Atentado estético contra igreja histórica em Apipucos gera impasse em obra da Prefeitura

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É triste, mas é a verdade. Como se não bastasse a destruição cada dia maior do patrimônio verde do Recife, o patrimônio histórico e arquitetônico vai sumindo em velocidade a cada dia mais acelerada. Muitas vezes, por omissão das autoridades, que não dotam a cidade de mecanismos de vigilância para proteger os bens artísticos, que vivem sendo pilhados ou destruídos por vândalos.  De outras, por culpa do próprio poder público. A mais recente vítima do desatino é a secular Igreja de Nossa Senhora das Dores, que fica em área de preservação rigorosa, onde – portanto – todas as edificações  – não podem ser descaracterizadas. Pois o prédio religioso acaba de sofrer um atentado estético, que tem incomodado todos aqueles que tentam preservar a memória da cidade.

Olhem só a foto acima. Ela mostra como era o paredão do templo e como ficou uma parte, durante realização dos serviços de Recuperação do Parque Apipucos e seu entorno. Os trabalhos, com investimento declarados de quase R$ 2 milhões,  são executados pela Real Energy, contratada pela Prefeitura, via Emlurb.  Eles prevêm recuperação da calçada em volta do Açude, conclusão do píer antes nunca terminado, requalificação do abandonado Parque Maximiano Campos, à margem do Rio Capibaribe. A  igrejinha, que tem uma escadaria para quem a ela vai pela Rua Laura Gondim (ladeira atrás do templo) ganhou corrimão, para maior segurança dos pedestres e fiéis. Até aí, tudo bem. Mas a pior notícia vem agora, que é o “serviço” que vocês podem observar a foto acima.

Destruída durante a ocupação holandesa, a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios foi reerguida no século 19.

É que o chapisco no paredão secular, sujou.  E sujou tanto, que a Paróquia mandou que o  serviço totalmente seboso e desrespeitoso fosse suspenso, para ser rediscutido. O chapisco encobriu a construção original, feita no século 19, para evitar erosão das encostas da pequena colina onde fica o templo. A igreja é singela e não é tombada pelo IPHAN. Mas nem por isso pode ser tratada sem respeito. A construção de um templo naquele local é antiga, pois o original chegou a ser destruído durante a ocupação holandesa, voltando a ser reerguido no século 19. O #OxeRecife acionou a assessoria de imprensa da Emlurb e a própria Real Energy sobre o assunto. “Eu perguntei aqui, e o povo disse que isso já existia aí, sabe, vamos ver o que ainda vai ser feito”, respondeu Mauro Rossiter, assessor de imprensa da Emlurb. E nada mais, nenhuma explicação.

A Emlurb, no entanto, está ciente do problema. E está sim. Tanto que já marcou uma reunião com a paróquia na semana passada, para discutir o impasse.  Ainda sem solução à vista nem culpados oficiais, o encontro foi adiado. É provável que seja remarcado para a próxima semana. Já o engenheiro da Real Energy, Josenildes Borges da Silva Júnior, justificou ao #OxeRecife que iria “falar com a Emlurb”, para dar  após “uma posição”. Até hoje.  Depois disso, já foram vários os telefonemas para a empresa, mas o responsável técnico pela obra está sempre “em reunião”. Pesquisador e um dos guardiões da memória de Apipucos, o estudante Antônio Gomes Neto, tomou um susto, diante de tamanha bagaceira.

“Aquele tipo de reparo mal feito é uma grande falta de respeito a um patrimônio histórico. Trata-se de uma capela muito antiga, que está ali já muito antes de 1593 e que passou por inúmeras destruições, sendo a mais devastadora a do período da ocupação holandesa. No século 19, moradores de Apipucos – inclusive os ingleses – começaram a recuperar a capela, e após uma grande chuva, decidiram construir a mureta ao seu redor para evitar erosão das encostas. Foi organizada uma quermesse, que chegou a ser anunciada nos jornais locais da época. Agora… colocar uma capa de cimento, tapando todo o revestimento original do antigo muro da igreja é um tipo de reparo totalmente incorreto, sem noção”.

Com a palavra, a Prefeitura do Recife, a Emlurb e a Real Energy. Finalmente, de quem é a culpa por mais esse descalabro? Nos links abaixo você confere outros problemas do bairro de Apipucos e perdas de patrimônio histórico ou artístico no resto  da cidade.

Em primeiro plano, a parede secular como ficou. À esquerda, parte do muro original, e outra coberta com cimento

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

2 comments

  1. É lamentável que uma ação criminosas dessas, seja executada apenas com o aval de um engenheiro, que, se deduz, não ter nenhum conhececimento ,sensibilidade do que seja preservação de um patrimônio histórico

  2. Que horror, o que está havendo com os administradores da nossa cidade? Estão passando a boiada, e esqueceram que não tem mais pandemia!
    Parabéns pela matéria, Letícia!

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