Notícia falsa sobre o “Descobrimento” divulgada pela Secom é retirada do ar

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Não tem jeito. Além de negar fatos da história contemporânea – como não reconhecer a ditadura nem a tortura praticada pelo regime militar implantado em 1964 – o governo federal  nega a verdade até mesmo em relação a fatos que aconteceram há 522 anos, quando o Brasil foi “descoberto” pelos portugueses, que foram recebidos “com festa” pelos índios. Tenta falsear a história disseminando versões há muito tempo já revistas pelos historiadores.

Comemorada no último dia 22, a Data do Descobrimento virou uma polêmica sem fim, como tudo que acontece no governo liderado pelo ex-capitão. Distribuído pela Secretaria de Comunicação do Governo Federal o texto faz parte da Série sobre o Bicentenário da Independência, e foi produzido em Brasília. Acreditem: “O encontro entre índios e portugueses foi  pacífico, amigável e marcado pelo mútuo interesse. Dois nativos foram trazidos para a nau de Cabral como sinal de amizade e foram recebidos com muita festa”, afirma o texto oficial, referindo-se à chegada de Pedro Álvares Cabral ao país.

Distribuído pela Secom, foi postado nos sites de órgãos oficiais, inclusive da Fundação Joaquim Nabuco, Fundaj, que tem sede em Pernambuco. Indignados, pesquisadores e pesquisadoras da Fundaj divulgaram uma carta de “absoluto repúdio à veiculação na conta oficial da instituição (@fundajoficial) de texto destinado a marcar os 522 anos da chegada dos colonizadores europeus nas terras que viriam a ser o Brasil”. E acrescentam: “Texto redigido pela Secretaria de Comunicação do governo federal e que é atravessado por inverdades históricas e por completo desrespeito aos povos originários que foram massacrados pelo governo português desde o início do processo de ocupação com  as bênçãos da Igreja Católica”.

Enquanto midias sociais ironizam o “Descobrimento”, Secom divulga texto sobre “festa” que os indigenas fizeram para receber Pedro Álvares Cabral

Depois ratificam: “Violência colonial que é marca fundadora do Brasil e que ainda hoje persiste, transformada, no país”. Em seguida, reclamam: “O texto afronta, inclusive, trabalhos de profissionais de várias áreas da Fundaj (historiadores, cientistas, antropólogos, curadores, educadores, cientistas políticos) que há vários anos afirmam, em pesquisas, publicações, cursos e exposições, a natureza brutal e mortífera da colonização, tanto para povos indígenas quanto para os milhões de homens e mulheres negros escravizados no Brasil”. Os pesquisadores solicitaram, ainda, a retirada da publicação e “um pedido institucional de desculpas aos povos indígenas  por seus ancestrais terem sido, com esse texto mais uma vez violentados de modo tão vil”. O texto oficial não revoltou só os servidores da Fundaj. Os internautas não pararam de reclamar. Na noite da sexta, eram 350 comentários. No sábado, já eram quase mil. Todo mundo indignado. À tarde, o texto absurdo e mentiroso foi retirado do ar.

Abaixo, veja alguns comentários dos internautas:
“Vocês são um desserviço à sociedade, com esse tipo de atitude” (Patrick Rainaud)
“Que danado é isso? Invasão/ massacre/ colonização não é Descobrimento. Que falta de respeito aos povos originários” (Bruna Moury)
“Desserviço.  Contem a história verdadeira” (Rosimeire de Paula)
“Esdrúxulo e incoerente com os estudos contemporâneos. Avançamos tanto para regredir a um texto desses? “ (Erisvelton Melo)

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Reprodução das redes sociais

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