Houve um tempo que o Brasil crescia, mas a pobreza só fazia aumentar. Ou seja, uma concentração de renda tão grande, que o então Presidente da República, Garrastazu Médici (de triste memória) disse em uma entrevista, em 1974: “o Brasil vai bem, mas o povo vai mal”. A julgar pelos números divulgados pelo IBGE nessa quarta-feira, o povo vai mal em Pernambuco, embora nossas autoridades vivam comemorando os números de sua economia.
Passou-se o tempo em que o retrato da pujança de um país ou de um estado era apenas o cálculo do seu Produto Interno Bruto, o PIB. Hoje, felizmente, já há a consciência de que um país não pode ser considerado rico se o seu povo é pobre, vive abaixo da linha da pobreza ou é vítima do excesso de concentração de renda. E tanto é assim, que outros índices surgiram ao longo das décadas, inclusive aquele que mede o Índice de Desenvolvimento Humano (o IDH) e o PIB per capita (valor do Produto Interno Bruto dividido por número de habitantes). Em alguns países, mede-se até o índice de felicidade.para se avaliar a situação do seu povo. De acordo com os números do IBGE, Pernambuco ocupa a nada invejável 24ª posição no ranking de rendimento domiciliar per capita, entre os 27 estados avaliados e o Distrito Federal. Triste, não é?
No Brasil, a renda domiciliar per capita é de R$ 1.893, mas a de Pernambuco está longe disso: R$1.113. O Nordeste concentra os índices mais preocupantes, mas mesmo assim, a situação do nosso estado preocupa, pois só Maranhão e Alagoas apresentaram números piores que os nossos. Confira os números da renda per capita domiciliar no Brasil: (R$1.893). No Nordeste, quem aparece em melhor situação é o Rio Grande do Norte (R$1.373). Que é seguido pelo Piauí (R$1.342), que durante muito tempo foi considerado o estado mais pobre do país; Sergipe (R$1.218); Ceará (R$1.166); Bahia (R$1.139); Pernambuco (R$1.113); Alagoas (R$1.110); Maranhão (R$945).
No ranking nacional, o povo de Pernambuco só não é mais pobre do que Alagoas, Maranhão, ambos no Nordeste. E do Acre (R$1.095), na Região Norte. A crescente pobreza no Estado pode ser observada tranquilamente no Recife. A partir do Rio Capibaribe, vemos os contrastes entre os prédios de luxo e as palafitas fincadas nos mangues. As praças estão tomadas por moradores de rua. Nos sinais de trânsito, vemos pessoas ostentando placas que a gente costumava ver nos tempos de seca no sertão: “Estou com fome”. Nos supermercados, é rara a vez que o cidadão não é abordado por mendigos, pedindo um pacote de macarrão, feijão, fubá. O que dizem nossas autoridades, que vivem a comemorar os números da “pujança econômica” do estado?
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins (#OxeRecife) e Genival Paparazzi (Acervo #OxeRecife)