Rua da Imperatriz: Sobrado onde nasceu Joaquim Nabuco está à venda ou disponível para aluguel

Vende-se um sobrado de quatro pavimentos na Rua da Imperatriz,  no Bairro da Boa Vista. O imóvel também está com placa de “aluga-se”, no caso de ninguém querer comprar, o que não está fácil naquela via. Não se trata de um sobrado qualquer, embora outros tenham arquitetura mais trabalhada e mais bonita. O sobrado em questão, que fica na esquina com a Rua Bulhões Marques, é simplesmente aquele onde nasceu em 19 de agosto de 1849, ninguém menos que o abolicionista mais famoso do Brasil, Joaquim Nabuco.  O prédio, no entanto, está quase em ruínas. Talvez em situação melhor do que aquele em que morou, ali perto, a menina Clarice Lispector, que viria a se tornar uma das maiores escritoras da língua portuguesa.

Infelizmente as nossas autoridades parecem não ter interesse em zelar pelos bens culturais que nós temos. No caso do sobrado da Imperatiz já funcionou de tudo lá: armazém, loja de confecções, secos e molhados. Pelo menos, é o que dizem os mais antigos. Lembro-me que um dos últimos comércios ali instalados tinha roupas e acessórios populares, bolsas, cintos, blusas, bermudas, calças, vestidos. O sobrado, no entanto, é uma vítima da crescente decadência da Rua da Imperatriz, onde cerca de 40 lojas estão fechadas, fato comum em bairros como Boa Vista e Santo Antônio, onde a Prefeitura e o seu  Recentro ainda não conseguiram dar jeito. E a Rua da Imperatriz está cada dia menos atraente e mais inóspita. Infelizmente. E as lojas permanecem fechando. No caso do sobrado Nº 147, poucas pessoas que transitam apressadas pelo local têm ideia de sua importância histórica. Sequer o percebem, pois deixou de ser uma loja para transformar-se em mais um espaço vazio. Porém uma placa da campanha “História nas Paredes”, do Instituto de Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco ressalta o sobrado, tão característico das moradias do bairro durante o século 19, onde os proprietários mantinham seus comércios no térreo, habitavam o primeiro e o segundo andares, e reservavam os superiores para seus empregados. Tanto era assim, que Nabuco nasceu no segundo pavimento (geralmente destinado aos dormitórios das numerosas famílias da época). Diz a placa do IAHGP:

“Neste sobrado, no segundo andar, na Rua Aterro da Boa Vista, atual Rua da Imperatriz Tereza Cristina, nasceu Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, em 19 de agosto de 1849.  Líder abolicionista, político, diplomata, historiador, jurista e jornalista. Formado em 1870 pela Faculdade de Direito do Recife. Foi sócio correspondente do IAHGP. Faleceu em Washington, em 17 de janeiro de 1910”

Vamos, pois, ter cuidado e ficarmos alertas para evitar que o  prédio seja destruído ou descaracterizado. Pois infelizmente é o que sempre acontece no Centro da  Capital pernambucana (à exceção, claro, do Recife Antigo). Os comerciantes descaracterizam por completo o andar térreo de prédios seculares, ao contrário do que ocorre em outras partes do mundo. Danam mármore, placas de acrílico, letreiros monstruosos de gosto duvidoso sob o olhar conivente de nossas autoridades. Em ruas como a da Imperatriz (na Boa Vista) e a Nova (Santo Antônio), a gente tem que olhar para cima, para contemplar a arquitetura original dos edifícios construídos nos séculos passados. Porque no térreo é aquilo que vocês estão vendo, atentados estéticos para todos os lados, como se pode observar na foto abaixo, principalmente no prédio do centro que ainda conserva no primeiro e segundo andares a linda fisionomia original.

Lojas fechadas e prédios descaracterizados transformam a Imperatriz em rua fantasma e com personalidade violada

Lembro-me que, quando adolescente – ao viajar com meu pai – ele ressaltava, já naquela época, como capitais da Inglaterra, França e até da Argentina respeitavam a arquitetura original de velhos edifícios, mesmo que o andar térreo fosse aproveitado para lojas, restaurantes, cafés. “Veja como fica bonita essa porta de vidro com os letreiros dourados, respeitando a arquitetura do  prédio, sem agressão nenhuma”, disse-me, certa vez, não lembro mais em que cidade da Europa. “Esse cuidado também é visto em Buenos Aires”, ressaltou. “Mas lá no Recife, o costume é destruir o que é bonito”. E olhem que meu pai morreu em 1978. Ou seja, se naquela época o descalabro já era visível pessoas sensíveis, imaginem agora quando a situação só fez piorar!

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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