Jornalista, sacerdote da Ordem Carmelita, e político que participou ativamente da Revolução Pernambucana (1817) e da Confederação do Equador (1824), ele terminou como mártir dos movimentos libertários que agitavam Pernambuco no século 19. Hoje, Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo – o famoso Frei Caneca (1779-1825) – integra não só os livros de história como o nosso imaginário coletivo. Pela sua coragem, coerência, insurgência e também pela admiração que conquistou dos seus contemporâneos. Até porque não são muitos os líderes de movimentos populares condenados à forca que, como ele, motivaram uma outra “rebelião” na cara das autoridades de então: seus carrascos se negaram a enforcá-lo. Embora depois tenha sido executado, pela sua “subversão”. Aliás, justas e então necessárias “subversões”. Hoje ele é reconhecido como nosso mais aclamado herói em Pernambuco.
Por tudo isso, Frei Caneca atrai turistas e curiosos a locais como o Forte das Cinco Pontas (onde foi executado) e o Pátio do Terço (em cuja igreja, estão as vestes que usou no caminho à Forca). No último domingo, o revolucionário fazia parte de dois roteiros turísticos: um pelo Projeto Olha! Recife (Circuito Frei Caneca), e o das Caminhadas Domingueiras, que explorava no domingo o Bairro de São José. Surpresa !… E para lá de desagradável. Roubaram tudo: a placa de bronze e a estátua, aliás, o busto do nosso herói. O Olha! Recife é o programa de sensibilização turística da própria Prefeitura que, pelo visto, desconhecia o furto. Pois o busto que foi levado chegou a ser usado na arte de divulgação do passeio ofertado gratuitamente pelo poder público. Já o Caminhadas Domingueiras é articulado pelo urbanista, arquiteto e consultor Francisco Cunha (foto acima, de chapéu, ao lado do monumento pilhado). Como consultor, ele é um dos colaboradores do Recentro, iniciativa oficial que pretende revitalizar bairros de Santo Antônio e São José. Pelo visto, no entanto, falta muito para chegar lá. Inclusive no quesito segurança.
“Desse jeito, não vai restar uma estátua nem uma placa de bronze do Recife. Estive aqui há poucos dias, e o busto de Frei Caneca estava no local”, desabafou o guia do Caminhadas Domingueiras, ao chegar lá. Mais de cem pessoas estiveram no local com o grupo, no último domingo. Na véspera, o companheiro de caminhada Emanoel Correia, do Grupo Bora Preservar, já tinha me enviado o alerta sobre o furto mais recente da cidade. Até me indagou se as peças haviam sido retiradas para restauro. Os turistas que seguiam o Olha! Recife, que iriam ali ouvir a história do nosso herói, ficaram a ver navios no mesmo dia. A pilhagem, no entanto, não é a única, no bairro de São José. Alvo de curiosidade da população e de turistas como a menor do Recife, a Praça da Restauração ou do Pirulito – como é popularmente conhecida – também foi pilhada. Levaram a placa de bronze do seu obelisco, na Rua do Jardim. O placa indicava a importância do local onde houve rendição dos holandeses no século 17.
Ali, segundo o livro Monumentos do Recife (Rubem Franca), o General Francisco Barreto teria recebido dos “invasores, capitulados na véspera, as chaves do Recife”. Informa ele ainda, que há no local “o obelisco, de dois metros de altura, cercado por pés de macaíba numa pracinha circular”. Ainda bem que o obelisco é de concreto, pois se fosse de ferro ou bronze já teria sumido, como a estátua de Frei Caneca, as placas de monumentos e pontes do Recife.
De furtos gigantescos não escaparam nem mesmo as obras de arte do Parque de Esculturas Francisco Brennand, em frente ao Marco Zero e que era um dos locais mais procurados do Centro por turistas. Ali foram levadas – nas barbas do governo e da Prefeitura – nada menos de 65 das 79. peças. E algumas eram de grandes dimensões, como a serpente que tinha mais de 20 metros de comprimento. Dá para entender? Os trabalhos de reposição de peças furtadas vão custar somente R$ 5,5 milhões aos cofres públicos. O seu, o meu, o nosso dinheiro. E amanhã tem mais, aqui no Blog. O #OxeRecife não se cansa de defender os interesses da cidade e sua gente!
Veja a nota da Emlurb, enviada ao #OxeRecife sobre as providências tomadas para reparar as perdas no Bairro de São José
A Emlurb lamenta o furto das peças e informa que registrou um Boletim de Ocorrência junto à polícia. Os atos de vandalismo causam prejuízos enormes para a administração municipal. Somente para recuperar monumentos, pontes e edificações públicas que sofreram ações de pichação e vandalismo, a Prefeitura do Recife chega a gastar mais de R$ 2 milhões por ano. Para se ter ideia da gravidade do comportamento destrutivo e irresponsável para toda a sociedade, esse montante seria o suficiente para construir duas Upinhas por ano. Ou ainda construir uma escola padrão, bem como duas creches. O valor seria ainda suficiente para a implantação de cerca de 1.700 novos pontos de iluminação em LED, ou ser utilizado na requalificação de cerca de 20 escadarias com inclusão de corrimão. Por isso, a gestão municipal conta com o apoio da população na manutenção do patrimônio público. Para denúncias e sugestões, a Emlurb disponibiliza o número 156.
Abaixo, você confere outras pilhagens na cidade e também informações sobre as Caminhadas Domingueiras, by Francisco Cunha.
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Texto e fotos: Letícia Lins/ #OxeRecife
o Recife está ao Deus dara, faz tempo, toda pichada, urinada, defecada, não é culpando ou transferindo a omissão para a sociedade que o problema vai ser resolvido, assim é fácil, quem não tiver competencia pra resolver os problemas da cidade inclusive de simples manutenção, que não se habilite, respeitem o Recife