“Fininho”, a tradição que veio de longe na Festa do Morro da Conceição

Os tabuleiros dão um colorido ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição, que fica no alto do mais conhecido morro da Zona Norte do Recife. E que até terça-feira, 8 de dezembro, é palco de uma das maiores manifestações religiosas de Pernambuco, em homenagem à Imaculada.  Muitos dos peregrinos sobem o Morro da Conceição já  pensando em matar a fome com alguma guloseima. E, para muitos deles, o Fininho de Nossa Senhora  é a “cara” gastronômica da festa, comparada aos cachos de uma fruta, vendida aos montes na Festa de Nossa Senhora dos Prazeres, a chamada Festa da Pitomba, de Jaboatão dos Guararapes.

Na Festa que mobiliza o Santuário, o fininho não pode faltar. Dia desses, uma leitora do #OxeRecife, em São Paulo, disse estar morrendo de vontade de comer o doce, que ela nunca viu nem entre os nordestinos que residem naquele Estado. Ela queria até a receita, que é guardada a sete chaves pelos produtores. “Saio de casa já pensando em comprar um fininho, pois só encontro o doce uma vez por ano, aqui no Morro”, afirma Simone Araújo, dona de casa residente em Casa Amarela. O que Simone não sabe é a iguaria vem de Limoeiro, município localizado a  77 quilômetros do Recife, onde a fabricação do doce é uma tradição secular. “Isso é uma coisa que vem de muito tempo”, afirma Raíssa Cristina da Silva. “Foi minha avó que ensinou a toda família”, conta Raíssa.

A avó, Maria José França, morreu aos 89 anos. Deixou muitos saberes como herança para os descendentes. Mas o fininho – que em Limoeiro chamam confeito – foi o mais importante deles, pois é o que garante o sustento da família, que mora no Sítio Gameleira, na área Rural de Limoeiro. Mas no interior do sítio fica  a Vila dos Confeitos, vilarejo assim conhecido por ser o local onde dezenas de parentes se revezam na produção dos doces. “Há alguns agricultores na família, mas todos vivem da venda do confeito”.

“É muita gente envolvida, um quebra a castanha de caju, outro prepara junto do fogão, um confecciona os canudos, outro corta os papéis, tem o que decora e a família preenche”, conta. E há ainda, um outro setor: o de venda. Raíssa faz parte dele. Dependendo do tamanho, o fininho custa R$ 5, R$ 10 e R$ 15. O maior é o mais sofisticado, porque ganha um tempero extra: a erva doce. Ela sabe, no entanto, que em 2020 o apurado não será o mesmo do ano que passou, devido à pandemia.

Mas resolveu arriscar, por achar que o medo do coronavírus é menor do que o tamanho da fé da população em Nossa Senhora da Conceição. E conta que apesar da Covid-19, não deixa de ir às ruas se enxergar chance de lucro. “Em anos normais, a gente vai a festas religiosas  em vários municípios, como João Alfredo,  Paudalho, Carpina, Feira Nova, Orobó”, conta. “Esse ano, infelizmente não houve a Exposição de Animais do Recife, que ocorre no Cordeiro, e onde os confeitos são muito procurados”, diz, referindo-se a uma das mais tradicionais feiras agrícolas do Nordeste, que geralmente ocorre em novembro, no Parque de Exposição de Animais, do Cordeiro. Ela diz, ainda, que uma das festas que confere maior receita é a de São Severino do Ramos, em Paudalho, a quem os devotos atribuem uma série de milagres e graças alcançadas.

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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife

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