Parem de derrubar árvores (467). Tratada à míngua, árvore tomba no Recife

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No último final de semana, uma árvore desabou em frente à Universidade Federal Rural de Pernambuco, no bairro de Dois Irmãos. De acordo com proprietários dos quiosques atingidos e com a própria UFRPE, vários pedidos haviam sido feitos para que a árvore fosse monitorada, já que aparentemente apresentava risco de queda. Solicitações foram feitas várias aos órgãos competentes: desde poda, tratamento até erradicação. Todos os registros foram em vão. Resultado: perdeu-se uma planta adulta, que fornecia uma sombra imensa e que contribuía para o conforto térmico de comerciantes e pedestres, que por ali ficam ou passam.

A árvore não ficava na parte interna da UFRPE, mas sim na calçada, sendo – portanto – sua manutenção de responsabilidade da Prefeitura do Recife, via Emlurb e Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade. A planta desabou em um domingo de chuva forte, como o do último dia 6 de abril. Infelizmente é só o que a gente vê na cidade. As árvores abandonadas à própria sorte, com podas mal feitas e entregues a um destino sombrio. Lembrei que desde agosto de 2024 protocolei junto à Emlurb um pedido de poda para a Rua da Alliança, no bairro de Apipucos. O retorno nunca aconteceu. Naquela grande chuvada que deu já neste ano, um galho de um pé de pau-brasil caiu sobre minha casa. Solicitei de novo a presença da Emlurb para remoção e poda, mas até agora nada. O galho imenso foi removido com a boa vontade do Seminário vizinho à minha casa, que cedeu um trabalhador para fazer o serviço que seria da Emlurb, e para o qual pagamos impostos bem pesadinhos, não é?

Reforcei o pedido de poda, mas até agora, nada… E, o que é pior, a Neonergia veio e fez só do lado que lhe interessa, deixando as árvores peladas de um lado só. Lembrei, também, do paisagista e biólogo Ricardo Cardim, que foi entrevistado em São Paulo após uma tempestade que derrubou mais de 350 árvores. No Recife, já houve dia em que, em uma só chuvada, caíram mais de 40. Temos falta de cuidados fitossanitários, podas que deixam as árvores sem equilíbrio (como aquelas feitas pela Neonergia para proteger fiação aérea), e mutilações radicais que levam as plantas à morte. No Recife, infelizmente, a ação da motosserra insana é cruel, comete-se arboricídios na construção e requalificação de calçadas e até mesmo na implantação de parques (no Japão, há operações de guerra para transplantes de árvores adultas, quando é necessária alguma erradicação).

Na nossa cidade, as vítimas de arboricídios são muitas. Só aqui no #OxeRecife, já são mais de 450 postagens, com 1.213 árvores eliminadas da paisagem recifense. Alguém sabe dizer os números da reposição? Quando vejo a devastação, fico pensando no que diz Ricardo Cardim, biólogo, paisagista e mestre em botânica pela USP, que foi entrevistado durante o temporal que derrubou mais de 300 árvores na capital paulista, em apenas um dia. Ele não culpou só as chuvas pelo desastre.

O botânico criticou sim a “falta de manutenção das árvores e de investimentos na arborização de São Paulo, o que leva a quedas em tempestades”. Também deu um panorama do que vê por lá, quando o assunto é arborização urbana: “árvores inadequadas, espécies erradas, árvores anãs, árvores com cimento enforcando o solo, muretas que não deixam entrar água, podas mutiladoras, cupins sem tratamento”, diz ele. Qualquer semelhança com o Recife – a capital nacional do arboricídio – não é mera coincidência….

Nos links abaixo, perdas em Dois Irmãos e bairros vizinhos da Zona Norte, como Apipucos e Macaxeira.

Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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