Até que eu tinha dado um tempinho. Sei que é carnaval, tempo de folia, mas não posso deixar de registrar nossas árvores mutiladas. É sair um pouco, e já começo a me defrontar, mais uma vez, com os lastimáveis toquinhos daquilo que já foram elas um dia. O primeiro encontrei na Avenida Recife, caminho que normalmente utilizo para ir da Zona Norte à praia de Boa Viagem. Está, no canteiro central da via, um pedacinho de tronco, com uma folhinha denunciando que há, ainda, um pouco de vida ali. Fica perto da esquina da Rua Jean Emile Favre, no Ipsep.
Encontrei mais outro toco na Rua Dolores Salgado, no bairro de Apipucos. Pelo formato, a planta sacrificada devia ser uma palmeira já adulta. E na Rua Coronel João Rego Barros, que margeia o Açude de Apipucos, mais outra vítima da motosserra insana. A árvore, que não atrapalha nenhuma fiação, não foi podada, mas mutilada mesmo. Não restou nem uma folhinha, mas, felizmente, elas começam, timidamente, a aparecer. Só esse ano, o #OxeRecife já encontrou 25 árvores assassinadas ou irremediavelmente mutiladas pelas ruas da Capital.
Como estou andando menos, por conta do período de recuperação após fratura na fíbula, provocada por uma calçada assassina, a contagem entrou em banho maria, embora eu saiba que as árvores mutiladas não são poucas no Recife. Segundo a própria Prefeitura, através da Emlurb, desde 2013, foram erradicadas cerca de 5 mil na cidade. O discurso é de que para unidade erradicada, duas são plantadas. Mas, infelizmente, não é isso que a gente vê nas ruas. Basta dar uma voltinha, para ver a quantidade de canteiros vazios, unicamente ocupados por restos de pó de serra. Onde é que estão as mudas?
Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife