Silêncio, lágrimas, cantos, lamentos, palavras de revolta com realidade tão cruel. E também homenagens daqueles a quem ele dedicou a vida. Foram os fatos que marcaram em Pernambuco o velório de Bruno Pereira, que foi barbaramente assassinado no Amazonas, juntamente com o jornalista Dom Phillips. Os dois desapareceram no dia 5 de junho, quando pretendiam conversar com indígenas, para um livro que o inglês estava escrevendo sobre os povos da floresta. Nessa sexta, Bruno foi velado em Pernambuco.
De Pesqueira – a 215 quilômetros do Recife – vieram os índios xukurus, que fizeram uma comovente cerimônia com danças e cânticos, pelo “encantamento” do indigenista. “Para ficar lutando e permanecer entre nós”. O velório e a cerimônia de cremação ocorreram no Cemitério Morada da Paz, no município de Paulista, vizinho ao Recife. Além dos parentes, amigos, colegas dos tempos do ensino médio, os índios xukurus marcaram presença forte. Eles desceram a Serra de Ororubá e passaram a madrugada na estrada, para participar do velório.
Dançaram, cantaram e lembraram outro mártir, Francisco Assis de Araújo, o Cacique Chicão, que – como Bruno – foi assassinado a tiros pela sua luta em defesa das terras indígenas e do seu povo. Chicão residia em Pesqueira, e foi morto em 1998, por fazendeiros que queriam grilar as terras indígenas. Seu filho, o Cacique Marquinhos, foi quem comandou hoje a homenagem dos xukurus a Bruno que, segundo Marquinhos, morreu pela mesma causa que marcou a luta do seu pai. O Cacique teceu críticas à forma como o governo federal trata a Amazônia e os povos da floresta.
O corpo de Bruno chegou no Recife na noite de quinta-feira, e o velório foi aberto ao público. Sobre o ataúde, uma bandeira de Pernambuco e uma do Sport, time de futebol do qual era torcedor apaixonado. Também foi colocado um adereço de cabeça dos índios xukurus sobre o caixão. Bruno sempre teve paixão pelos índios e pela Amazônia. Ele era tido como um dos maiores especialistas do país em índios isolados. Chegou a ser Coordenador de Índios Isolados da Funai, mas foi afastado do cargo em 2019, porque a sua luta não interessava ao governo vigente, que age abertamente em defesa de grileiros, garimpeiros e madeireiros da Amazônia. Posteriormente, ele passou a ser assessor da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), quando pôde então, ajudar aos povos indígenas, sem que seu trabalho fosse boicotado. Nos últimos meses, ele vinha sofrendo ameaças de inimigos da Amazônia. Terminou sendo assassinado no dia, juntamente com o amigo Dom, que denunciava o desmatamento e a violência na Amazônia.
Veja o vídeo em que os xukurus prestam homenagem ao indigenista assassinado, Bruno Pereira
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecofe
Foto e vídeo: Genival Paparazzi