Polícia Militar protege caminhantes no Centro mas não impede violência: o caso Geraldo Maia

Sinceramente, tem muita gente que não frequenta o Centro do Recife por temer a violência: assaltos, furtos até troca de tiros. E o resultado é o esvaziamento cada vez maior de bairros como Santo Antônio, São José, Boa Vista, com péssimas consequências para o comércio. Por esses bairros, transitamos, no final de semana que passou. Era uma turma grande do Grupo Bora Preservar, que estava em um “arruar”, para conhecer a história dos nossos velhos e desativados cinemas. Éramos umas 60 pessoas. E quando não estamos solitários, claro, o temor é menor. O que nos surpreendeu é que durante todo o percurso, uma viatura da Polícia Militar nos acompanhou espontaneamente, pois não havia sido solicitada segurança.

Nas últimas três vezes que caminhei pelo Centro vazio do Recife, aos finais de semana, não foi só o fato de estar em grupo que nos espantou o medo. É que  há sempre um carro da Polícia Militar acompanhando as caminhadas, independente do grupo a que pertencemos. A viatura nos vê, e já está perto de nós. Principalmente quando passamos por Santo Antônio e São José. Temendo assaltos, os guias e organizadores não permitem que um ou outro desavisado do grupo se afaste. Mas domingo, eu abusei, para fazer as fotos que pretendia. E quando os coordenadores do grupo reclamavam, eu dizia.”Tem problema não, a PM está aí”. E estava, uma viatura do 16º Batalhão da PM nos acompanhou  por todo o roteiro. E até reduzia a velocidade, quando um caminhante se desgarrava do grupo, como foi o meu caso.

Grupo Bora Preservar percorreu o Centro do Recife em paz no domingo, porém uma viatura da PM não saiu de juntoNa vez anterior que saí como Bora Preservar, percorremos o Bairro de São José, mas ao final da caminhada, a maioria decidiu ir para o Bairro do Recife. Ficamos três pessoas, no Cais de Santa Rita, mas chovia e não conseguíamos táxi, o Uber estava fora do ar, e pegamos um ônibus qualquer só para fugir da chuva. Descemos em frente à sede do quartel, que fica na Rua Coração de Maria, onde por muito tempo funcionou a Estação Rodoviária do Recife. Ali, no sentimos seguros, porque havia viatura que esperou que pegássemos uma condução. Os três – eu, uma amiga e um amigo – estávamos “mortos de medo”, pois as ruas ficam desertas aos domingos e nós havíamos nos separado do grupo, em passeio a pé sobre os caminhos de Frei Caneca, líder Revolução de 1817 e da Confederação do Equador (1824). Por coincidência, o o 16º Batalhão se chama Frei Caneca, o subversivo do século 19 que virou herói.

Parabéns, portanto, para o Comandante do 16º Batalhão, Tenente Coronel Hugo Alexandre que nos proporcionou  um passeio em paz, sem temor de algum tipo de violência no percurso. Resta saber se esse policiamento preventivo e cuidadoso, acontece, também, durante os dias úteis, quando há movimento maior principalmente no chamado vuco-vuco, como é conhecido o comércio do Bairro de São José. Perguntei a Emanoel Correia, Coordenador do Bora Preservar no passeio, se a presença da PM havia sido solicitada. “Não, não pedimos. Foi gentileza deles e por esse motivo pedimos uma salva de palmas para esses guerreiros, ao final da caminhada”, diz Correia. “Acho que pensaram que éramos turistas, gringos, de algum transatlântico”, afirma Antônio Marinho, outro integrante do grupo.

Cantor Geraldo Maia não teve a mesma sorte do Grupo Bora Preservar e foi assaltado perto do Mercado de São José

Na segunda-feira, ao ler os jornais, descobri  que o cuidado da PM faz mais sentido, do que eu pensava. E a violência é muito comum. O cantor Geraldo Maia, que mora no bairro de São José, foi assaltado por quatro meliantes no domingo, justamente por uma das ruas por onde passamos, a das Calçadas.

Os assaltantes tinham peixeira, arma de fogo e derrubaram Geraldo Maia, chegando a imobilizá-lo com os pés de um deles no seu pescoço. Levaram óculos escuros, sandálias, documentos, cartões de crédito. “É uma tragédia esse bairro de São José. Poderia ser um bairro lindo, luxuoso, precioso, onde todo mundo quisesse ir e vir, mas é um bairro fantasma que só existe durante o dia, quando o comércio está aberto”, lamentou o cantor em entrevista à Folha de Pernambuco, após prestar queixa na Polícia Civil. Ou seja, quando a gente festeja, de repente vem uma notícia em sentido contrário. Solidariedade do #OxeRecife ao artista, que enfrenta as consequências da violência de que foi vítima, com dores pelo corpo.

Abaixo, você confere mais informações sobre passeios promovidos pelo Bora Preservar.

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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife

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