Depois do temporal do final de semana e dois dias em que o sol deu o ar da graça, o Recife voltou a enfrentar transtornos provocados pela concentração de chuvas nessa sexta-feira. Foram 68 milímetros ao longo de doze horas, o equivalente a quase 18 por cento do esperado para todo o mês, já que a média histórica de junho é de 386,60 milímetros. Vias estratégicas para a mobilidade do Recife – como Avenidas Agamenon Magalhães, Conde da Boa Vista, Caxangá e Abdias de Carvalho – ficaram intransitáveis, devido aos alagamento. Quem precisava ir ao Terminal Integrado de Passageiros ou a bairros como a Cidade Universitária utilizando as duas últimas vias, voltou para casa,
Na Agamenon – que liga a Zona Sul à Zona Norte – o nível do canal que marca toda a e extensão da via atingiu quase o nível do asfalto, provocando transtornos a motoristas e pedestres. De acordo com a Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC), maio fechou com um total de 686,04 milímetros no Recife, mais do dobro do que era esperado para o todo o mês, cuja média histórica é de 328,90 milímetros. Com um agravante, já que houve concentração da densidade pluviométrica no final da semana. Consequência: inundações, deslizamento de barreiras, imóveis desabando. São do Recife 55 das das 128 vítimas fatais do temporal, considerado pelas autoridades como a maior tragédia climática do século 21 em Pernambuco. No século passado, em 1975, o Estado presenciara uma enchente com 104 mortes, a maior parte por afogamento, ataque cardíaco, choques elétricos. Em 2022, os óbitos foram provocados por soterramentos, em sua grande maioria. No Recife, 67 por cento do território é formado por morros, geralmente desprovidos de obras estruturais que garantam segurança aos moradores. Faltam escadarias, muros de arrimo, canaletas, obras de saneamento e drenagem.
As buscas às vítimas da Região Metropolitana foram encerradas hoje, após o corpo de Mércia Josefa do Nascimento, 43 ter sido encontrado na cidade de Camaragibe, que fica vizinha ao Recife e é uma das 14 da Região Metropolitana. Era o último corpo que faltava ser resgatado. O Governador Paulo Câmara (PSDB) decretou luto oficial de três dias, em respeito às vítimas do dilúvio. Das 128 vítimas, só uma não é da Região Metropolitana. É que um homem foi soterrado no município de Limoeiro, no Agreste. No Estado, 32 municípios estão em situação de emergência e os desabrigados somam quase 10 mil.
O socialista anunciou hoje pensão para as famílias das vítimas, assim como auxílio de R$ 1.500 para os que foram atingidos pela tragédia. Não são poucos os que perderam tudo que conquistaram ao longo de vidas sofridas e muito trabalho. As propostas irão a análise na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Câmara também propõe alteração na Lei 13.619/2008 que instituiu o Programa Estadual de Subsídio à Habitação de Interesse Social (PESHIS), “visando a redução do deficit habitacional no Estado. O projeto redefine o critério de família de baixa renda, estabelecendo como tal aquelas que ganhem até dois salários mínimos. Já o Prefeito João Campos (PSB) anunciou auxílio de R$ 2.500 às famílias atingidas, e prometeu aumentar o valor do auxílio moradia de R$ 200 para R$ 300. Nas duas esferas de poder, as famílias em situação de vulnerabilidade social precisam estar inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico).
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Genival Paparazzi (fotos do leitor)