Da primeira vez, não acreditei. Estava com um grupo das chamadas Caminhadas Domingueiras Olhe pelo Recife, quando me deparei com essa situação. Como se não bastasse a descaracterização dos bonitos sobrados da Rua da Imperatriz, no bairro da Boa Vista, o prédio histórico onde nasceu o abolicionista Joaquim Nabuco (1847-1910) está caindo aos pedaços. E o que é pior, encontra-se à venda, o que é uma pena, pois ninguém sabe o seu destino.
Estive no local, de novo, em dia de passeio com o grupo Caminhadas Culturais. E constatei que as placas de venda ainda estão no mesmo local. Em clima de decadência, a Imperatriz (antiga Rua do Aterro da Boa Vista) tem cerca de 20 imóveis fechados, que funcionavam como lojas. Incluindo o sobrado que, até bem pouco tempo, possuía um comércio no andar térreo. O que incomoda é que além de ser um exemplar do que foi o centro do Recife, nos seus tempos áureos, o edifício tem história. Foi lá que nasceu Nabuco, nosso abolicionista mais famoso. E também jurista, político, jornalista e diplomata (faleceu como embaixador do Brasil em Washington). Quem passa ao lado do sobrado decadente, no entanto, só sabe que ali nasceu figura tão importante da nossa história, devido a uma placa colocada pelo Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, da campanha História nas Paredes, do próprio Instituto, de quem Nabuco foi sócio correspondente. Para muitos, o prédio não passa de um a mais, entre os abandonados e desocupados do centro, como tantos na Boa Vista, Santo Antônio e São José.
De acordo como urbanista, arquiteto e nosso eterno guia nas chamadas Caminhadas Domingueiras, Francisco Cunha, o prédio tem estilo colonial e já é contemporâneo do neoclássico sem, no entanto, ter-se influenciado por esse último. É portanto, uma pérola não só histórica, mas também arquitetônica. Vamos torcer para que novo presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Antônio Campos, entre no circuito e consiga dar ao sobrado o mesmo destino do Engenho Massangana, onde o escritor passou a infância. e que hoje preserva a memória do abolicionista. Afinal, o abolicionista é o patrono da instituição. Vamos torcer para que Campos descubra rapidamente os caminhos das pedras: projeto cultural, restauração, de financiamento. E que transforme o espaço em Museu Joaquim Nabuco. É importante que preservemos nossa memória. Sem ela, o que seria da história?
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Texto e fotos: Letícia Lins/ #OxeRecife