Patrícia Gonçalves Tenório comemora 20 anos de produção literária lançando cinco livros na Bienal

“Basta, no meu entender, sentir que se poderia viver sem escrever, para não mais se ter o direito de  fazê-lo”. A frase de Rainer Maria Rilke (1875-1926) em “Cartas a um jovem poeta” é sempre invocada  por Patrícia Gonçalves Tenório, que não vive sem escrever. Que, aliás, escreve para viver. E a produção é tanta que às 19h desse sábado (7/10), ela estará lançando “somente” cinco obras, na Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, que ocorre no Centro de Convenções. Com a iniciativa, comemora 30 títulos publicados, ao longo de 20 anos de carreira  literária e acadêmica. E o nome da coleção é sugestivo: “Trinta Livros”. Patrícia é uma autoridade reconhecida em “Escrita Criativa” no Brasil. E uma das mais ativas. Não só na verve, como também na disseminação (até internacional) e no ensino da prática.

Às vezes, produz um poema só para descansar da produção de um texto. Ou um texto vira inspiração para um poema. E isso me  que me leva a indagar: “Pelo que observo, você escreve de forma compulsiva e tudo que acontece ao seu redor – a neve caindo na Europa, o sol nascendo em Boa Viagem, a doença do cão de estimação – é motivo para prosa ou  verso. Você se considera uma escritora criativa ou compulsiva?”. E ela responde, sem hesitar: “os dois”. Na verdade, Patrícia é muito mais que isso. Pois é, sim, muito versátil. Versátil até demais. Acreditem, com tanta literatura e letrinhas na bagagem, dá para pensar que ela é analista de sistemas? Que estudou Ciência da Computação? Residindo em Maceió, ainda na dependência dos pais, queria morar no Recife. E escolher tal curso foi a única forma de convencer a família que precisava residir na capital   pernambucana. E veio, pois o curso não existia em Alagoas.  Depois, abraçou a Literatura em pós-graduações. E fez desta a razão do seu viver.

Visitas às casas de dez escritores renderam um livro de contos de Patrícia. Na foto, em Valparaíso, casa de Pablo Neruda

Pois não é que a Ciência da Computação – uma coisa puxa outra – também ajuda na produção literária!  Pelo menos, é o que reconhecem as professoras Bernadete Bruto e Elba Lins, especialistas em Escrita Criativa, no posfácio de Samanta, um dos últimos livros de Patrícia: “Nada escapa à autora, que aproveita o conhecimento de analista de sistemas, e, através de modelos de fluxos e processos, constrói possíveis caminhos para o enredo, unindo a linguagem de programação e a filosofia do eterno retorno de Samanta”.

Samanta é dividido em onze capítulos : Deutche, Die Mutter, Der Vater, Kinder, Verantwortung, Familie, Freunde, Der Treff, Schlaflorsigkeit, Lieben, Reise, denominados assim mesmo, em alemão. Respectivamente alemão, a mãe, o pai, responsabilidade, família, amigos, o encontro, insônia, amor, viagem, pois a trama se desenrola na Alemanha, São Paulo e Pernambuco. E o protagonista, Hans, é alemão, Aliás, um alemão de pele negra, fruto de produção independente, cuja mãe apelou a um banco de esperma. Adulto, vem a Pernambuco procurar o pai, que é brasileiro e mora na Praça de Casa Forte, no Recife. O livro é uma delícia. Eu, por exemplo, devorei e só parei de ler quando terminei.  E nele, além do “fluxo de dados”, a designer Jaíne Cintra lançou mão de inteligência artificial para as ilustrações.  O curso de Ciência da Computação facilita até hoje a vida de Patrícia, que sabe usar muito bem os recursos da informática e até as redes sociais na sua produção.  Até mesmo no planejamento de um livro e na técnica para produzi-lo. “Tudo que a gente estuda, a gente usa sempre”, diz. O resto é , como dizia Ariano Suassuna, “a instância criadora” e o “ofício, o trabalho diário de escrever”.

Fora Samanta, ela lança na Bienal mais quatro outros: Breves estórias do tempo, reunindo dez contos inspirados em casas de escritores que visitou pelo mundo, inclusive as de Herman Hesse e a Pablo Neruda,  das fotos acima. E lança, ainda: Prosa Reunida (textos inéditos); Poesia reunida (poemas selecionados entre os produzidos de 2020 a novembro de 2022); Os livros (22 resenhas publicadas em seu Blog, em 2022). E também haverá um debate sobre “Escrita Criativa” e o lançamento do livro “Estudos em escrita criativa no Brasil”, por ela organizado, e que junta artigos de 25 especialistas. Foi na Bienal de Pernambuco aliás, em 2017, que as aulas residenciais em “Escrita Criativa” foram apresentadas em público pela primeira vez. Todas as publicações são bilíngues porque serão lançados, também, na Feira de Livros de Frankfurt, a maior do gênero no mundo. E que, pela primeira vez em 75 anos, abre espaço para o debate sobre Escrita Criativa. E, claro, o Brasil à frente, por iniciativa de Patrícia.

Nos links abaixo, informe-se sobre livros, Bienal e escrita criativa.

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Serviço
No Recife:
Lançamento de cinco Livros de Patrícia Gonçalves Tenório e um de diversos autores sobre Escrita Criativa (com debate)
Onde: 14ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco (no Pavilhão de Lançamentos)
Local da Bienal: Centro de Convenções de Pernambuco
Quando: sábado (7/10)
Horário: 19h
Com: Adriano Portela, Arthur Telló, Elba Lins, Jaíne Cintra, João Augusto Lira, Maria do Carmo Nino, Patrícia Gonçalves Tenório, Raldianny Pereira
Preços dos livros: variam de R$ 30 a R$ 40

Em Frankfurt:
Onde: 75ª Frankfurter Buchmesse  (Hall 5.0- Sala Exchange (Stand B 158)
Quando: sexta-feira (20/10)
Horário: das 14h às 17h
Com: Adriano Portela, Bibiana Simionatto, Fred Linardi, Guilherme Azambuja Castro, Luís Robero Amabile, Maria do Carmo Nino, Patrícia Gonçalves Tenório, Taldianny Pereira
Preços dos livros: entre 12  e 30 euros

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação 

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