Unesco: Reserva Natural Serra das Almas é posto avançado da reserva da biosfera da caatinga

Localizada entre os municípios de Crateús (Ceará) e Buriti dos Montes (PI), a Reserva Natural Serra das Almas é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) reconhecida, pela Unesco, como Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Caatinga. É que abriga uma representativa área de Caatinga preservada e promove interação com as comunidades rurais do seu entorno. O que é correto. Não adianta simplesmente criar uma RPPN. É preciso todo um trabalho em busca da sustentabilidade, da preservação e de conscientização ambiental da população local. A unidade é a maior reserva particular do Ceará, conta com 6.285 hectares de área protegida.

Resguarda quatro nascentes que contribuem para o escoamento de 1,5 bilhão de litros de água. Estoca mais de 1,6 milhão de toneladas de carbono, além de sequestrar, anualmente, quase 23 mil toneladas de carbono da atmosfera. Possui, ainda, fauna com espécies ameaçadas de extinção. Bacana é que a RPPN possui a Associação Caatinga, e vários projetos em execução. Um deles é “No Clima da Caatinga”, através do qual a população rural tem acesso desde 2010 a tecnologias sociais sustentáveis. E elas vão da instalação de canteiros e banheiros biosépticos (técnica que trata os efluentes domésticos em âmbito local, de modo simples, seguro e eficiente, com a ajuda da natureza) a fogões que poupam lenha, ainda muito usada no Sertão, principalmente depois do disparo dos preços do gás de cozinha. Também são incentivados os meliponários (para criação de abelhas),o que implica em geração de renda para as famílias da região protegida.

Entre  ações, foram implantadas cisternas de placa (para armazenar água da chuva), fogões ecoeficientes (criados para reduzir o consumo de lenha, o risco de doenças e acidentes domésticos), o forno solar e sistema bioágua (utilizado na irrigação por gotejamento). Agora a RPPN está implantando a “Conserva, a Escola da Caatinga”, com foco em equidade de gênero e no fomento ao empreendedorismo. Nessa primeira fase da iniciativa, as ações serão voltadas exclusivamente para o público feminino. Vinte mulheres moradoras do entorno da Reserva Natural Serra das Almas (RNSA), participam de oficinas, para aprender a conviver com o Semi Árido e desenvolver atividades que gerem renda, que lhes ajudem no sustento das famílias.

Outra ação está relacionada aos encontros de suporte à primeira infância, que visam acolher e orientar responsáveis por crianças de zero a seis anos sobre essa fase tão importante da vida. As reuniões abordam temas como nutrição, comunicação não violenta, vínculos familiares, saúde emocional, entre outros. “Nosso intuito com essa ação é oferecer às mães, pais e responsáveis das comunidades, que estão ao redor da Serra das Almas, um espaço de aprendizado e discussão sobre relações familiares e desenvolvimento infantil, tudo com a mediação de uma psicóloga especializada”, explica Marília Nascimento, coordenadora de Educação Ambiental da Associação Caatinga.

“As mulheres são grandes detentoras dos saberes tradicionais da Caatinga e ocupam um papel decisivo na mudança de paradigma necessária à relação do ser humano com a natureza. São multiplicadoras imediatas desse saber e grandes defensoras do meio ambiente. Por isso nossa escolha de trabalhar prioritariamente com as mulheres, público que compõe cerca da metade da população da região da Reserva Natural Serra das Almas”, complementa Daniel Fernandes. O projeto  “No Clima da Caatinga” é uma iniciativa patrocinada pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Já a Associação Caatinga é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, cuja missão é promover a conservação das terras, florestas e águas da Caatinga para garantir a permanência de todas as suas formas de vida. Desde 1998, atua na proteção da Caatinga e no fomento ao desenvolvimento local sustentável, incrementando a resiliência de comunidades rurais à semiaridez e aos efeitos do aquecimento global.

Leia também
Vamos deixar a Caatinga em pé?
Caatinga pega fogo e plantio de árvores nativas começa com ajuda da iniciativa privada
Povo e aceiros contra o fogo
Caatinga tem cooperativa de crédito de carbono
Casal cria duas reservas particulares de patrimônio cultural na Caatinga
Esforço pela preservação da caatinga e pelo sequestro de carbono no Sertão
Ação para recuperar nascentes na biodiversa Cordilheira do Espinhaço
O drama do  São Francisco e da caatinga
O combate à desertificação e a Amazoninha do Sertão
Como neutralizar as mudanças climáticas
Em nome de São Francisco e do Sertão
Árvores viram carvão no Sertão
Flora do Sertão sofre ameaça
Represa cheia vira “praia” no Sertão
Aceiros e povo contra o fogo no Sertão
Salvem os ipês, por favor
Por um milhão de árvores na Amazônia
MapBiomas confirma alerta feito há meio século: “O Rio São Francisco está secando”
Mudanças climáticas: Sertão sem água e caatinga cada vez mais seca
Velho Chico recebe 40 mil peixinhos
De olho no Sertão do São Francisco
Desmatamento no Sertão do Araripe
Empresa de energia solar (Insole) paga conta por uma boa ideia
Reforço para pequeno produtor
Ministro manda oceanógrafo para caatinga. E o Sertão já virou mar?
Crise hídrica: ” tenho sede” e “esta sede pode me matar”, adverte Gilberto Gil
Cisternas mudam a vida dos sertanejos
FPI: A despedida da vida no lixão
FPI resgata animais em risco no Sertão
A Serra da Canoa na caatinga
Gatinho órfão, onça puma volta saudável para a caatinga
Falta d´água é entrave ao crescimento
No Sertão, palhada da cana alimenta o gado de 51 mil criadores
Degradado, Sertão vai ganhar ação de reflorestamento em 2021
Caatinga ganha 321 mil árvores nativas 
O Rio São Francisco está secando
Ventos que transformam no Agreste
Prêmio para quintais agroecológicos
MST: Da ocupação de terras ao plantio de 100 milhões de árvores
Umbuzeiro é o refrigério do Sertão

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos:  Divulgação / Associação Caatinga e Lídio Parente / Acervo #OxeRecife