Não dá para calar. A julgar por números que vêm sendo divulgados, o “mito” que o Capitão tentou construir em torno de si mesmo começa a derreter. Se forem somadas as avaliações de regular, ruim e péssimo da pesquisa da Datafolha, nesta semana, o percentual dos insatisfeitos chega a 75 por cento. Tem mais. Se a eleição fosse hoje, segundo as pesquisas, o Presidente Jair Bolsonaro teria 23 por cento dos votos contra 41 por cento do ex-Presidente Lula. Acuado, ele começa a cuspir fogo e já está convocando seus apoiadores para a Marcha da Família Cristã pela Liberdade, bem ao estilo da antiga TFP.
É provável que os números divulgados nesses dias piorem mais ainda mais, nas próximas rodaadas. Pois além da CPI da Covid, as contradições entre o discurso e a prática estão cada vez mais frequentes. Enquanto o Governo anuncia que não haverá censo do IBGE porque não tem dinheiro e há universidade federal quase fechando as portas por falta de verbas, acaba de ser autorizado um aumento de salário para Bozó, seus ministros e militares que exercem cargos comissionados. O aumento pode ser até legal, mas é ético? Ainda mais em um momento desse, em plena pandemia, com grande parte da população mendigando o auxílio emergencial e voltando a usar lenha na cozinha porque não tem dinheiro para comprar gás que, cujo bojão segundo o discurso de campanha não custaria mais de R$ 39 quando ele fosse eleito
Sem o censo – que tradicionalmente é realizado a cada década – o país fica no escuro, dificultando o planejamento de políticas públicas. Mas pelo que parece, o governo prefere ignorar essa radiografia, porque a situação social se agravou tanto que divulgar esse retrato real pode dificultar mais ainda os seus planos para a sucessão de 2022. Mostrar o quê? Tem mais, apesar do discurso “moralizador”, a imprensa nacional divulgou nesta semana que Bozó destinou um “orçamento secreto” – o chamado “tratoraço”- de R$ 3 bilhões para contemplar aliados no Congresso Nacional.
Para completar, a cada dia o meio ambiente leva mais um golpe, o que vem colocando o Brasil muito mal lá fora. E a CPI da Covid está incomodando tanto o Planalto, que o Presidente já convocou até manifestação contra a comissão, no final de semana. Deverá ser uma daqueles aglomerações (não recomendáveis em tempos de pandemia), nas quais ele aparece sem máscara (contrariando as recomendações científicas adotadas em todo o mundo). Na imprensa internacional (foto central), as referências à forma como o Brasil conduz a pandemia transformou-se em humor negro. Na CPI, há muitas perguntas ainda sem respostas, envolvendo intervenções e iniciativas que vão da irresponsável tentativa de mudança de bula da cloroquina à presença de um vereador, nas decisões do Planalto. No caso, Carlos Bolsonaro, filho do homem. “Ganha” um “jacaré” quem responder às questões abaixo:
- Por que o governo tentou mudar indevidamente a bula da cloroquina, remédio sem comprovação científica contra a Covid, mas que resolveu indicar para “tratamento precoce” contra a pandemia? A revelação, da maior gravidade, foi feita pelo ex-Ministro da Saúde, Henrique Mandetta, à CPI . E foi ratificada pelo Presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres. Este disse, inclusive, que barrou tal iniciativa. Também falta explicar porque o Exército deixou de produzir remédios para evitar rejeição em pacientes com órgãos transplantados, para ceder espaço para a fabricação de cloroquina. Sem aquele medicamento, quem fez transplante de órgãos como rins e coração pode até morrer.
- Por que o Brasil deixou sem resposta seis correspondências da Pfizer para a compra de vacinas contra a Covid-19?
- Porque só para o Brasil as cláusulas exigidas pela Pfizer foram consideradas “leoninas”
- O que fazia o vereador Carlos Bolsonaro em Brasília, em reunião para resolver se seriam ou não compradas as vacinas da Pfizer?
- O que um Secretário de Comunicação, no caso Fábio Wajngarten, tem a ver com a compra de vacinas? Porque ele entrou na negociação? E por que ele negou, na CPI, que o vereador Carlos Bolsonaro esteve na reunião em que se decidiria pela compra das doses da Pfizer?
- Por que o ex Ministro Eduardo Pazuello quer ficar calado na CPI?
Por que Bolsonaro começou a fazer campanha contra o trabalho da CPI? Qual a razão do negacionismo?
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife
Muito precipitado essa pesquisa datafolha. A história e a política brasileira mostra que o jogo só começa próximo as eleições, em 2014, após os levantes e manifestações de 2013 Dilma Rousseff perdia a eleição. Em 2014 ganhou forma apertada contra o Aécio graças ao marketing muito bem elaborado pelo João Santana. Eu particularmente ainda acredito no surgimento de uma terceira via que possa se opor aos dois extremos da extrema direita reacionária com Bolsonaro e a extrema esquerda corrupta do Lula.
Muita gente torcendo por isso, Rogério!