Corte de árvore no Recife está ficando igual à “Casa da Mãe Joana”, como diz a gíria, referindo-se a alguma coisa que não tem controle, uma bagunça geral. Se em nossa cidade há vários órgãos – como Emlurb e Celpe – que se encarregam de podas ( muitas vezes exageradas, beirando a mutilação), os particulares também se acham no mesmo direito de guilhotinar nossas silenciosas amigas. Nesta semana, encontrei esse descalabro aí da foto, em uma pracinha ao lado da Rua Anauro Dornelas Câmara, às margens do Açude de Apipucos, na Zona Norte do Recife.
De repente, ouço uma buzina. Era uma pessoa indagando o que eu estava fotografando no local. Nem respondi, porque o indivíduo me conhece, e sabe muito bem que o #OxeRecife tem uma campanha contra o arboricídio, e até criou a hastag #ParemDeDerrubarÁrvores. Isso porque uma das missões desse Blog é a defesa não só dos interesses da cidade e de sua gente, mas também da natureza que, todos sabem, é um bem universal.
A mais recente vítima da motosserra insana fica em área pública. Portanto, jamais poderia ser mutilada (como aconteceu) ou erradicada por um particular. Se o morador se sente incomodado ou vê algum risco para a segurança da comunidade, ele pode solicitar a poda ou erradicação à Emlurb. Isso, por exemplo, se a planta ameaça desabar. Mas só os órgãos oficiais podem fazer isso. E fazem até demais para o meu gosto, pois o que não falta no Recife é árvore mutilada nas ruas, praças e jardins.
Mas o que mais me chocou foi que o cidadão estava orgulhoso do “serviço” feito na árvore, ao meu ver um crime duplo: ambiental e contra o patrimônio. A “poda” não lhe deixou uma folha sequer e pode ser que a planta não consiga sobreviver, como já temos observando muitas vezes na cidade. “Gastei R$ 800 para fazer a poda e deixar a árvore como eu quero”, disse-me o autor intelectual da tentativa de arboricídio. Ou seja, para ele,é normal o que fez. Reclamou que “a árvore fazia sombra demais, atrapalhava as outras da praça”.
Disse o morador responsável pela mutilação: “Fazia tanta sombra que nunca cheguei a comer um fruto da mangueira”. Ou seja, culpou a árvore degolada pela infertilidade da fruteira vizinha, que sobrevive em um solo inóspito ao qual, acredito, ele nunca botou nem um quilo do adubo. Depois de documentar a degola, falei para ele que nenhum particular tem o direito de guilhotinar nem erradicar árvores de áreas públicas. Será que ele não sabe que as árvores de ruas, praças e jardins constituem um bem coletivo?
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife