Desmatamento na Bacia do São Francisco cresce e rio perde metade de sua superfície natural

Assim, não dá. Os desmatamentos já mostram consequências na Amazônia, onde os rios nunca atingiram níveis tão baixos, como vem ocorrendo em 2023. Pelo menos é o que testemunham os moradores mais antigos. Na Bacia do São Francisco, os alertas de desmatamento aumentaram 546 por cento nos últimos quatro anos, segundo levantamento do MapBiomas. Em números absolutos, isso significa que 638.338 hectares foram devastados pela motosserra insana no período investigado. Tem mais. Em 38 anos, o Velho Chico já perdeu 50 por cento de sua superfície natural, conforme já havia divulgado antes o próprio MapBiomas. Triste, não é?

O levantamento do MapBiomas sobre destruição de matas nativas mostra uma perda de vegetação equivalente ao município de Juazeiro (BA). Ou a 639.338 campos de futebol.  Isso, entre 2019 e 2022. Dá para imaginar a dimensão do estrago? A região do Submédio São Francisco onde fica Juazeiro, aliás, registrou o maior aumento na quantidade de alertas de desmatamento. Veja os números: os alertas subiram de apenas oito em 2019, para 2.359 em 2022. No mesmo período (2019 a 2022), a área de sistemas de irrigação implantados creceu de 615.815 para 728.949 ha, um incremento de 18%.

A região do Submédio tem 59% de sua área em Pernambuco, 40% na Bahia e 1% em Alagoas. Portanto, esse pedaço do Nordeste pode ser considerado o mais prejudicado. No século passado, o cientista Vasconcelos Sobrinho já alertava que o Rio São Francisco estava “secando”. Imaginem se ele visse hoje essa situação, com números apurados com os recursos mais exatos devido ao avanço da ciência. O que não diria o ambientalista, ao ver a região ficando careca? Como se sabe, no Submédio ficam cidades como Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) , em área conhecida como a “Califórnia Brasileira”, devido ao plantio industrial de frutas para exportação. “Os números relativos à perda de vegetação são proporcionais ao incremento dos sistemas de irrigação na Bacia do São Francisco, evidenciando a conversão da vegetação nativa em área agrícola como uma das principais causas do desmatamento”. Ou seja, o agronegócio não está zelando pela natureza. Cadê a conservação obrigatória e legal de matas nativas em projetos agrícolas?

“Os dados obtidos pelo MapBiomas no mês em que o Rio São Francisco completa 522 anos do seu mais notório registro histórico – feito pelo navegador italiano a serviço de Portugal Américo Vespúcio (1451-1512) em 4 de outubro de 1501 – são um alerta para a necessidade de revitalização da maior bacia hidrográfica do Nordeste”, informa o MapBiomas, que ainda enfrenta despejo de esgoto em muitos dos seus trechos. Outro problema. Como se não bastasse o desmatamento, a maior parte da água do Rio São Francisco não está mais no seu leito, e sim em hidrelétricas, reservatórios e até mineradoras.  Além disso, outra quantidade i-men-sa vai para  irrigação. Descontando essas intervenções humanas, o rio perdeu metade da superfície natural de água desde 1985, como mostrou estudo do MapBiomas divulgado no ano passado, em parceria com o Nordeste Potência. “O Velho Chico tem sofrido com intensa exploração de seus recursos naturais. Os usos múltiplos da água e do solo da bacia são muito maiores do que a capacidade de recuperação natural, então precisamos urgentemente investir em sua revitalização”, afirma a analista política do Plano Nordeste Potência, Fabiana Couto.

Resta saber até quando o Velho Chico vai suportar tanta exploração e maus tratos. Até quando?

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto:Plano Nordeste /MapBiomas

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