Camilla Odilon: do bairro do Jordão Alto (Recife) para a realização profissional na Irlanda

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“Com estudo e trabalho duro, conquistei uma vida até que digna no Brasil. Contudo, a desigualdade e a falta de oportunidades para mulheres como eu, sempre me incomodou muito. Conviver com isso, aliás, para mim, era insuportável. Para se ter ideia, aos 16 anos, fui chamada de ‘macaca chita e nojenta’ por uma ‘ex-sogra’, que não aceitava que eu namorasse ‘o filho branco’ dela. No mundo corporativo, quando uma preta ocupa um cargo de liderança, sempre será comparada e terá de provar, constantemente, que é capaz. Além disso, vai receber um salário baixo e trabalhar muito mais do que deveria. O Brasil precisa progredir muito nestas questões. Ainda, e infelizmente, engatinha”. Quem fala assim é Camila Odilon, 31 anos, um exemplo de vida, de cidadania e de superação. Não custa nada lembrar a sua história, nesse 25 de julho, Dia da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha.

Há três anos,  decidiu tentar uma vida melhor na Europa, onde chegou pouco antes da eclosão da pandemia de Covid-19 e sem saber falar uma palavra de inglês. Sem dinheiro e visto definitivo, se viu obrigada a conciliar os estudos com alguma ocupação profissional. E encontrou na faxina a garantia de seu sustento. Hoje, ela é palestrante e gerente de Marketing de uma empresa irlandesa, e mantém um projeto social de apoio a outros brasileiros que estão em Dublin e desejam trabalhar na área. Camilla começou fazendo faxina em empresas, até que caiu numa de Marketing. Um dia, decidiu montar um plano estratégico e apresentar para a Diretoria. “Fiz isso na cara e na maior coragem. E, ali, conquistei um novo emprego: o de assistente de Marketing – e este foi um dos dias mais felizes da minha nova vida. A brasileira, nordestina e pernambucana tinha dado mais um passo importante”, lembra. Filha de pais pobres, ela havia superado barreiras no Recife,  onde se graduou e se pós-graduou em Marketing. Ainda no Recife,  conquistou chances interessantes de trabalho.

Aos 28 anos, se tornou gerente de Marketing numa empresa e passou a lecionar em cursos de pós-graduação em universidades. No entanto, a vontade de tentar uma vida melhor fora do Brasil e de conhecer outro país se aliaram à indignação que nutria pelo sem-número de vezes que havia sido discriminada, hipersexualizada e subestimada, sobretudo em recrutamentos dos quais participou. Foi então que a pernambucana pediu demissão do emprego, terminou um relacionamento, se despediu da família e, com o diploma do ensino superior embaixo do braço, deixou seu país, em 2020. “Ser mulher no Brasil é muito difícil, ainda mais sendo preta e pobre, moradora de periferia, filha de pais simples, e proveniente de uma família humilde. Hoje em dia, sou muito bem resolvida com tudo o que passei. Mas, não é algo que se esqueça. Quando vim para a Irlanda, eu queria viver onde eu tivesse oportunidades mais dignas e onde pobres e ricos frequentassem os mesmos lugares. Foi uma segunda chance para mim”, confidencia Camilla.

Logo, Camilla começou a fazer faxina em empresas, até que caiu numa de Marketing. Um dia, decidiu montar um plano estratégico e apresentar para a Diretoria: “Fiz isso na maior cara e coragem. E, ali, conquistei um novo emprego: o de assistente de Marketing – e este foi um dos dias mais felizes da minha nova vida. A brasileira, nordestina e pernambucana tinha dado mais um passo importante”, lembra. Após tanto esforço, conquistou o visto definitivo (Critical Skills), se pós-graduou em Data Science Applied to Marketing, na Portuguese Institute of Marketing Administration (de Portugal), e abriu uma comunidade na Internet de apoio a outros brasileiros que estão na Irlanda e que não conseguem trabalho. A ajuda on-line, recentemente, ganhou novos contornos. Camilla instituiu o projeto social “Marketing na Irlanda”. Ela explica: “Por meio da comunidade, eu e voluntários oferecemos cursos, palestras e workshops. Contamos nossas histórias de vida, compartilhamos desafios e experiências e indicamos caminhos para que os brasileiros que estão na Irlanda e que trabalham com Marketing também possam se organizar, arrumar um emprego e se manter. A falta de estrutura faz com que muitos entrem em depressão”, diz.  E conclui:

A incerteza afeta a confiança, a autoestima. E eu sei que é possível mudar isso. Sou prova viva”.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação

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