos. Em 1966, Casa Amarela ganhou o seu primeiro grande supermercado, o Bompreço, que abalou o até então dominante comércio das vendas e mercearias.  Antes, havia um de menor porte perto do Hospital Agamenon Magalhães, que também abalou as “vendas” de então, como eram chamadas as pequenas mercearias do século passado. Passamos, depois, pela Paróquia de Bom Jesus do Arraial. De lá, estivemos no Mercado Público de Casa Amarela que, como o de São José, é um exemplar da arquitetura do ferro. Construído inicialmente em Caxangá, ele foi totalmente desmontado e reerguido em Casa Amarela nos anos 1930, onde está até hoje, com toda a sua curiosa e pré-fabricada arquitetura. Depois, Morro da Conceição.

Mas tanto o Sítio da Trindade quanto a escadaria da Ladeira Apique, no Morro da Conceição, merecerão, aqui, outras postagens separadas, porque merecem. Veja, na galeria abaixo, algumas fotos da nossa caminhada de hoje:

A caminhada teve chuva, teve sol, e ainda contou com café quentinho e bolo delicioso, by Emanoel Correia que, além de nosso guia, ainda é boleiro de mão cheia… Nos links abaixo, informações sobre o Bora Preservar, e sobre Casa Amarela

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto do Grupo: Bora Preservar

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4 comments

  1. Você fez um ótimo apanhado do que foi o Arruar em Casa Amarela, Letícia! Maravilhosa a participação de todos e ótimo o seu texto! Mas faltou dizer que tivemos o auxílio luxuoso de uma oradora durante o percurso que passou pro grupo todas essas informações sobre a Bodega do Seu Artur, seu nome: Jornalista Letícia Lins!
    Obrigado!!

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