Tragédia: dia de ver o que sobrou

Os números da tragédia provocada pela chuvas da Região Metropolitana do Recife não param de crescer. Os mortos já somam 91, sendo 37 dos  na Capital. Equipes do Corpo de Bombeiros procuram desaparecidos sob escombros das casas que tombaram e de montanhas de barro. Os desabrigados já são mais de 6 mil na área, sendo 3.640 desalojados no Recife, que registrou 115 ocorrências graves. As áreas mais críticas da cidade são o Jardim Monte Verde, Milagres, Sítio dos Macacos e Barro, de acordo com a Prefeitura,que informa ter disponibilizado 34 abrigos para as famílias prejudicadas com a enchente.

A situação só não é pior devido à mobilização do voluntariado, que tem garantido refeições, roupas e água mineral para as populações que ficaram desalojadas. As doações, felizmente, não param de chegar nos abrigos e nas comunidades afetadas pelas águas. Nos últimos dias, o nível do Capibaribe estava assustador. Populações ribeirinhas que não conseguiram retirar pertences perderam tudo, como são os casos dos moradores de comunidades como Cobocó, Airton Sena, Areal, Detran, todos na Zona Norte. Quem conseguiu retirar eletrodomésticos e móveis está passando as noites sob lonas cedidas por órgãos oficiais ou voluntários, temendo furtos dos pertences que sobraram. “Estou sem dormir há duas noites, com medo que levem bojões de gás ou meu fogão”, contou Célia Nascimento, moradora da comunidade ribeirinha do Areal. No Pina, Zona Sul, houve casos de saques  a residências que foram atingidas pelas águas. Ao retornar, os moradores encontraram as casas vazias.

O #OxeRecife recebeu três denuncias nesse sentido. Na Região Metropolitana, os índices pluviométricos registrados são espantosos para o mês de maio, com maior concentração de chuvas nos últimos dias. Eles variaram de 749 milímetros (como em Jaboatão) a 618 milímetros (em Paulista). A previsão para o período na primeira cidade era de 310 milímetros, e de 310 milímetros para o segundo. No Recife, os pluviômetros marcaram 641 milímetros, quando a média histórica não passa de 328 milímetros. A cidade foi erguida sobre os manguezais, que sofreram aterros, reduzindo os caminhos dos leitos de rios e riachos, que viraram canais, sendo hoje uma das mais vulneráveis do mundo aos efeitos do aquecimento global, que provoca aumento do nível do oceano. E o déficit habitacional tem provocado ocupação desordenada de morros e encostas, o que contribui para desmoronamentos e as ações preventivas são precárias. Hoje, em vários bairros o que se via era lixo acumulado nas calçadas, móveis, utensílios domésticos, tudo coberto pela lama.

Em muitos bairros, o voluntariado fez a diferença, como o de Apipucos,  e é claro que me integrei ao grupo de ajuda

O Presidente Jair Bolsonaro esteve hoje em Pernambuco, onde passou cerca de duas horas, período insuficiente diante da dimensão da tragédia. Nem mesmo com números tão tristes, ele deixou as picuinhas políticas de lado. O Governador do Estado, Paulo Câmara (PSB) não foi convocado para nenhum encontro com o Presidente, que fez questão de exibir-se apenas ao lado dos seus ministros, designando um funcionário do segundo escalão para reunir-se com o socialista no Palácio do Campo das Princesas. Além da mobilização da Arquidiocese de Olinda e Recife – que disponibilizou paróquias para receber donativos – a Prefeitura informou hoje que também montou esquema para doações, que podem ser feitas em quinze lugares da capital. As demandas maiores são roupas para crianças, lençóis, cobertores, materiais de higiene pessoal.

Nas esquinas e ruas, o que se via eram montanhas de utensílios e móveis domésticos cobertos de lama: perdas e lixo

Quem puder contribuir, deve ficar atento aos locais de coleta: sede da própria Prefeitura (no Cais do Apolo), Sítio Trindade (Casa Amarela), Parque Dona Lindu (Boa Viagem). Shopping centers como o Plaza (Casa Forte), Boa Vista (Centro), Tacaruna (Santo Amaro), RioMar (Pina) também se integraram à campanha, e estão com postos para coleta de donativos. Também há redes de supermercados recebendo doações: Novo Atacarejo e a Rede Big ( Casa Forte, da Avenida Caxangá, de Boa Viagem, na Avenida Recife e no Shopping Tacaruna) também estão recebendo.

“Estamos precisando de kits de higiene, como shampoo, sabonete, creme dental, escova de dente, pente e desodorante. Também há a necessidade de material de limpeza, como água sanitária, pano de limpeza, vassoura, rodo, saco de lixo e pá de lixo”, ressalta. Pessoas físicas ou jurídicas interessadas em participar do movimento solidário para doação de produtos ou serviços podem entrar em contato com Central de Arrecadação, por meio dos números (81) 98791-2705 e 3355-9412 ou enviar e-mail doacaorecifesolidario@gmail.com. O #OxeRecife está trabalhando precariamente desde o início do temporal. A Banda Larga da Oi – servidor utilizado pelo Blog – está fora do ar desde a última terça-feira, em uma demora vergonhosa para retomada do serviço. Infelizmente não há data para previsão de retorno das conexões. E os atendentes “virtuais” Joice e Fernando mais atrapalham do que ajudam.  O caso já está na Ouvidoria da empresa e foi comunicado à Anatel.  O jeito, no início do temporal, foi rotear o celular, que é da Tim. Mas no final de semana, o sinal desta operadora sumiu no momento em que mais era necessário. O seja, duas operadoras. Dois xabus.   À noite, o serviço da Tim normalizou. Mas a Oi… já viu. Mas no fim do mês, a conta chega  inteira, sem desconto pelos dias sem serviço.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Genival Paparazzi, PCR, Antônio Gomes Neto e  Letícia Lins

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