É triste, a fome. Se ela já vinha se agravando na gestão passada, chegando a eclodir durante a pandemia, quando foi decretado o isolamento social, agora o mal não ter fim. Mesmo com a retomada dos programas sociais no Governo Lula. Não há um sinal de trânsito nem uma fila no caixa de supermercado, onde não se veja pedintes implorando por um pacote de macarrão, fubá, leite. O preço deste inclusive anda tão proibitivo que, nos supermercados, estão protegidos por caixas de acrílico e com mecanismo para alarme, em caso de furto. “Proteção” que a gente costuma ver em peças caras, de lojas com grifes famosas. É que para muita gente, o leite virou sonho de consumo.
“Foi o jeito que a gestão do supermercado encontrou para evitar que fossem levados com tanta frequência”, confidenciou uma funcionária do Bompreço de Casa Amarela, agora pertencente à Rede Carrefour. No Pão do Açúcar do bairro do Parnamirim, até assalto famélico já foi registrado, conforme você pode observar em um dos links abaixo. Tenho visto muitas cenas de fome em vários bairros da cidade. Hoje o fotógrafo Genival Paparazzi publicou em suas redes sociais mais uma, e é constrangedora. Um homem catando e ingerindo restos de comida que encontrou no lixo. Isso em pleno centro da cidade, ali na Avenida Conde da Boa Vista, perto da Agência Bancária do Bradesco, onde a prática vem se tornando cada vez mais frequente.
Paparazzi, que teve uma infância bem difícil, ficou muito sensibilizado com o que viu. Esteve em casa, pegou uns pedaços de carne que tinha preparado para o almoço, juntou com o pão do jantar e levou para o rapaz da foto superior, cujo nome ele não perguntou. A fome se espelha, também, em calçadas e sob as marquises de ruas como Imperador (no Bairro de Santo Antônio) ou Aurora (na Boa Vista). Nas praças, é grande o número de pessoas sem teto, que vivem à espera de doações para matar o pesadelo da fome . Muito triste, mas triste mesmo. “Todos os dias, vejo cenas como essas na Avenida Conde da Boa Vista, é muita gente catando restos de comida”, afirma Paparazzi. Ele diz que nem os vasilhames de refrigerantes escapam da busca. “Bebem restos de guaraná, Coca-Cola, até de água mineral”.
No noticiário, a Prefeitura do Recife comemora os números do emprego. A cidade foi a “segunda” do Nordeste a “gerar mais postos de trabalho”. Isso em doze meses (fevereiro de 2022 a janeiro de 2023), quando foram criados 25.401 empregos, um crescimento de 5,03 por cento. Esse aumento, no entanto, parece não refletir como deveria na qualidade da vida do recifense. E nem é preciso citar números – como o IDH, os deficits de saneamento e moradia por exemplo – para perceber a triste realidade. Basta, somente, observar as ruas e praças do Recife. Elas nos dizem tudo sobre o que, há de verdade, por trás das otimistas estatísticas oficiais.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Genival Paparazzi) / G.F.V Paparazzi / ZAP (81)995218132)/ gfvpaparazzi@gmail.com e Letícia Lins