É impressionante. Nós, animais terrestres que “habitamos” ruas, becos, avenidas, praças e pontes dessa cidade tão anfíbia, nos acostumamos a ver o Recife de uma forma. Quando chegamos ali, na Praça do Marco Zero, e pegamos um barquinho para o Parque de Esculturas Francisco Brennand, passamos a enxergar a nossa capital de outro ângulo. Aí, a paisagem muda de figura. E a gente observa o Recife, digamos assim… pelo “avesso”. Do mar para a terra, e não da terra para o mar como nos habituamos a assimilar. Nesse domingo, 55 pessoas fizeram um interessante percurso com o Grupo Bora Preservar, o braço recreativo do Preservar Pernambuco. Eu, também, claro. Pois adoro uma caminhada. Em grupo, ainda melhor.
E nós não só nos limitamos a observar o Parque de Esculturas (após a restauração e reposição das peças que haviam sido roubadas na gestão anterior), como ao invés de pegarmos o barquinho de volta, caminhamos até Brasília Teimosa. E de lá até o Pina. O que chama a atenção, entre tantas informações que a gente já tem, quando se percorre a pé bairros como Santo Antônio, Boa Vista, São José e o próprio Recife Antigo? É que julgamos conhecer tão bem o centro da cidade. Sim, conhecemos. Daqui para lá. E de lá para cá? Pois houve momentos de lá para cá que,nós caminhantes – víamos torres de igrejas e não conseguíamos identificar a quais templos pertenciam. Normal. Ninguém faz tão constantes caminhadas vendo o Recife pelo avesso, não é?
E essas dúvidas terminaram ficando interessantes. Pois despertaram respostas e curiosidades entre os caminhantes. Aquelas torres devem ser a da Igreja da Penha. Aquelas outras, da Igreja de São Pedro dos Clérigos. E olhem a Matriz de São José… E aquela igreja, tão pintada e amarelinha, qual é? Terminou sendo divertido. O “arruar” de hoje teve como tema os bairros de Brasília Teimosa e Pina, com informações sobre a geografia passada daquela área, a história e locais icônicos da região. Uns, que ficaram só na lembrança e nos cartões postais do século passado, como a Casa de Banhos. Outros, em prédios ainda de pé mas em ruínas, como o antigo Cassino Americano, no bairro do Pina. Ou o desativado Aeroclube de Pernambuco.
Mas visitamos locais que ainda fervilham, como Brasília Teimosa, a praia do Buraco da Velha, a praia do Pina; a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário. E sobretudo o Maracatu Nação Porto Rico, localizado no Bairro do Pina, uma das mais tradicionais agremiações da cultura afro em Pernambuco. E que neste final de semana comanda o Festival Noite do Dendê, que até este domingo terá reunido cerca de 50 agremiações que cultivam as heranças africanas (maracatus, afoxés) e outras manifestações populares como o coco, a ciranda, mamulengos. O Mestre do Porto Rico, Chacon Viana, não só comanda o maracatu. Ele costuma viajar à Europa, onde – entre alfaias e tambores – ensina a gringo o ritmo do nosso maracatu.
Depois, falarei mais sobre os caminhos por nós realizados nesse domingo, por aquelas bandas.
Na galeria abaixo, você confere algumas das passagens do “arruar” realizado nesse domingo de momentos de sol e também de ocasiões de céu muito nublado.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife
Adorei Letícia, seu excelente texto sobre o Arruar pelos Bairros de Brasília Teimosa e Pina, promovido pelo Bora Preservar! Mas principalmente pela sua sensibilidade em enxergar o belo, tanto pelas palavras como pelas imagens. E de quebra descorbriu um avesso que poderia perfeitamente ter feito parte do título original do Evento! Parabéns!
Obrigada pelo passeio, Denaldo. E pelos elogios. Vc sempre generoso.
Perfeito Denaldo, o seu comentário. Sensibilidade de poeta. Olhar o Recife pelo avesso. Não tinha pensado nisso. Parabéns Letícia