Fundador da Escola Social Cobogó das Artes – que tem por objetivo democratizar o acesso da população a todos os tipos de arte – Adriano Portela é também jornalista, cineasta, diretor e ator de teatro, mestre e doutorando em Teoria da Literatura. Já publicou onze livros, entre romances, ensaios, contos. Agora, prepara-se para lançar Rio a quatro mãos que, como o o título está dizendo, é um livro produzido a quatro mãos. Um exercício de escrita, em que ele e Patricia Gonçalves Tenório simplesmente se revezaram na elaboração dos doze capítulos da obra. Não deve ter sido fácil, mas os dois “tiraram de letra” – como diz a expressão popular – e conseguiram construir uma história tão bem amarrada que, muitas vezes, o leitor fica confuso sobre a autoria do texto que está lendo. No meu caso, vez por outra voltava a página. “Será que esse texto é de Adriano ou Patricia”?
Patricia é escritora, tem 20 livros publicados. Um deles é A baronesa (2020), em formato de vídeo post, que foi gravado com Adriano, nos primeiros meses da pandemia. Ela também é bambambã na área. É nacional e internacionalmente premiada, não só por algumas de suas publicações – como As joaninhas não mentem, A menina do olho verde, Como se Ícaro falasse – como pelo conjunto da obra. Mestre em Teoria da Literatura e Doutora em Escrita Criativa, ministra sempre cursos presenciais e on line sobre o assunto. Em 2021, quando se comemorou o bicentenário do nascimento de Fiódor Dostoiévski (1821-1881), Adriano convidou Patricia para um desafio: produzir, juntos, um livro inspirado no escritor russo. A quatro mãos. O ponto de partida foi Notas do Subsolo – “Destruam meus desejos, apaguem meus ideais, mostrem-me alguma coisa melhor, e serei seu seguidor” – e os dois mergulharam na tarefa, lançando mão de uma ideia original. Criaram o livro de forma que cada capítulo passe por um cômodo de uma casa, começando, claro, pelo subsolo. Depois, sala, cozinha, quarto, banheiro, corredor, área de serviço, quintal, copa, despensa, porta, jardim.
Mas ao invés de ambientado no século 19 ou na Rússia, Rio a Quatro mãos se passa no Rio de Janeiro, durante os anos de chumbo da ditadura militar de 1964. Nele, Mariana que namorava um “comunista de beira de piscina” segundo a definição de seus parentes, esconde-se dos agentes da repressão em um subsolo dos tios. O relato tem música, concerto, medo, dias sombrios, glória, traição conjugal, “crime e castigo”. Não convém, aqui, informar mais detalhes, para que a leitura não perca a graça. Mas que o livro ficou muito bom, ficou. Para ler de um só fôlego. Ele será lançado às 19h da próxima quinta-feira (24/3), no Teatro Hermilo Borba Filho, no bairro do Recife.
Diz Adriano que escrever um livro de ficção a quatro mãos não chegou a ser um processo tão complicado. “Pelo contrário, foi muito prazeroso. Eu me sentia recebendo e enviando cartas”. E informa porque decidiu optar pelo método, até então inédito na vida dos dois parceiros literários: “Na realidade eu estava querendo experimentar esse jogo da escrita, de lançar e receber desafio a cada capítulo e desejava fazer isso com uma autora que admiro e confio”, afirma ele. “Lidar com o texto alheio é algo que requer muito respeito e cuidado, é preciso total afinidade artística para que esse jogo de quatro mãos funcione”. Lembra que Dostoiévski – também admirado por Helena (violinista) e Marcos Vinícius (maestro), o casal de amantes no romance – – é “nosso grande mestre da escrita”. E conclui: “Ninguém, sabe criar estratégias para uma boa cena de crime”.
Adriano explica: “Em Notas do Subsolo temos um autor provocativo, lançando ideias que mais tarde ele mesmo usaria em suas grandes obras Crime e castigo e Os irmãos Karamazóv”. O escritor lembra que Rio a quatro mãos, “já prestando uma homenagem a um dos maiores romancistas e pensadores da história, começa no subsolo e segue invadindo os cômodos da casa”, como aliás expliquei acima. Desafia: “Quem sabe estamos trilhando um caminho parecido com o do mestre, lançando sementes para o futuro”. Adriano e Patrícia são grandes amigos. Ele a considera “minha madrinha literária”. E ela o chama de “afilhado literário”. É provável que façam outros trabalhos juntos. Na quinta, além de Rio a quatro mãos, será lançado um livro de ensaios, organizado por Patricia: Estudos em escrita criativa. E Adriano está entre os autores convidados.
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Serviço:
O que: Lançamento do livro “Rio a quatro mãos”, de Patricia Gonçalves Tenório e Adriano Portela
Na mesma noite será lançado “Estudos em Escrita Criativa”, organizado por Patricia Gonçalves Tenório
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho, Cais do Apolo
Quando: Quinta-feira, 24 de março
Horário: 19h
Entrada franca
Preço dos livros: R$ 15,00 (Rio a quatro mãos) e R$ 45 (Estudos em Escrita Criativa)
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação